Coventry Blaze
Lord Stanley de Preston bem que poderia ter dado uma mão aos seus compatriotas britânicos, assim como fez com os canadenses há mais de 110 anos. Talvez se o fizesse, o hóquei na ilha poderia estar em um patamar que beirasse o decente. O melhor esporte de que sem notícia sofre com o descaso da imprensa, com a indiferença da população e com a falta de patrocínios na Grã-Bretanha.
Felizmente, mesmo com esses infortúnios, há bolsões hoqueísticos em território bretão. Cidades como Cardiff, Basingstoke, Coventry, Sheffield e Nottingham são familiares aos jogos de hóquei sobre o gelo há décadas, e hoje são os pilares dos principais torneios do país.
A EIHL é a mais importante competição britânica. Uma liga com dez participantes, onde quem somar mais pontos, obviamente, fica com o troféu. Após o término dessa, é disputada uma pós-temporada, mas, ao contrário de outras ligas, ser o campeão temporada regular é bem mais valorizado do que vencer os playoffs. Ainda existe uma terceira competição em grau de importância, a Challenge Cup.
Sete dos times que compõe a EIHL são ingleses. Além deles, há uma equipe da Irlanda do Norte (Belfast Giants), uma do País de Gales (Cardiff Devils) e uma da Escócia (Edinburgh Capitals). O Belfast Giants talvez seja a mais conhecida no leitor da TheSlot.com.br, já que esse time ganhou boa visibilidade ao contratar o talentoso e problemático Theo Fleury no início da década.
O mais tradicional, porém, é o Nottingham Panthers, fundado em 1946. Seria complicado afirmar que essa equipe também é a maior vencedora de campeonatos nacionais, já que seriam necessárias várias semanas para colocar no papel todos os torneios que já existiram na Grã-Bretanha. A esperança é que a EIHL dure bem mais do que os outros — a Elite League em breve iniciará sua quinta edição.
A maior rivalidade do hóquei local é entre Nottingham e Sheffield Steelers. É comum vermos casas cheias, tanto no belo National Ice Centre de Nottingham, quanto na Hallam FM Arena de Sheffield — maior do país para a prática do hóquei sobre o gelo, com capacidade para 8.500 pessoas. Com a chegada do Hull Stingrays, em seu primeiro ano na EIHL, os Steelers ganham um novo rival em potencial, já que a equipe novata também fica na região de Yorkshire.
Embates entre os escoceses do Edinburgh Capitals e os galeses Cardiff Devils também são sempre repletos de brigas e lances ríspidos.
A grande história da temporada foi o retorno do Manchester Phoenix à Elite League. Após a extinção do Manchester Storm, que chegou a ser um dos times com melhor média de público no continente, os fãs de hóquei da cidade foram a luta para voltar a ter um time disputando a EIHL. Essa lacuna foi preenchida pelo Manchester Phoenix, que ganhou esse nome em alusão ao renascimento do hóquei na cidade. Após uma temporada apenas, o time teve que encerrar suas atividades para construir uma arena. Com a finalmente saindo do papel Altrincham Ice Dome, o time também ressurgiu.
Buscando um retorno marcado por vitórias, Manchester foi até a ECHL buscar seis reforços. Além dos norte-americanos, chegou Johan Molin, atacante que militava no hóquei italiano, e o tcheco Davi Vychodil, que estava no Metallurg Serov, clube da terceira divisão russa. Com essas adições, o time até que foi bem, terminando em uma honrosa sexta posição.
Hull, o outro debutante na EIHL, não teve um desempenho parecido. O clube contratou cinco ucranianos, o mesmo número de canadenses e um goleiro eslovaco. Mas sua campanha de 18 vitórias e 36 derrotas só não foi pior do que o aproveitamento do Edinburgh Capitals. O time da capital escocesa, comemorando uma década de existência, viu como um medíocre sistema defensivo conseguiu anular a boa tarefa de seus atacantes. Os lituanos Dainius Bauba e Darius Pliskauskas, renderam bem, mas a equipe acabou sofrendo 224 tentos — por muito, a retaguarda mais violada da competição.
