Por: Daniel Novais

Faltando apenas 18 jogos para o fim da temporada, o treinador do vice-campeão da última temporada é demitido.

O dia-limite de trocas aconteceu na véspera. Mas nenhuma aquisição que viesse no dia anterior poderia ser tão festejada pelos torcedores dos Senators como a que viria na quarta-feira à noite.

Após um conturbado ano de 2008, que culminou nas duas últimas acachapantes derrotas para duas equipes da mesma divisão dos Senators — Leafs e Bruins —, Bryan Murray se viu sem opção a não ser demitir seu pupilo John Paddock.

A passagem de Paddock pode ser resumida como uma verdadeira montanha russa desde a sua entrada como treinador do representante de Ottawa na NHL. Após um início de temporada devastador, que culminou em um retrospecto de 16-3 nas primeiras partidas, os Senators sofreram uma considerável queda de rendimento. Não à toa, o retrospecto dos Sens não consegue superar os 50% de aproveitamento de pontos se desconsiderados os 19 primeiros jogos.

A demissão vem na hora adequada — senão um pouco tarde. Desde que implementou seu "sistema" de jogo, Paddock não demonstrou capacidade para dirigir a linha que é, questionavelmente, a melhor da NHL. As outras linhas não apresentaram qualquer resultado sob sua gestão e a constante troca de jogadores entre linhas prejudicava qualquer chance de criar entrosamento entre os jogadores, além de confundir a todos de quais eram seus reais papéis. E mais: ele sobrecarregava a linha um, formada por Heatley, Spezza e Alfredsson.

Sob esta política, jogadores que eram especialistas em matar penalidades como Kelly e Vermette se misturaram com os outros jogadores. A equipe que entra no gelo em vantagem numérica não se repete por um jogo inteiro a quase dois meses.

Os maiores afetados por todos estes problemas foram, claramente, os goleiros. Sob a política de "vença e jogue a próxima partida", ambos os goleiros sucumbiram e apresentaram resultados medíocres, cada um por seus motivos particulares. Ray Emery, após a bela campanha da última temporada e uma cirurgia no pulso, não consegue voltar a apresentar os mesmos reflexos e movimentação da última temporada — muito disso se deve à falta de ritmo gerada pelo sistema de rotação. Gerber por sua vez continuará sendo sempre Gerber: um reserva de luxo, sobrepago, e do qual os Senators não vêem a hora de se livrar.

Muitos críticos consideraram a situação muito semelhante à ocorrida na última temporada com os Devils e a troca de Claude Julien por Lou Lamoriello. Pessoalmente, prefiro comparar essa mudança a outra, não ocorrida, mas na mesma temporada, nos Flames. Jim Playfair, treinador de absoluta confiança de Sutter mas com resultados no mínimo questionáveis, acabou mantido até o fim da temporada. O resultado foi uma equipe ex-finalista da Copa Stanley se tornando um mero coadjuvante nos playoffs.

Murray leva ainda uma vantagem sobre qualquer treinador que viesse a comandar os Senators até o fim da temporada: ele conhece esse elenco por completo já que, à exceção de algumas peças complementares, esse é exatamente o mesmo elenco que ficou a três jogos de conquistar a Copa Stanley na última temporada.

Ainda há tempo para Murray corrigir a trajetória dos favoritos Senators, mas exigirá uma disciplina e senso de urgência ainda maiores. Lembrando que o elenco dos Sens está envelhecendo, e a profundidade, antes tão aclamada em Ottawa, já não se mostra a mesma. Pode ser uma das últimas chances da geração de Redden, Alfredsson e Phillips de levar os Senators à glória máxima da NHL. O tempo não pára.

Daniel Novais é fã declarado dos Sens e já começou a rezar para que os Sens voltem às vitórias — especialmente no dia 1.º de abril (por motivo a ser divulgado).
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Página publicada em 28 de fevereiro de 2008.