Por: Eduardo Costa

O dia-limite de trocas é um dos pontos altos da temporada. Como o nobre leitor pode notar esta edição é quase inteiramente dedicada ao assunto. Apenas um cara de pau insensível poderia abordar um tema diferente. Então...

Grécia: o retorno do milênio!
Apesar da boa receptividade, a primeira Edição dos Campeões de TheSlot.com.br revelou algo profundamente doloroso e mórbido, e não estou falando de minha latente mediocridade redativa. Infelizmente, entre tantas ligas obscuras abordadas, a Grécia estava ausente. E não porque ignoramos o hóquei helênico, o que seria um crime inafiançável, e sim porque não poderíamos cobrir uma competição que sequer existe.

Isso mesmo, uma das nações mais importantes do planeta, lugar onde nasceu a justiça e liberdade individual, país que fez escola com sua arte, filosofia e ciência, não possui uma competição nacional. Brutal.

O hóquei no gelo sempre foi tratado com indiferença pelas entidades esportivas gregas. A seleção local só foi fazer sua estréia em competições oficiais em 1992, quando humilharam os rivais de sempre, os turcos, por 15-3 no grupo C2 do Mundial da África do Sul. Apesar do faraônico resultado, o apoio só diminuiu. Nem mesmo a inspirada atuação do goleiro Savvas Adamidis em solo africano serviu de alguma coisa. A situação foi ao extremo com a extinção (?) dos rinques de gelo no país em 2003.

Sendo assim um grupo de abnegados atletas tirava dinheiro do próprio bolso para se manter ativo, organizando viagens para atuar em países próximos, como Bulgária e Sérvia. Aparição oficial da seleção? A última datava do longínquo ano de 1999.

Até que duas grandes notícias fizeram todo o planeta hóquei transbordar de esperança. Primeiro veio a informação que um rinque para a prática do esporte será construído no país. Quando ainda recuperávamos do impacto dessa nova, a federação internacional, ciente que seu centenário seria incompleto sem a presença da Grécia, aceitou a participação helênica no torneio qualificatório para o grupo III (quarta divisão) do Mundial de 2008. Nunca tantas Heineken foram abertas quanto naquele dia 14 de setembro de 2007.

Ao mesmo tempo que ganhavam a oportunidade de representarem sua nação, os atletas perceberam que era preciso fazê-lo com excelência, como demanda o povo grego. Então, poucos meses depois o treinador Panagiotis Efkarpidis levava sua tropa para amistosos contra equipes da República Tcheca. Era preciso um intensivo para recuperar o tempo perdido.

O ideal seriam testes contra equipes do primeiro escalão, como Ceské Budejovice ou Sparta Praga. Bem, não deu. Então os adversários foram obscuros times amadores. Mesmo assim o placar combinado nos cinco embates foi um adverso de 52-17. Pode parecer um aproveitamento ridículo e desalentador, mas na verdade foi ridículo e desalentador. Espere, não faz sentido disser isso...

O fato é que era como começar do zero. Aquelas derrotas foram dolorosas, mas certamente mostrariam ao treinador Efkarpidis o real nível de seus comandados e o que era preciso fazer para não passar por vexames hercúleos em Sarajevo.

Oh, Bósnia!
A cidade de Sarajevo, na Bósnia e Herzegovina, foi escolhida para hospedar o qualificatório. Além de sua seleção local, Grécia e Armênia lutariam arduamente pela única vaga.

Vale lembrar que em 1984 essa mesmíssima cidade foi sede dos Jogos Olímpicos de Inverno e recebeu atletas como Chris Chelios, Kirk Miller, Vyacheslav Fetisov, Igor Larionov, Vladimír Ruzicka, entre outros. Agora era a vez de Petros Zhamkochyan, Nikolaos Papadopoulos e Emir Barakovac despejarem magia no gelo do Zetra Olympics Hall.

