Por: Eduardo Costa

A legião sueca dos Red Wings é tão numerosa quanto vitoriosa. Tanto o selecionado daquele país, quando o time de Michigan, orgulhosamente festejam o casamento perfeito. Nas finais dos jogos olímpicos de 2006, todos os gols da vitória dos suecos foram marcados por jogadores do time de Michigan — Nicklas Lidström, Niklas Kronwall e Henrik Zetterberg —, o que fez com que o jornal Detroit Free Press colocasse na capa da seção de esportes o título: Red Wings, campeões olímpicos.

Fica difícil imaginar a recente conquista da Copa Stanley por Detroit, sem associá-la aos membros do país das três coroas. Na goleada nababesca de 8-2 sobre o Colorado Avalanche, que acabou significando varrida e alguns dias descanso para o time, todos os oito tentos foram de autoria sueca. Algo digno de fazer Don Cherry cair da cadeira. Então, o Aftonbladet, um dos principais jornais escandinavos, deu o "troco" ao Free Press com um "Suécia goleia e avança na Copa Stanley".

Mas, no meio disso, aliado à legião Viking, um inimigo histórico também teve sua importância.

Valtteri Filppula, como uma garrafa de vodka Finlandia em uma caixa de Absolut. Um Nokia em uma revendedora Ericsson. Um finlandês adotado pelo mais suecos dos times da NHL.

Central veloz e de grande disciplina tática, Filppula era uma interrogação para a maioria dos rivais dos Red Wings nesses playoffs. Mas ao final da pós-temporada acabou engrossando a lista de baixas escolhas — 95.ª geral, no recrutamento de 2002 — que rendem grandes dividendos para o time de Mike Ilitch.

Onze pontos e cinco gols para alguém com um baixo tempo de gelo por partida foi mais do que uma grata surpresa.

Após apresentar muito pouco nos confrontos iniciais contra o Nashville Predators, a trajetória de Filppula foi a mesma da equipe que ele representa. Foi de menor a maior nesses playoffs. Nas séries seguintes ele foi um dos que melhor seguir à risca os mandamentos da cartilha de Mike Babcock. E teve sua recompensa.

O finlandês gravou seu nome da rica história dos Wings com dois gols de importância máxima na série contra o Pittsburgh Penguins.

No jogo 2 das finais ele anotou o que pode facilmente ser considerado o mais belo tento dos seis embates entre os dois times. Quando os Pens buscavam diminuir o déficit de 2-0 no marcador, e com ambos os times com quatro homens no gelo, Johan Franzen enxergou a projeção de Filppula. O passe foi na medida. Mesmo Kris Letang usando braços e taco, ele acabou sendo fintado de forma magnífica. Para encerrar a pintura, Valtteri chutou enquanto "voava" no gelo da Joe Louis Arena. Inesquecível. Rendeu até comparações com o antológico movimento de Bobby Orr, que em 1970 na final entre St Luis e Boston, voou para dar a Copa para os Bruins.

Mas nem só de belos gols viveu Valtteri Filppula. Ele vazou Marc-André Fleury no jogo 6 com uma gol de plástica comum, porém de importância superlativa.

Mais uma vez com os Pens buscando reverter um placar adverso, ele aproveitou um suculento rebote de Fleury. Se o arqueiro dos Pens foi espetacular no jogo anterior, ele vacilou duas vezes no mesmo lance no embate derradeiro, porque o complemento de Filppula era igualmente defensável. Mesmo marcado por Brooks Orpik, o finlandês tornava a distância entre os Wings e a Copa mais curta.

E quando a conquista veio, ele era um dos mais incrédulos no gelo. Após duas temporadas completas na NHL, já escrevia seu nome no cálice sagrado. Abraçado aos companheiros de linha, Samuelsson e Franzen, provou que em algumas raras oportunidades, a rivalidade histórica pode ser deixada de lado. É a Copa Stanley tornando o mundo um lugar melhor para se viver.

O título premia também a determinação de Filppula, que atuou no sacrifício em boa parte dos playoffs. Após ser vice-campeão da SM-Liiga em 2005, ele recebeu garantias de que seria o principal homem de ataque do tradicional Jokerit, da capital Helsinque, na temporada seguinte. Mas preferiu arrumar as malas e pousar em Grand Rapids, Michigan, onde foi atuar na filial dos Wings na AHL, os Griffins. Atitude típica de quem, a todo custo, queria usar a camisa do clube original — Igor Grigorenko? Quem?

Tendo como companhia Jiri Hudler, outro membro do campeão da Stanley de 2008, Filppula foi um dos grandes nome da filial na temporada 2005-06 e acabou ganhando a tão sonhada chance, se tornando o primeiro finlandês a atuar pelos Red Wings.

Filppula também venceu a disputa com Jarkko Ruutu, para ver quem se tornaria o sétimo finlandês a chegar na glória máxima do esporte, e agora faz parte do seleto grupo que inclui Teemu Selänne (Anaheim Ducks 2007), Jari Kurri (Edmonton Oilers 1984, 1985, 1987, 1988 e 1990), Jere Lehtinen (Dallas Stars 1999), Ville Nieminen (Colorado Avalanche 2001), Reijo Ruotsalainen (Edmonton Oilers 1987 e 1990) e Esa Tikkanen (Edmonton Oilers 1985, 1987, 1988 e 1990; New York Rangers em 1994).

E a julgar pelo sucesso da união, quem sabe daqui alguns anos os Red Wings de sotaque sueco, não se torne um time também com forte contigente finlandês.

Eduardo Costa tem orgulho dos amigos que tem.
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Página publicada em 8 de junho de 2008.