Da borda, Pavel Datsyuk encontra Henrik Zetterberg, que passa para Brian Rafalski livre na ala esquerda. O Detroit Red Wings abre o placar no jogo seis da decisão, aos cinco minutos do primeiro período em vantagem numérica.
Também foi Datsyuk que dominou o disco na zona neutra e encontrou Zetterberg descendo pela ala esquerda. O passe resultou no terceiro gol dos Wings. E dois pontos para o melhor jogador do Detroit na temporada regular — e que certamente seria o melhor dos Wings também nos playoffs, não fossem Zetterberg e Johan Franzen arrasadores nesta pós-temporada. Mas isso não faz tanta diferença assim. Na Cidade-Motor desde 2001, o jogador, um com um dos melhores controles de disco e habilidades em dar drible que já se viu, tem a oportunidade de levantar sua segunda Copa Stanley. E, hoje, é o único russo no elenco que já foi dominado pelos ex-soviéticos.
Pavel Valerievich Datsyuk
"Apenas" 1,80m de altura, 88kg e uma habilidade para patinar superior a Scott Niedermayer ou Paul Kariya. Jogador pouco físico e naturalmente quieto, calado, mas muito, muito rápido. Talvez um jogador com essas características não seja exatamente o que a exigente torcida de Detroit espere de um Red Wing. Talvez queiram alguém mais intimidador, alguém mais na praia de Darren McCarty ou de Franzen. Alguém louco. Talvez por isso Datsyuk não tenha sido bem-visto como um líder natural para a franquia pós-Yzerman.
Dats, Pasha, Pav ou "Pavel Dekes-You" e "Houdini", apelidos pelo qual o russo é conhecido por torcida e mídia. Os dois últimos, obviamente, fazem menção às habilidades diferenciadas do jogador. Datsyuk estava lá em 2002, ao lado de dois remanescentes originais do Russian Five de 1997: Igor Larionov e Sergei Fedorov. Na verdade, aquela era a primeira temporada de Datsyuk na NHL — assim como Dany Heatley, que estreava pelo Atlanta Thrashers e levava o Troféu Calder de melhor calouro. Na campanha do título, Datsyuk disputou 70 jogos de temporada regular e marcou 35 pontos. Na pós-temporada foram 21 jogos e seis pontos. Formava linha com Brett Hull e Boyd Devereaux.
No mesmo ano Datsyuk ganhara medalha de bronze com a Seleção Russa nos Jogos Olímpicos de Inverno e disputou o YougStars Game da NHL. Mas Pasha relembra esse período pelo grande apoio que recebeu dos compatriotas Larionov e Fedorov e também do capitão Yzerman.
Para a temporada seguinte, um jovem calouro chamado Zetterberg assumiu o lugar de Devereaux ao lado de Hull-Datsyuk, formando a conhecida "linha de dois garotos e um bode velho". Nesta temporada Datsyuk sofreu um problema que viria a se tornar comum em sua carreira: lesão. Com o joelho contundido, Pavel disputou apenas 64 jogos, mas mostrou sua evolução com 51 pontos na temporada regular. De qualquer forma, a responsabilidade ainda não era sua. Ainda haviam Larionov, Hull, Yzerman e Fedorov.
Mas Fedorov deixara o time ao final daquela temporada onde os Wings foram surpreendentemente varridos por uma franquia ainda conhecida por Mighty Ducks of Anaheim, na primeira rodada de pós-temporada. Datsyuk ganhou mais espaço junto aos Wings enquanto suas habilidades ficavam cada vez mais evidentes. Também ficava evidente que o russo não era um jogador físico, mas totalmente baseado em sua agilidade no gelo. Seu controle sobre o disco, a capacidade de patinar com perfeição. Esses eram os diferenciais de um jogador que, cada vez mais se tornava a cara de Detroit, embora quase tenha ficado fora do time em 2005, mesmo sendo um agente livre restrito, por problemas envolvendo o Dynamo Moscou, clube que defendeu durante o locaute da NHL.
Independentemente disso, o que ainda incomodava era que os Wings haviam sido eliminados na segunda rodada da pós-temporada pelo Calgary Flames na temporada 2003-04. Na volta do locaute, a franquia deveria se redimir com seus torcedores.
Uma outra Detroit, uma outra NHL
Volta do locaute e NHL sob o teto salarial. Com Steve Yzerman aos 40 anos de idade, a responsabilidade sobre o time passava aos mais jovens. Obviamente, Datsyuk e Zetterberg eram esses jovens em questão. Datsyuk realmente liderou os Wings em pontos, com 87. Mas os problemas de lesões voltavam a interferir no seu rendimento, e esse é um problema a jogadores muito mais habilidosos que físicos.
Os Wings foram eliminados na primeira rodada de pós-temporada contra o Edmonton Oilers. Mesmo tendo conquistado o Troféu dos Presidentes.
Datsyuk tornou a liderar os Wings em pontos na temporada 2006-07 e a dupla de ataque com Henrik Zetterberg continuava afiada. Mas os Wings encontraram pela frente uma franquia baseada tanto na habilidade quanto no jogo físico e na vantagem numérica. O Anaheim Ducks eliminou o Detroit na final de Conferência, depois da franquia da Cidade-Motor cumprir seu papel em tirar Calgary Flames e San Jose Sharks do caminho.
A nova Cidade do Hóquei
Nosso colunista Humberto Fernandes foi certeiro em apontar os problemas da Hockeytown. Detroit não acompanhou as mudanças que sua franquia esportiva preferida e mais vencedora sofreu. Datsyuk e Zetterberg, líderes em pontos em duas temporadas consecutivas, não estavam sendo reconhecidos como os ídolos que a cidade deveria enxergar. A média de torcedores na Joe Louis Arena, embora ainda fosse boa, era preocupante para uma franquia que tinha o costume de ter acsa cheia e tinha o apelido de "cidade do hóquei", por deter a história mais vencedora nas últimas duas décadas — ao lado do New Jersey Devils, ambos com três Copas Stanley.
Talvez Datsyuk e seus dois Troféus Lady Bing não sejam o que a Cidade do Hóquei espere de um jogador-símbolo.
Coube a Datsyuk, então, fazer tudo que fazia ainda melhor: dribles, assistência, gols. Liderou novamente a franquia com 97 pontos na temporada regular — seguido, claro, de Zetterberg. Com 23 pontos, foi o vice-líder na pós-temporada, que desta vez se estendeu para Pasha até a decisão da Copa Stanley. Datsyuk jogou todos os jogos do Detroit, em temporada regular e em pós-temporada.
Depois de 11 anos, um russo volta a ser a cara de Detroit. Talvez a cidade ainda não tenha assimilado muito bem esse fato.
E chega a ser estranho ver os Red Wings com apenas um russo no elenco. Que bom que, pelo menos, esse Russian One representa tão bem o antigo Russian Five.
Só falta Detroit reconhecê-lo como tal.
Gregory Shamus/Getty Images Pavel Datsyuk em carro aberto, pelas ruas de Detroit: a torcida precisa reconhecê-lo como uma das novas caras da cidade. (06/06/2008) |
Keith Srakocic/AP Ao lado de seu "colega de liderança" Henrik Zetterberg, Datsyuk cumprimenta os Penguins. (04/06/2008) |