Por: Thiago Leal

A campanha da temporada 2010-11 do Anaheim Ducks foi mais um capítulo de um trabalho em progresso. Um trabalho que começou lá atrás — não com o vice-campeonato de 2003, mas com os playoffs de 2005-06.

Esta foi apenas a sétima vez que os Ducks avançam aos playoffs. Cinco dessas sete vezes aconteceram de 2005 pra cá, já na era de Henry e Susan Samueli. Em todas as ocasiões os Ducks alternaram seu papel na pós temporada.

Em 2006 foram azarões que chegeram à final de conferência e foram derrotados pelos também azarões Oilers. Em 2007, um time feito para ganhar. E ganhou, conquistando a Copa Stanley em 21 jogos. Em 2008 era favorito para a primeira rodada, ao menos, contra o Dallas Stars, mas acabou eliminado. E em 2009, azarões com a classificação conquistada nas últimas rodadas, mas, surprendentemente, eliminaram os Sharks, então vencedores do Troféu dos Presidentes, e deram o maior susto nos campeões Red Wings nas semi-finais de conferência.

Independentemente dessa alternância de papéis, o Anaheim Ducks de Henry e Susan Samueli tornou-se um time temido e respeitado, principalmente nos playoffs, onde o estilo de jogo duro que vem sendo mantido desde a aquisição de Pronger, em 2007, se sobresai em relação a times que jogam de maneira mais leve, como é o caso do Detroit Red Winhs ou do adversário da vez, o Nashville Predators.

Durante a temporada regular 2010-11 os Ducks alternaram sequências de vitórias e derrotas, indo do topo da Divisão do Pacífico ao décimo segundo lugar no Oeste, o que os deixaria bem longe dos playoffs. Dado o já conhecido equilíbrio da conferência, cujas últimas vegas são definidas apenas nas últimas rodadas, os Ducks acabaram surpreendendo ao garantir mando de gelo para a primeira rodada. O adversário seria o Nashville Predators.

Para muitos essa seria a série mais equilibrada do Oeste (o que, no final das contas, não aconteceu). Mas algo preocupava: a contusão do goleiro Jonas Hiller. Como definiu nosso colunista Humberto Fernandes, Ray Emery e Dan Ellis são dois goleiros bons. Playoffs são para goleiros excepcionais. Do lado oposto, os Predators estavam bem-armados com Pekka Rinne. Goleiros e defensores costumam ser homens-chave para definir duelos tão equilibrados. Enquanto os Ducks detinham o mando de gelo os Predators entravam com uma defesa mais forte.

Um fator foi determinante para o triunfo do Nashville e derrota do Anaheim: constância.

Na série, o D de Dedicação proposto pelo site oficial dos Ducks muitas vezes virou D de Desaparecimento, principalmente quando o Anaheim assumia a liderança no placar. Houve dedicação, sim: Bobby Ryan, Corey Perry, Teemu Selanne, Lubomir Visnovsky, Ryan Getzlaf e, principalmente, Jason Blake. Alguém lá atrás se esforçava ao máximo também: Emery. O problema é que a defesa comandada por Visnovsky, François Beauchemin e Cam Fowler muitas vezes dormia em pleno rinque, coisa bastante comum nos momentos em que os Ducks venciam o jogo. Nessas ocasiões os Predators faziam mais pressão de que Emery era capaz de suportar e o gol acabava saindo. Eram os famosos apagões que muito se atribui ao Detroit Red Wings.

Nada melhor para simbolizar esse momento que o jogo 2, onde os Predators, perdendo por 4-1 chegaram a encostar no marcador e diminuir para 4-3. Só tomaram o quinto gol na rede vazia. O problema é que essa mesma situação se repetiu no jogo 5. Desta vez os Predators empataram com um patinador extra e levaram o jogo para a prorrogação. Com um time ainda sonolento, os Ducks perderam o jogo com apenas dois minutos de tempo extra. Haveria o jogo 6 em Nashville e já estava bem claro que o mando de gelo não era um fator determinante para a série. Venceria quem fosse mais constante e estivesse mais ligado no jogo. Até o jogo 5 essas características haviam se apresentado melhor no Nashville.

E não foi diferente. Mais atencioso que os Ducks como acontecera em toda primeira rodada, além de uma grande ajuda do ex-atleta do Detroit Red Wings Andreas Lilja, os Predators fecharam a conta em casa com uma vitória por 4-2 e garantiram vaga na próxima rodada dos playoffs.

Eu poderia argumentar ainda que os Ducks tiveram como adversário seu nervosismo, convertido em forma de penalidades. Mas os próprios Ducks marcaram mais gols em vantagem numérica que os Predators, além de ter marcado um gol em desvantagem numérica, coisa que o Nashville não conseguiu. A falta de atenção fez mal muito maior que a desvantagem numérica e isso é claro.

Se serve de consolo, o ataque dos Ducks se apresentou muito bem.

Os Ducks marcaram um gol a mais que os Predators na série e, apesar de ter chutado menos a gol, seus principais jogadores Getzlaf, Perry, Ryan, Koivu e Selanne foram presenças ofensivas constantes e deixam a esperança para que o trabalho continue e evoluir na temporada seguinte. Ryan, em particular, demonstrou algum amadurecimento, embora tenha lhe faltado mais paciência no jogo 2 da série, que culminou com sua suspensão para os jogos 3 e 4. Jogadores jovens como Cam Fowler, Luca Sbisa, Brandon McMillan ou Nick Bonino se apresentaram muito bem. Apesar da derrota, há futuro em Anaheim e o torcedor pode conferir isso de perto.

Assim como era evidente que havia futuro quando, em 2006, os Ducks foram eliminados na final de conferência para os Oilers. Com uma porção de jovens jogadores evoluindo, notoriamente a linha Perry-Getzlaf-Dustin Penner, os Ducks avançaram para a Copa Stanley no ano seguinte.

Essa é a nova imagem que os Ducks de Henry e Susan Samueli cativaram. É uma franquia com uma outra cara, completamente diferente do time azarão que chegou à decisão de 2003 com complexo de Cinderella. Àquela época, a derrota na final foi vista como um ponto final na campanha milagrosa dos Ducks. Hoje a eliminação na primeira rodada é considerada um fator isolado, muito por causa da ausência de seu principal goleiro.

Para repetir o feito de 2007, no entanto, o D de Ducks e Dedicação vai precisar do A de Anaheim, mas também de Atenção.

Thiago Leal agradece à torcedora Jessica Quihuiz pela foto e por ser uma grande amiga.

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Página publicada em 28 de abril de 2011.