Por: Humberto Fernandes

Don Waddell, gerente geral do Atlanta Thrashers, assistiu pacientemente a cada um dos grandes nomes disponíveis no mercado trocarem de time. Primeiro foi Brian Campbell, a caminho do San Jose Sharks, depois chegou a vez de Brad Richards, agora jogador do Dallas Stars. A cada mudança o sorriso de Waddell tornava-se mais explícito. Só ele ainda mantinha em suas mãos uma carta para a Copa Stanley.

Ele a segurou até os minutos finais do movimentado dia-limite de trocas, acreditando que assim o desespero dos compradores inflacionaria as propostas por Marian Hossa. Imagine pensar que o seu time pode estar a um jogador de distância da Copa Stanley. É tentador.

Então Waddell colheu os frutos de sua paciência quando o Pittsburgh Penguins decidiu apostar alto com uma proposta irrecusável. Dever cumprido, ponto final.

Agora vamos aos Penguins.

O Pittsburgh cedeu os atacantes Erik Christensen, Colby Armstrong, Angelo Esposito e a escolha de primeira rodada de 2008 por Hossa e o atacante Pascal Dupuis.

Christensen, central, tem 24 anos e marcou 20 pontos em 49 jogos nesta temporada. Sua especialidade são os gols nas disputas por pênaltis. Armstrong, 25, é ponta-direita e tem 24 pontos em 54 jogos, mesmo atuando em boa parte da temporada com Sidney Crosby ou Evgeni Malkin ao seu lado — e em várias noites com ambos. Já Esposito, selecionado na primeira rodada do último recrutamento, é apenas um prospecto de 19 anos.

Hossa, 29, é um dos matadores da liga e estava entre os jogadores mais desejados do dia. O ponta-direita eslovaco tem quase um ponto por jogo de média em sua carreira e nesta temporada marcou 26 gols e 56 pontos em 60 jogos. No entanto, nos playoffs ele nunca foi um fator decisivo, tendo apenas 13 gols e 35 pontos em 55 jogos. Dupuis tem 28 anos e marcou 15 pontos na temporada.

Dois fatores podem definir se esta troca será boa ou ruim para o Pittsburgh: a campanha nos playoffs deste ano e o desenvolvimento dos três jovens atacantes negociados. A primeira, imediatamente, a segunda, no médio prazo.

Se os Penguins forem campeões da Copa Stanley, esqueça todos os nomes envolvidos. Qualquer esforço é válido se a recompensa é o troféu máximo do hóquei. Se eles não alcançarem o triunfo, a análise combinará a campanha da equipe com a atuação de Hossa.

Em relação aos jogadores envolvidos, não parece que Christensen e Armstrong serão grandes atacantes na NHL. Eles ainda são jovens e têm um longo caminho pela frente, mas em três temporadas não inspiraram muita confiança. Esposito, por sua vez, é uma incógnita. O garoto sequer conheceu a AHL. Se ele causar impacto, será no longo prazo, não nos próximos três anos.

Há outro fator importante nesta análise. Hossa será agente livre irrestrito em julho, motivo de sua negociação pelo Atlanta. Waddell não convenceu o jogador a permanecer na franquia — leia-se: ele não pagou tanto quanto o atacante gostaria. Se os Penguins não ganharem a Copa e Hossa não assinar um novo contrato com a equipe, então o aluguel sairá muito caro.

A princípio essa é a hipótese mais provável. Não há tanta confiança no título dos Penguins, embora eles estejam entre os favoritos da Conferência Leste. Também não há espaço no orçamento para comportar Hossa e seus US$ 6 ou 7 milhões. Para 2008-09 mais de US$ 33 milhões já estão comprometidos e a equipe ainda terá muitos agentes livres para negociar, como Ryan Malone, Gary Roberts, Georges Laraque, Jarkko Ruutu, Brooks Orpik e Ty Conklin, todos irrestritos, e Marc-Andre Fleury, esse restrito e que deve requisitar um aumento considerável.

Neste sentido não ajudou muito a aquisição do defensor Hal Gill, negociado pelo Toronto Maple Leafs por duas escolhas no recrutamento, a de segunda rodada deste ano e a de quinta rodada do ano que vem. Gill tem outro ano de contrato por US$ 2,075 milhões. Ele que poderia ser um jogador de aluguel, sem que os Penguins se importassem com isso, empatará preciosos milhões do próximo orçamento.

Como se não bastasse, em 2009 expiram os contratos de Malkin e Jordan Staal. Espere para Malkin um salário parecido com o de Crosby (US$ 8,7 milhões por ano). Ou seja, a menos que os Penguins sejam o novo Tampa Bay Lightning, empatando todo o teto salarial em três ou quatro jogadores, não há a mínima possibilidade de Hossa permanecer em Pittsburgh, mesmo porque a escolha entre um craque e outro é óbvia, basta consultar a artilharia da temporada.

A passagem de Hossa pelos Penguins somente não terminará ao fim dos playoffs se ele aceitar um contrato de um ano apenas e com salário abaixo do que receberia liga afora.

Ainda há uma última observação sobre esta troca. Segundo os rumores, Ottawa Senators e Montreal Canadiens também fizeram boas propostas para adquirir Hossa. Ponha-se no lugar do gerente geral Ray Shero, assistindo aos dois maiores rivais da conferência se movimentando para levar o grande nome disponível no mercado. Ele simplesmente não tinha outra escolha, porque se Hossa estivesse em Ottawa ou Montreal, os Penguins não teriam a mínima chance de disputar a Copa.

Humberto Fernandes gostaria que a temporada tivesse no mínimo quatro dias-limites de troca.
Jamie Squire/Getty Images
Marian Hossa, matador puro, terá Sidney Crosby ao seu lado. Parceria que promete.
(XX/01/2008)
Bruce Bennett/Getty Images
Erik Christensen é especialista em marcar gols de pênalti — embora, nesta foto, tenha sido um contra-ataque.
(29/01/2008)
Gene J. Puskar/AP
Colby Armstrong era um dos jogadores mais populares em Pittsburgh e companheiro de quarto de Crosby.
(19/02/2008)
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Página publicada em 28 de fevereiro de 2008.