O triangular deveria começar com o embate entre gregos e armênios, mas a falta de organização desse últimos, que não apresentaram documentos que provassem a legitimidade (?) de seus atletas, fez com que a Grécia encarasse os anfitriões logo na estréia.

Se para os gregos era o primeiro jogo após longo hiato, para a Bósnia aquele jogo representou o primeiro jogo oficial de uma equipe adulta. Era a história sendo feita.

Igor Apostolidis abriu o placar para os gregos em um período inicial muito bruto, de muitas penalidades e poucos passes corretos. A vantagem grega durou até o início da segunda etapa, quando os bósnios capitalizaram uma vantagem de dois homens no gelo para empatar. Muamer Dzamalija foi o autor no gol histórico.

O tento de Dzamalija foi como um despertar para os gregos. Era preciso mostrar aos mais de três mil presentes na arena, e milhões ao redor do mundo, quem mandava. Nikolaos Papadopoulos, Alexandros Valsamas-Rallis e Lazaros Efkarpidis assim o fizeram, construindo uma vantagem de 4-1.

O período final foi usado para aumentar o saldo de gols. A indisciplina dos Bósnios ajudaram e a equipe de VN grega fez a festa. O treinador local até tentou evitar a goleada, trocando o titular Dino Pasovic por Amel Capin, mas foi inútil. Placar final: Grécia 10-1 Bósnia e Herzegovina. O show estava só começando!

Igor Apostolidis destrói a Armênia e o mundial é uma realidade!
Apesar de ter um hóquei de péssimo nível técnico, a Armênia era a mais experiente nação no qualificatório. Portanto, eram considerados os grandes favoritos. Esqueceram de dizer isso para o gênio Igor Apostolidis. Ele abriu o placar e, após Manuk Balyan empatar, recolocou sua seleção nos trilhos. A Armênia tentava azedar o Tzátzik grego e deixou tudo igual novamente. Mas Apostolidis resolver mostrar seu lado solidário e deu um tento de presente para Ioannis Koufis fazer o 3-2.

Georgios Kalyvas, Apostolidis (hat trick!) e Orestis Tilios alargaram a vantagem grega em mais um segundo período iluminado. O time pareceu acomodar-se com a vantagem e três gols armênios — Petros Zhamkochyan, Manuk Balyan e Artur Kechejyan — no início do período final, deram uma quota de sofrimento extra na partida.

O cansaço também era um fator — a Grécia atuava pela segunda noite consecutiva, enquanto os rivais estavam frescos (?!).

Mas, quando a pressão era brutal, o capitão Dimitrios Kalyvas e Nikolaos Papadopoulos, esse já com a rede adversária vazia, sacramentaram a vitória grega. Um sucesso presenciado por tão somente 50 pessoas. Coincidência? Claro que não!

O 8-5 tornou o duelo entre Bósnia e Armênia inútil. A vaga para o grupo III do mundial já era da Grécia.

E por falar no grupo III, é com prazer que divulgamos que TheSlot.com.br terá exclusividade na cobertura do evento para a América do Sul. Direito adquirido após árdua batalha com a Sportv, das organizações Globo, e com a emissora argentina Telefe.

De 31 de março a 6 de abril estaremos em Luxemburgo, onde a Grécia lutará contra os donos da casa, óbvio, além de Coréia do Norte, Mongólia, África do Sul e Turquia.

Grécia contra Turquia? Quem precisa dos playoffs da NHL...

Eduardo Costa é um humilde servo do filósofo Siphodemos!
Fonte: IceHockey.gr
Com a benção de Christos Kostas Tselios, essa é seleção grega que irá buscar a glória em Luxemburgo.
Aleksandar Kordic/IIHF
Kalyvas empala o sistema defensivo da Bósnia e Herzegovina.
Arquivo pessoal e íntimo de Papa Rizou I
Helena Paparizou já mandou um e-mail de apoio aos gregos. Faça como ela e envie o seu para goodluck@icehockey.gr.
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Página publicada em 28 de fevereiro de 2008.