Difícil não vincular Brad Richards à maior conquista
da história do Tampa Bay Lightning.
Foi ele que manteve sua equipe viva nas séries contra
Philadelphia Flyers e Calgary Flames. Na finalíssima
da Stanley, contra a equipe de Alberta, marcou o único
gol da quarta partida, impedindo que os Flames
abrissem 3-1 na série, uma desvantagem deveras brutal.
Ele apareceria novamente no jogo seis, marcando dois
tentos fundamentais para que existisse uma sétima
partida a ser disputada do St. Pete Times Forum.
O final da história todos sabem. A Copa foi pela primeira
vez para a Flórida e, por seu brilho naquela
pós-temporada, Richards acabou imortalizado como o
vencedor do Troféu Conn Smythe de 2004.
Mas o tempo, aliado a realidade do teto salarial, pode
ser cruel. Tampa arriscou ao dar aos seus três ases
ofensivos, Vincent Lecavalier, Richards e Martin St.
Louis, felpudos contratos. Esse risco acabou não
rendendo dividendos para a franquia.
Desde que assinou por cinco anos, recebendo módicos
US$ 7,8 milhões por cada um deles, Richards mergulhou
fundo nas águas turvas e burocráticas da
inconsistência, com produção desproporcional ao alto
saldo. Nos dois primeiros anos desse contrato, o
atleta acumulou -54 no +/-.
Recentemente o time fez o mesmo com o defensor Dan Boyle, a peça mais sólida do setor. Foi dado a Boyle
um contrato de seis anos, com valor agregado de US$ 40
milhões. Com isso se tornou imperativo um corte
substancial. Algum dos três ídolos máximos da franquia
teria que sair. A escolha óbvia seria Richards.
Enquanto isso, no Oeste, o Dallas Stars, time mais
quente da conferência no momento, buscava alguma peça
valiosa para sua engrenagem. As lembranças da
ineficiência ofensiva contra os Canucks nos últimos
playoffs ainda estão bem vivas para os membros alta
cúpula da equipe texana.
Para não faltar gás novamente, a franquia, munida de
um bom pacote de atletas e uma grande parcela de
desespero, acabou batendo na porta do gerente geral
dos Bolts, Jay Feaster.
O Tampa Bay, além de aliviar sua folha salarial,
recebeu o especialista em cobranças de pênaltis
Jussi Jokinen, que deve ter espaço em uma das duas
principais linhas do time. De Dallas também chegou o
veterano central Jeff Halpern. A parte mais atrativa
do pacote para os Bolts é Mike Smith, um goleiro que
sempre apareceu bem nas poucas chances que teve nos
Stars. Smith será mais um a tentar resolver um
problema que perdura em Tampa Bay desde a saída de
Khabibulin para os Blackhawks em 2005. Certamente não
era o nome mais desejado pela torcida dos Bolts — que
chegou a sonhar com Turco —, mas é melhor do que nada
(Marc Denis).
Para a vaga de Smith os Stars agora possuem Johan
Holmqvist, que, felizmente para a torcida dos Stars,
esquentará banco para Turco. Além do supracitado
Richards.
Richards é um central bem mais durável e dono de um
histórico bem mais rico em jogos de pós-temporada que
Mike Ribeiro, o destaque ofensivo dos Stars, que, fiel
aos ensinamentos do extinto mágico Harry Houdini,
costuma desaparecer na hora H.
Outro atleta da posição, Mike Modano, apesar de ainda
ser a face da franquia, já está, infelizmente, em
curva descendente na carreira. Em suma, Richards
chegará para consumir muitos minutos de gelo por
partida.
Muitos estão corretos em afirmar que os Stars poderiam
conseguir algo melhor, em especial por esse valor, na entressafra, mas se trata de uma equipe que
deseja vencer agora. Por isso, adicionar Richards é o
risco que os Stars tinham mesmo que correr para se
tornar um real candidato a Copa Stanley de 2008.
A primeira estrela em Dallas
Pense em uma noite perfeita.
Ana Hickmann e Heineken? Boas escolhas. Mas não é
disso que estou falando. Pense em uma noite perfeita
para quem inicia um ciclo na NHL.
Que tal pontuar já em seu segundo turno e estabelecer
alguns recordes pessoais e da franquia, ao contribuir
com cinco assistências em uma vitória por 7-4 sobre o
Chicago Blackhawks?
Pois foi esse o cartão de visitas de Brad Richards, em
seu debut com a camisa do Dallas Stars.
Nem o mais otimista torcedor da equipe texana poderia
prever uma atuação tão produtiva. Provavelmente o
treinador Dave Tippett, que usou o novo reforço até
mesmo na primeira linha de sua equipe de vantagem
numérica, também não.
Agora usando o n.º 91, já que o 19 está aposentado
pela franquia, em homenagem ao extinto Bill Masterton,
Richards pela primeira vez anotou cinco pontos em um
jogo. Esses cinco passes para gols também era algo
inédito para a franquia desde que ela se mudou de
Minnesota para o Texas.
E ninguém aproveitou melhor os 19:16 minutos em que o
ex-Bolts permaneceu no gelo da American Airlines Arena
do que o finlandês Niklas Hagman, que foi para casa
com os discos de seu primeiro hat trick na mais
prestigiosa das ligas de hóquei.
Seria insano esperar que todos os jogos no horizonte
terminarão com êxito parecido para Richards, mas o
homem de US$ 7,8 milhões, pelo menos em sua primeira
impressão, justificou o arriscado investimento.
Já na Flórida...
Tampa Bay Lightning segue firme em sua jornada rumo ao
fundo do poço da liga. Contra o Minnesota Wild o time
chegou à sua quinta derrota consecutiva. Também viu o
treinador John Tortorella chutar o balde, ao criticar,
severamente, alguns atletas em plena coletiva
pós-jogo.
Pelo menos poupou as novas faces da organização.
A estréia mais esperada era a de Mike Smith.
Assumidamente nervoso pelo desafio, o goleiro chegou a
roubar a cena ao parar Marian Gaborik em dois contra-ataques, geralmente mortais quando conduzidos
pelo eslovaco. Mas no cômputo geral, Smith não
empolgou os que compareceram ao St. Pete Times Forum.
Smith, porém, passou longe de ser o vilão de mais um
insucesso de sua nova equipe. Três chutes de um total
de 30 acabaram passando por ele.
Jeff Halpern, curiosamente o que menos empolgou a
torcida assim que a troca foi divulgada, foi o
destaque entre os ex-Stars. Conhecido por seu estilo
combatente, ele teve participação nos dois gols dos
Bolts, marcando um deles. O terceiro elemento, Jussi
Jokinen não foi um fator, mesmo sendo centrado em boa
parte do tempo por Vincent Lecavalier.
LM Otero/AP O co-gerente geral Brett Hull, orgulhoso, apresenta a peça que faltava aos Stars. (27/02/2008) |