Por: Eduardo Costa
White Caps Turnhout


Nada é igual à primeira vez. Ela é sempre especial. Ainda me lembro da minha. Só precisei de R$ 45, meia garrafa de vinho Don Bosco e escolher a moça menos tosca do saudoso inferninho Rio 40°.

Já os White Caps Turnhout tiveram de rever sua política de contratações para chegar ao seu primeiro título belga. No lugar de eslovacos, russos e ucranianos, a direção resolveu apostar em canadenses e suecos. Ou seja, seguiu uma tendência mundial. No final da temporada, o sueco Pontus Morén e o canadense Aaron Burrell justificaram o investimento, e, após 25 anos e apenas dois vice-campeonatos como melhores resultados, os White Caps chegaram ao ponto mais alto da Eredivisie em 2006. E, como tudo que é bom vicia, o time de Turnhout voltou com força total atrás do bicampeonato.

Já sem Morén, mas com o brilhantismo e sagacidade do trio ofensivo Andreas Lind, Jimmy Ögren e Frank De Masi, os White Caps teriam rivais dispostos o roubar o cedro. Notadamente o Olympia Heist O/d Berg e o Hyc Herentalse HC.

Mas, como usualmente faço, vamos a um panorama geral da liga para que ela deixe de ser uma incógnita para nosso fiel leitor — alguém!? Alguém lendo sobre a Eredivisie?

A liga belga é uma das mais bagunçadas da Europa. E é muito estranho que isso aconteça com uma competição que existe desde 1912!

Só para ilustrar o que eu digo: enquanto os Phantoms haviam disputado seis partidas dentro da competição, o IHC Leuven já estava com o dobro de embates contabilizados. Os três primeiros jogos da temporada tiveram a participação do Haskey Hasselt e os resultados foram no mínimo bizarros: derrotas de 15-2 para o Hyc Herentalse HC, 17-0 frente ao Phantoms Deurne e 12-0 para o IHC Leuven.

O Future Leuven também foi humilhado algumas vezes. E não suportaram a própria vergonha. Resolveram interromper o massacre e desistir de seguir participando da Eredivisie. Então, dos oito times que começaram o torneio, apenas sete restaram — os resultados das partidas disputadas pelo Future Leuven foram ignorados.

O Hyc Herentalse HC venceu dez de seus doze confrontos, sendo um deles na prorrogação. Os White Caps Turnhout venceram a mesma quantidade de partidas, mas, como duas dessas vitórias foram no tempo extra, o Hyc Herentalse HC acabou obtendo a vantagem de decidir suas séries em casa, caso necessário. Olympia Heist O/d Berg e IHC Leuven vieram logo a seguir na tabela, garantido vaga nas semifinais.

Playoffs

Duas séries antagônicas. Era esperado muito equilíbrio do confronto entre White Caps e Olympia, e um massacre do embate entre Leuven e Herentalse. Mas a história foi bem diferente.

Apenas quatro pontos separaram White Caps e Olympia ao final da temporada regular. Mas o que vimos na pós-temporada foi um abismo técnico entre as agremiações. Uma varrida, com parciais(??) de 5-2, 10-5 e 8-3. O Olympia Heist O/d Berg, segundo time mais vencedor de campeonatos belgas (11) nunca foi tão humilhado em sua longa existência.

O duelo entre Leuven e Herentalse foi bem mais atraente. As equipes dividiram os dois primeiros jogos. No terceiro confronto o castelo do Herentalse ruiu de forma melancólica com uma derrota de 7-3 em seus próprios domínios. Com o momento ao seu lado, o IHC Leuven fez a festa em casa, garantido sua vaga na final com um disputado 3-2. O Hyc Herentalse HC, time que mais vencera, que mais gols marcara e que menos gols sofrera na temporada regular, estava fora da decisão.

Então quem seria o favorito para ficar com a Eredivisie? Os White Caps, que varreram o forte Olympia, com requintes de crueldade, ou o Leuven, que surpreendeu o planeta hóquei ao eliminar o Herentalse?

A principal unidade do time de Turnhout respondeu a essa questão. Eles destruíram a defesa do Leuven nos três primeiros jogos da melhor de sete — goleadas por 5-3 (jogo 1), 8-4 (jogo 2) e 5-1 (jogo 3). Com o trio Andreas Lind, Jimmy Ögren e Frank De Masi, atuando daquela forma, as chances dos rivais eram nulas.

Faltava uma vitória para o bicampeonato. A julgar pela facilidade com que demoliu o IHC Leuven nos três encontros anteriores, essa vitória viria no confronto seguinte, em plena Leuven. Uma bela ação de Göte de Pillecijn e mais um tento de Andreas Lind deram uma vantagem de 2-0 ainda no período inicial da partida. Mas algo bizarro estava para acontecer.

Já prevendo outra derrota humilhante, os locais simplesmente abandonaram o gelo quando ainda faltavam 20 segundos para o término do período. Pura covardia. Mas o ato mesquinho do Leuven não ocultou a fantástica campanha do time de Turnhout nessa pós-temporada. O time não se contentou com o título de 2006 e foi atrás de mais. E os deuses do esporte souberam premiar essa busca pela consolidação, mantendo o time no topo do hóquei belga.

Elenco campeão

Goleiros: Jochem van den Heyning, Tomislav Hrelja e Tim Haun

Defensores: Stanislav Vernikov, Niklas Björk, Göte de Pillecijn, Michal Vlna, Francis Peetermans, David Berglund, Christophe de Ridder, Danny Moretto, Ray Gallagher e Roman Meder.

Atacantes: Andreas Lind, Jimmy Ögren, Frank De Masi, Ward Szarzynski, Sjef Szarzynski, Dusan Charvat, Alexander Verherstraeten, Wesley Nagels, Sammy Schraepen, Tom van Eyck, Steve Verheyen e Bram Bruyninckx

Eduardo Costa é fã de Marcelo Constantino e Marco Aurélio Lopes. Dois ases do jornalismo esportivo carioca.
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Página publicada em 4 de julho de 2007.