San Jose Sharks com Brian Campbell, Anaheim Ducks com Marc-Andre Bergeron, Dallas Stars com Brad Richards, Washington Capitals com Cristobal Huet, Pittsburgh Penguins com Marian Hossa... no final das contas, o Dia-Limite de 2008 teve lá suas movimentações. Nenhuma, talvez, traga tanta alegria aos torcedores de uma franquia quanto as "novas" aquisições do Colorado Avalanche.
Quando as desavenças que levou a Liga ao seu segundo locaute na Era Bettman finalmente se resolveram, e tivemos um badalado recrutamento com a escolha nº1 de Sidney Crosby pelo Pittsburgh Penguins, o Colorado Avalanche se encontrou na condição de uma das franquias com folha salarial mais alta. O recém-implementado teto salarial obrigava o clube a realizar trocas para realizar seus gastos, ou então reduzir o salário das estrelas das equipes. Nessas transações dois filhos genuínos dos rinques de Denver tiveram de fazer as malas e se mudar: Adam Foote e Peter Forsberg.
Ambos defendiam a franquia há um bom tempo, desde a saudosa época do Quebec Nordiques, e jamais haviam vestido outras jérseis na NHL. Foote foi recrutado pelos Nords em 1989 e iniciou sua carreira profissional em 1992. E, sejamos justos, é um dos defensores que qualquer equipe sonharia em ter. Forte, com jogo físico e agressivo, mas nunca traiçoeiro, Foote é uma "sombra" perfeita a qualquer grande atacante da Liga, capaz de anular mesmo um Wayne Gretzky, Mario Lemieux ou Mike Modano em seus anos dourados. Talvez a cara de Denver ao lado de Joe Sakic, Foote foi peça fundamental na edificação do Colarado como uma franquia vencedora, sempre presente em finais de conferência e capaz de abocanhar duas Copas Stanleys, sendo a primeira em sua temporada de estréia na cidade estadunidense. Foote assinou com o Columbus Blue Jackets em 1º de agosto de 2005.
Voltou ao Colorado Avalanche no dia 26 de fevereiro, o dia-limite de trocas, com duas escolhas de recrutamento como moeda.
Querido de Örnsköldsvik a Denver
Peter Forsberg dispensa qualquer comentário. Não existe nenhuma palavra, frase, parágrafo, texto que eu possa dizer que resuma a classe deste central. Revelado pelo MoDo Hockey de Örnsköldsvik, sua cidade-natal na Suécia, Foppa foi recrutado originalmente pelo Philadelphia Flyers em 1991, um ano antes de encantar o mundo do hóquei em seu primeiro Campeonato Mundial conquistado pela Seleção Sueca. Mas foi graças ao choro de Eric Lindros, que recusou-se a jogar pelo Quebec, que Forsberg foi trocado e mandado para a franquia que se tornaria o Colorado Avalanche, onde faria história. Apontado pelo nosso colunista Eduardo Costa como o melhor jogador da NHL na era ESPN Brasil, Forsberg participou de sete Jogos das Estrelas, participou de duas campanhas vencedoras de Copas Stanley pelo Colorado e se coloca como melhor central da história da franquia ao lado de Joe Sakic e Peter Stastny. Se não tivesse sido tão judiado em sua carreira, sempre marcada por contusões, certamente Foppa, hoje com 34 anos, teria quebrado a barreira dos 1000 pontos. Vale lembrar que Peter Forsberg é também um herói nacional na Suécia,
pela conquista de dois Campeonatos Mundiais (o já citado 1992 e 1998) e dois ouros olímpicos (1994 e 2006). Aliás, com dois Campeonatos Mundiais, duas Copas Stanleys e dois Ouros Olímpicos, Peter Forsberg, além de fazer parte do seleto clube da Tríplice Coroa do Hóquei no Gelo é o único, ao lado de Slava Fetisov e Igor Larionov, a ter dois lugares de honra na lista de vencedores, por ter duplicado seus títulos.
Depois de mais uma passagem pelo MoDo, durante o locaute da NHL, Forsberg assinou com o Flyers em seu retorno à Liga. Foppa recusou uma oferta de US$13,5 milhões por quatro anos de contrato para "retornar" a Filadélfia em um contrato de US$11,5 por dois anos. Seria também uma oportunidade de defender o clube que o trouxe à NHL, e abriu mão dele para ter a infelicidade de contar com as contusões de Eric Lindros.
