Por: Marcelo Constantino

As últimas três finais da Copa trouxeram embates entre times americanos contra times canadenses. Os americanos venceram as três: Tampa Bay sobre Calgary, Carolina sobre Edmonton e Anaheim sobre Ottawa. Em 2008 os canadenses não chegaram nem perto, a final da Copa foi entre dois times americanos. Só que um deles era repleto de europeus.

Ainda há preconceito contra jogadores europeus na NHL. Só que, do preconceito, a coisa está virando inveja, tamanho o sucesso de jogadores como Nicklas Lidstrom, Henrik Zetterberg e principalmente o astro Alexander Ovechkin. Parte da imprensa chega fazer campanha abertamente pelos jogadores norte-americanos (dos EUA e Canadá), e jogadores como Sidney Crosby acabam sendo as vítimas dessas campanha. Essa mesma mídia tentou espalhar que jogadores europeus não têm tanto desejo de vencer a Copa Stanley quanto jogadores da América do Norte. Que jogadores europeus estão na NHL mais pelo dinheiro (como se a absoluta suprema maioria que está ali não ligasse para isso) e que um time capitaneado por um europeu não venceria a Copa. Venceu.

O mesmo jogador que quebrou esse tabu foi o jogador que quebrara outro, quando foi o primeiro europeu a levar o Conn Smythe para casa, há seis anos. Nicklas Lidstrom, seguramente um dos maiores defensores que a NHL já viu jogar.

Há ainda outro velho tabu, já demolido, mas que foi novamente pisoteado nesta temporada. Tal qual em 2002, o Detroit venceu o Troféu dos Presidentes e a Copa Stanley. Se alguém ainda profere a balela de que quem vence um dificilmente vence outro, é melhor repensar isso da próxima vez.

Além de Nicklas Lidstrom ter sido o primeiro capitão europeu a levantar a Copa Stanley, de Henrik Zetterberg ter sido apenas o segundo europeu a levar o Conn Smythe pra casa, o Detroit Red Wings é o primeiro campeão da Copa com um time onde os europeus predominam. Quantitativa e qualitativamente.

As duas principais linhas de ataque da equipe são inteiramente formadas por europeus. Vejam bem, eu disse inteiramente. A metade principal do ataque do time é européia. Zetterberg, Pavel Datsyuk, Thomas Holmstrom, Johan Franzen, Valteri Filppula e Mikael Samuelsson. Somente Filppula não é da Suécia, é finlandês. Ainda tem Jiri Hudler.

Dois dos quatro principais defensores da equipe são europeus: Lidstrom e Nicklas Kronwall, dois suecos. Além deles, Andréas Lilja também é sueco. Para completar, Domink Hasek.

Ou seja, dos que atuaram nos playoffs, 11 são europeus. Há outros no elenco, mas que, embora tenham participado da temporada, não chegaram a jogar nos playoffs. Em 2002 foram 10 europeus no time participando dos playoffs, recorde até então.

Conn Smythe europeu
O time é predominantemente europeu, o capitão é europeu, o MVP dos playoffs é europeu. Num time sem um grande destaque — você certamente conseguirá destacar três, mas apenas um é complicado —, Zetterberg acabou sendo a escolha mais fácil para o troféu Conn Smythe, concedido ao jogador mais importante do time nos playoffs.

Muita gente cogitou que Franzen — depois de cismar de marcar gols em escala industrial contra o Avalanche — era o cotado para o troféu. No entanto o "Mula" contundiu-se e ficou de fora do time durante quase toda a série contra o Dallas Stars. O time não sentiu muito a sua ausência, tanto que venceu a Conferência Oeste. MVPs precisam ser sentidos, caso contrário não são MVPs.

Vieram as finais e os dois shutouts iniciais reforçaram a corrente que indicava Chris Osgood como MVP dos playoffs. Do meu ponto de vista, um exagero. Osgood foi importante para o time e sua entrada no lugar de Dominik Hasek foi uma alteração de sucesso. Mas os belos números do goleiro nos playoffs não dizem tudo. O Detroit não venceu um jogo sequer por causa de Osgood. Não me lembro sequer de uma defesa espetacular dele, salvando o time. O maior mérito de Osgood foi trazer a tranquilidade ao time e de estar quase sempre muito bem posicionado. Um belo goleiro, que, desta vez, não falhou.

A onda sobre Osgood comelçou a cair quando a série ficou apertada, ou seja, do jogo 3 em diante. E aí restava Zetterberg, que aparecia regularmente nos aspectos ofensivos e constantemente nos aspectos defensivos, sempre atrapalhando a vida de Sidney Crosby. Nicklas Lidstrom mereceu alguma consideração também, mas Zetterberg esteve sempre um passo acima.

Talvez tenha sido a primeira vez que um atacante tenha sido eleito para o Conn Smythe mais por suas atuações defensivas do que pelos seus belos números ofensivos.

Detroit está em festa. Boa parte da Suécia também deve estar.

Marcelo Constantino chegou a assistir a alguns jogos com narração em sueco.

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Página publicada em 8 de junho de 2008.