Cardiff (3.º), Sheffield (4.º) e Nottingham (5.º) fizeram campanha parecidas, com três pontos separando o time galês dos Panthers. O topo da tabela foi morada para Coventry Blaze e Belfast Giants na maior parte da temporada. Os irlandeses no norte contaram com uma bela produção do trio canadense Jason Ruff, Mark Dutiaume e Jeff Hutchins. Mas perderam fôlego quando não podia. O Coventry, pelo contrário, subiu de produção na reta final, garantindo seu segundo título nacional em três anos.
Como todo bom time começa por um bom goleiro, Coventry foi até Newcastle tirar o canadense Trevor Koenig dos Vipers. O setor defensivo também ganharia a experiência de Reid Simonton, que estava no Herning Blue Fox da Dinamarca. Do Jesenice esloveno viria o mais famoso atleta do elenco: o orgulho da Nigéria, o terror de Zaria, Rumun Ndur. O ex-jogador de Rangers e Sabres foi uma das peças mais importantes na campanha vitoriosa do time de Midlands — em terra de cego...
Outro jogador com passagem pela NHL, que fez parte da conquista, foi Sylvain Cloutier, mas ele teve um papel de coadjuvante em um ataque que teve como destaques Adam Calder, Dan Carlson, Barrie Moore e o capitão Ashley Tait.
O título chegaria com algumas rodadas de antecipação. Bastava vencer o fraco Edinburgh Capitals na Skydome Arena.
O goleiro britânico Stephen Murphy até segurou o ímpeto inicial dos donos da casa, mas após Barrie Moore aproveitar uma vantagem numérica e abrir o placar, a coisa ficou feia para os escoceses. Ainda no período inicial, e também aproveitando uma VN, o canadense Adam Calder marcou seu 34.º tento na temporada.
Dainius Bauba, lituano matador, colocou um tempero no cortejo ao diminuir a vantagem do Coventry. Mas o abismo técnico ficaria evidente no 2.° período, quando Dan Carlson, Neal Martin e Tom Watkins aumentaram a diferença para 5-1. Stephen Murphy, que teve que encarar 56 chutes na noite, só teve tranqüilidade no período final, quando o Coventry diminuiu o ritmo, já se preparando para a festa do título.
No meio dos festejos, Reid Simonton, um dos arquitetos da conquista, disse que aquela seria sua última temporada. Ao vencer a EIHL, ele se retiraria no topo. Já Ndur repetia o feito de outro atleta rústico, Wade Belak — na temporada do grande locaute da NHL, o atleta do Toronto Maple Leafs acabou na liga inglesa, onde fez parte do time do Coventry, campeão de 2005.
Challenge Cup
O Coventry Blaze, semanas antes de se sagrar campeão da EIHL, havia conquistado também a Challenge Cup (espécie de copa da liga inglesa). O sistema de disputa desse torneio é bem similar ao do futebol: duas partidas, em caso de as equipes obterem o mesmo número de pontos, vale o saldo de gols como critério de desempate.
Nas semifinais, Coventry abriu uma bela vantagem após a goleada de 4-1 sobre o Manchester na Skydome Arena. Restava ao Phoenix vencer por três gols no Deeside Leisure Centre para forçar uma prorrogação. Não aconteceu. Empate de 2-2, e Manchester fora das finais
O outro emparelhamento também reunia um time tradicional e um novato. Sheffield e Hull, respectivamente. O novo clássico de Yorkshire foi bem disputado, mas a experiência dos Steelers fez a diferença. Eles venceram o jogo de ida, em casa, por 5-3, e o da volta, na Hull Ice Arena, por 1-0.
Sheffield foi para Coventry confiante em conseguir pelo menos um empate na abertura da finalíssima. Saiu derrotado por 4-3. Mesmo assim, um resultado perfeitamente reversível. Mas Ndur & Cia guardaram o melhor para uma lotada Hallam FM Arena. Coventry impôs um superlativo 5-1. Era só um aperitivo para a posterior conquista da EIHL.
Elenco campeão
Goleiros: Trevor Koenig e Stephen Fone.
Defensores: Rumun Ndur, Neal Martin, Reid Simonton, Samy Nasreddine, Tom Pease e James Pease.
Atacantes: Adam Calder, Joe Henry, Barrie Moore, Tom Watkins, Ashley Tait, Tom Carlon, Dan Carlson, Gareth Owen, Danny Stewart, Michael Tasker e Sylvain Cloutier.
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