Suas duas temporadas incompletas num Philadelphia Flyers em crise foram regulares, e todos tinham consciência que sua troca era iminente. Toda a NHL se mobilizou por um lugarzinho para Forsberg, com até velhos rivais como o Detroit Red Wings demonstrando grande interesse. Pouco antes da data-limite de trocas em 2007, Foppa foi trocado pelo Nashville Predators. Sua passagem pelo Tennessee também não foi das mais brilhantes e o preço acabou saindo caro para os Preds. Ao final da temporada 2006-07, Forsberg era um agente livre na NHL. E aparentemente, ninguém estaria disposto a pagar o seu alto salário.
A temporada 2007-08 para Foppa viu uma cirurgia no pé direito, uma promessa de não jogar na NHL novamente, a não ser que fosse por um de seus ex-clubes, retornar para a Europa para defender o MoDo, jogar a Copa Karjala pela Seleção Sueca — o que acabou não acontecendo, por problemas no tornozelo. No final das contas, na véspera do dia-limite de trocas, o Colorado Avalanche anunciou o glorioso retorno de Peter Forsberg.
De volta ao lugar de onde jamais deveriam ter saído
Foote já fez sua re-estréia pelos Avs, na partida contra o Calgary Flames, no próprio dia 26 de fevereiro. Na volta de Foote, os Avs vinham de uma horrível seqüência de cinco derrotas, intercalada por uma vitória sobre o Phoenix Coyotes e uma nova derrota para o Edmonton Oilers. Foote chegou atrasado para a partida contra os Flames, por problemas em seu vôo de Columbus. Foi a única aquisição do Avalanche do dia-limite no rinque — Forsberg e Ruslan Salei, mais uma ótima aquisição para defesa, estavam marcados como scratches. Jogou por pouco mais de 18 minutos. Os Avs venceram por 3-2 na prorrogação.
Em sua segunda partida, nova vitória, sobre os Canucks, por 3-2, nos pênaltis. É a primeira vez que os Avs vencem duas seguidas desde 6 e 9 de fevereiro, quando bateu os Sharks por 3-1 e os Nux por 6-2.
Com os triunfos, os Avs retornaram à oitava colocação no Oeste, com o mesmo número de jogos e pontos que o Nashville, nono colocado, levando vantagem no número de vitórias. Dentre os oito primeiros colocados na Conferência, o Avalanche tem a pior defesa, sendo a quarta pior defesa do Oeste como um todo. E é a defesa que vem fazendo a diferença para Anaheim Ducks, San Jose Sharks e Vancouver Canucks. Ducks e Sharks, por sinal, reforçaram, e muito bem, sua retaguarda. Daí a importância da chegada de Foote e Salei, dois excelente defensores que podem ajudar na segurança do Colorado.
O atraque da franquia é bom, apesar de não ser dos melhores. Supera o dos três clubes citados acima, reforçando mais uma vez a diferença que uma boa defesa faz. Isso favorece a Forsberg, que não se torna tão exigido e pode jogar de acordo com o que seu físico agüentar.
Mais que teorias críticas a respeito da funcionalidade de Foote e Forsberg em Denver — isso chega a ser um detalhe, comparado à importância psicológica e emocional que o retorno dos dois traz ao Avalanche. A saída de ambos, em 2005, causou um grande baque no clube, e não é de se assustar que isso tenha contribuído para o rendimento regular nas últimas temporadas.
A sirene da temporada regular está para soar, e o Avalanche
luta contra o tempo para conseguir vaga na pós-temporada. Foote e Forsberg são o sangue que o coração de Denver bombeou por tantos anos, e impulsionou a franquia a diversas glórias. Talve seja esse sangue, correndo novamente nas veias, que faça a diferença que o Colorado tanto precisa.
Jeff Vinnick/Getty Images Forsberg, treinando com o Colorado Avalanche — clube ao qual ele pertence, definitivamente. (27/02/2008) |
Jeff McIntosh/AP Foote, sangrando pelo Avalanche. É assim que tem que ser. (26/02/2008) |