Por: Alexandre Giesbrecht

Diz a lenda que, nos anos 70, os dirigentes do Corinthians chamaram os do São Paulo para discutir uma negociação envolvendo Biro-Biro. Enquanto isso, outra pessoa ligada ao time do Tatuapé cuidava da contratação de Sócrates, então no Botafogo de Ribeirão Preto. Como resultado, o São Paulo ficou sem ambos os jogadores, enquanto o Corinthians melhorou seu elenco, que viria a conquistar os Campeonatos Paulistas de 1979, 1982 e 1983.

Conto essa história porque o que aconteceu na semana passada na NHL foi algo que me lembrou ao menos o começo da história. Os Canucks vinham negociando com Peter Forsberg até ele declarar que não voltaria à NHL nesta temporada. Não mais que de repente, o anúncio do Avalanche de que tinha assinado contrato com o atacante pegou o Vancouver de surpresa. Se isso vai levar algum título para Denver só o tempo dirá, mas as chances aumentaram bastante, ainda mais depois das aquisições do time no dia-limite de trocas, os defensores Adam Foote e Ruslan Salei.

Não dê muito crédito aos que vão falar que Forsberg está fora de forma: ele tem no currículo a temporada de 2001-02, quando ficou de fora da temporada regular e depois foi o artilheiro dos playoffs. Joe Sakic é o primeiro a lembrar-se disso: "Tenho certeza de que ele está pronto." É verdade que seu pé não está nas melhores condições, mas ao longo de sua carreira ele aprendeu a lidar com as muitas contusões que o assolaram.

Chegando aos Avs na véspera do dia-limite de trocas, é difícil não compará-lo às aquisições de outros times. A que melhor se encaixa em termos de impacto é a de Marián Hossa por parte dos Penguins. Ainda é cedo para medir quanto cada um influenciará seu time, mas o custo é uma goleada para o Colorado: enquanto Hossa custou uma futura e duas ex-escolhas de primeira rodada, além de um jogador de terceira linha, a de Forsberg custou talvez a cópia autenticada em um cartório, mais o custo de alguns telefonemas para a Suécia — o que via Skype é uma ninharia.

Há o salário, de US$ 1 milhão, mas, se os Panthers podem pagar a mesma quantia para Ville Peltonen, por que os Avs não podem fazer um investimento que tem uma probabilidade muito maior de dar um retorno de verdade? Isso sem falar no aviso que isso passa ao resto da NHL e à própria torcida do time, que tem deixado centenas de assentos vazios nos jogos do time, depois de anos e anos de estádios lotados.

O que assusta um pouco é justamente a falta de confiança de Forsberg em seu estado físico, o que o levou ao anúncio da semana passada de que não pretendia jogar em 2007-08 — não, ao contrário da história sobre a rivalidade paulistana, o anúncio de Forsberg não teve aparentemente nada a ver com qualquer teoria da conspiração. Até a segunda-feira, o mais provável é que o sueco fosse passar o resto da temporada recuperando-se de sua contusão.

"Sempre quis ser honesto com os times que me procuraram", conta. "Eu dizia: 'Se vocês quiserem seguir outra direção, vão em frente, por favor.' Eu não queria ser um fardo. Foi por isso que eu avisei [que não jogaria]."

Nem ele sabe em que estado ele se encontra e de quanto tempo precisa para voltar ao ritmo de jogo. Do mesmo jeito que eu aposto em um bom retorno, não dá para descartar um eventual fracasso. Não encaro como um fracasso se ele voltar e não for o jogador dominante que um dia foi. Não é isso que ele espera e certamente não é isso que o Avalanche espera. Ele chega para contribuir com alguns gols, mas também para compartilhar sua experiência com o núcleo jovem do time. Não espere que ele volte e seja o artilheiro dos playoffs.

Mas dá para esperar que ele seja uma das principais figuras do time nesse percurso.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, acaba de receber a caixa com os DVDs dos dez maiores jogos da história dos Penguins.
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Página publicada em 29 de fevereiro de 2008.