Ainda me pergunto se foi uma boa estratégia a seguida pelo gerente geral do Montreal Canadiens, Bob Gainey, no último dia-limite de trocas.

Afinal, os Canadiens vêm com um bela campanha este ano. Uma das melhores dos últimos anos. Então, por que, a esta altura do campeonato, dispensar o goleiro titular Cristobal Huet em troca de uma bela posição no recrutamento de 2009?

Não deixa de ser um investimento de alto risco. Talvez Gainey esteja estudando Economia e tenha lido o capítulo sobre Economia Intertemporal, onde as famílias decidem abrir mão do consumo presente, visando um maior consumo futuro (ou vice-versa)... quem sabe?

Mas quem der de cara com o artigo de Al Strachan, presente nas páginas desta edição Sloteana, verá que muitos dos times que conseguiram ficar com as melhores posições nas primeiras rodadas dos últimos oito recrutamentos são justamente aqueles que acumularam campanhas mais do que modestas.

E não deixa de ser curioso o fato de que nessa lista de Strachan os Canadiens estão em quinto. Ou seja, mesmo com boas posições nos últimos recrutamentos, o clube canadense ainda não conseguiu montar aquele time que dê ao torcedor dos Habs a segurança, já no início da temporada, de que sua equipe de fato lutará pela Copa Stanley.

Como já tinha ficado bem claro, a estratégia principal de Gainey no dia-limite era tentar trazer Marian Hossa, o ótimo ponta-direita do Atlanta Thrashers. Mas, segundo o GG do clube canadense, os Thrashers pediram alto pelo seu jogador. Boatos dizem que, para trocar Hossa, o time de Atlanta queria que os Canadiens abrissem mão do seu ponta Christopher Higgins, uma das peças-chave do time de Quebec, como colocou Bill Beacon em sua coluna no TorontoSun.com.

"Estou desapontado. Pensei que seríamos capazes de criar um bom pacote para oferecer a um time que tivesse um daqueles jogadores de impacto. Mas eles decidiram seguir por caminhos diferentes," lamentou Gainey.

Uma vez fora da disputa, os Canadiens viram o Atlanta encontrar no Pittsburgh Penguins o parceiro ideal para fazer a troca por Hossa.

Mas o GG do Montreal ainda conseguiu encontrar uma razão para não ficar tão pessimista, quando disse: "Honestamente, se tivéssemos feito a troca que o Atlanta queria, eu estaria com um problema bem maior do que o de agora."

Aliás, outro ponto que Gainey pode usar para justificar a saída de Huet é que o goleiro francês, que tem um salário de US$ 2,75 milhões, será agente livre já no próximo verão. Seria como adiantar um problema futuro.

Além disso, Huet já havia deixado no ar que nenhum dirigente do tricolor canadense havia mostrado interesse em discutir uma extensão do seu contrato. Para o atual titular das redes do Montreal, deveria estar subentendido que a direção dos Habs tinha outros planos para o gol do clube do Bell Centre.

"Eu esperava o inesperado, mas, quando recebi a notícia, fiquei um pouco chocado. Tive três ótimos anos aqui. É uma organização de primeira linha. Não posso reclamar de nada. Perderei tudo isso, mas é hora de arrumar as malas e encarar um novo desafio," disse Huet.

Se uns dão adeus, outros começam a conhecer a responsabilidade de guardar as redes do gol "habitant" no Bell Centre.

Com a saída de Huet, a hora é de Carey Price e Jaroslav Halak mostrarem serviço. Halak, de 22 anos, já foi convocado do Hamilton, afiliado dos Canadiens na AHL, junto com o central Mikhail Grabovski, e já mostrou novamente as caras para os torcedores do tricolor, ainda que só no banco de reservas.

Mas é Carey Price a bola da vez. Selecionado pelo Montreal na primeira rodada do recrutamento de 2005, o jovem goleiro de apenas 20 anos de idade já começa a ouvir comparações de que ele poderá ser o novo Ken Dryden ou o novo Patrick Roy.

Aí você pergunta: "mas não é muita pressão para cima do garoto?" Bem, eu responderia: "Quer maior pressão do que defender o gol do maior vencedor da Copa Stanley e diante de uma das torcidas mais fanáticas de toda a NHL?"

De positivo para o lado de Price pesa o fato de, só esta temporada, já ter participado de 27 partidas, com média de 2,77 gols sofridos por jogo, aproveitamento de 91,1% nas defesas e 13 vitórias contra nove derrotas. Se comparado com os números de Huet (39 jogos; 2,55; 91,6% e 21-12), realmente Price não fica muito atrás.

Mas, sejamos sinceros, colocar a responsabilidade de carregar uma equipe que atualmente ocupa a quinta posição da Conferência Leste e que está apenas um ponto atrás do líder de sua divisão, nas costas de dois (ainda) jovens talentos é muito complicado. Ainda mais quando estamos tratando da NHL, onde pouquíssimas equipes com goleiros medianos ou inexperientes conseguem chegar ao título.

Para muitos ficou a sensação que Gainey e Cia. resolveram abrir mão da atual campanha para tentar uma maior sorte na próxima temporada, e que o Montreal continuará seguindo a mesma estratégia de seu passado recente: tentando arrumar a casa via recrutamento. Muito risco e, para piorar, pouco retorno.

Até cheguei a procurar, mas, infelizmente, não consegui encontrar nenhuma bola de cristal dentro do meu baú de velharias. Portanto, por que não tentar animar um pouco a "massa" de torcedores do tricolor de Montreal com alguns pontos positivos?

Vale a pena lembrar que, na última temporada, Price liderou o Hamilton Bulldogs no título da Copa Calder, o troféu da AHL, com impressionante média de 2,06 gols sofridos por jogo e 94,4% de defesas, além de tornar-se o mais jovem jogador a ganhar o Troféu Jack A. Butterfield, entregue ao jogador mais valioso dos playoffs da Copa Calder, com apenas 19 anos.

E Halak? Bom, o tcheco pouco participou nesta temporada da NHL, mas teve boas atuações como reserva de Huet no ano passado. O mais interessante é que, somando o tempo como jogadores profissionais dos dois "novos" goleiros, chegamos a apenas três anos (dois de Halak e um de Price). Só Huet sozinho tem seis.

Mas, otimismo de um lado, pessimismo de um outro, para os torcedores dos Canadiens só resta mesmo uma coisa: torcer muito em 2008 e talvez mais ainda em 2009. Façam vocês também as suas "escolhas intertemporais".

• Capa
• Editorial
• Prorrogação
• Uma lacuna preenchida. E as outras?
• De volta
• Paddock, você está demitido!
• Trocas e mais trocas
• O fim de uma era em Tampa Bay
• Os 50 de Sarajevo
• Retomando o caminho
• Tentando alugar a Copa
• Plano frustrado
• Vencedores e derrotados do dia-limite
• Irmãos de Sangue
• Dá pra acreditar nos Capitals?
• O preço da aposta em Price
• Sorte não muda só pelo recrutamento