Por: Humberto Fernandes

A vida de treinador, em qualquer esporte, não é fácil, mas o "professor" gosta de inventar. Na primeira fase dos playoffs, para alguns técnicos só faltou o nariz de palhaço, diante do troca-troca de goleiros.

Alain Vigneault, comandante do Vancouver Canucks, substituiu Roberto Luongo no jogo 4 (seis gols sofridos em 28 chutes, 78,6% de defesas) e no jogo 5 (quatro gols em 12 chutes, 66,7%) contra o Chicago Blackhawks, colocando no decorrer das duas partidas o inexperiente Cory Schneider, 25 anos, dono de ótimos números na temporada regular, mas nunca testado nos playoffs. Se a intenção fosse poupar Luongo de duas derrotas inevitáveis — diante das circustâncias das partidas — garantindo que seu melhor goleiro estaria preparado para o jogo seguinte, o treinador estaria agindo de acordo com a lógica.

Mas veio o jogo 6 e lá estava Schneider no gol dos Canucks. Luongo, dono de 85 defesas em 90 chutes entre os jogos 1 e 3, em um dos melhores anos de sua carreira, foi parar no banco de reservas em uma partida crucial para a sua equipe. Schneider falhou no segundo gol dos Blackhawks e se contundiu ao sofrer o terceiro gol, em cobrança de pênalti, deixando o gelo após sofrer três gols em 20 chutes (85,0%). Para o gol dos Canucks retornou Luongo, no momento mais sarcástico dos playoffs 2011. No restante do jogo 6, o goleiro defendeu 12 de 13 chutes, sofrendo o gol da vitória dos Hawks na prorrogação.

No derradeiro jogo 7, Vigneault escalou Luongo, que não era bom o bastante para vencer o jogo 6, seguindo o raciocínio do treinador. As 31 defesas do goleiro provam que o "professor" estava errado. Se Luongo estivesse no gol no jogo 6, talvez na noite de terça-feira os Canucks estivessem descansando, em vez de jogando uma partida de vida ou morte.

Pior fez o técnico do Philadelphia Flyers, o genial Peter Laviolette. Em sete jogos contra o Buffalo Sabres, Laviolette utilizou três goleiros diferentes e todos foram titular pelo menos uma vez.

A série começou com Sergei Bobrovsky no gol. O russo de 22 anos foi titular em 52 dos 82 jogos do time na temporada regular, registrando 28 vitórias, 91,5% de defesas e 2,59 gols sofridos por jogo. Como melhor goleiro do time, nada mais justo do que ser o número um nos playoffs também.

No jogo 1, Bobrovsky sofreu um gol em 25 chutes (96,0%), o bastante para os Sabres vencerem por 1-0. No jogo 2, o russo foi substituído ainda no primeiro período após sofrer três gols em sete chutes (57,1%), dando lugar ao veterano Brian Boucher, que fez 20 defesas em 21 chutes (95,2%) no restante da noite para garantir a virada e roubar o posto de titular do time.

Boucher, 34 anos, foi titular de 29 jogos durante a temporada regular, acumulando 18 vitórias, 91,6% de defesas e 2,42 gols sofridos por jogo, números ligeiramente superiores aos de Bobrovsky.

Laviolette começou os jogo 3 e 4 com Boucher no gol e Michael Leighton no banco de reservas. Bobrovsky foi varrido para debaixo do tapete.

No jogo 5, Boucher foi substituído ainda no primeiro período, depois de defender apenas oito dos 11 chutes dos Sabres (72,7%). Leighton entrou em seu lugar e defendeu 20 de 21 chutes (95,2%), mas os Flyers foram derrotados na prorrogação por 4-3.

Leighton foi titular em apenas um jogo durante a temporada regular, disputado no fim de dezembro. O goleiro foi colocado na Desistência e passou o ano na American Hockey League.

E não é que Laviolette optou pelo goleiro da vez, ou seja, o último que jogou bem, para começar o jogo 6? Leighton durou apenas um período, deixando o jogo com 62,5% de defesas (três gols em oito chutes). Boucher, que nunca deveria ter saído do time, parou 24 de 25 chutes (96,0%) e permitiu que a equipe vencesse o jogo na prorrogação por 5-4.

Exceção feita ao primeiro período do jogo 5, Boucher esteve fenomenal o tempo todo, somando 83 defesas em 87 chutes (95,4%) entre os jogos 2 e 4. Não havia motivo para não apostar nele no jogo 6, mas Laviolette inventou e isso quase lhe custou a série.

No jogo 7, Boucher foi o goleiro titular e os Flyers venceram. Com 93,4% de defesas e 2,10 gols sofridos por jogo durante o confronto, seu desempenho na primeira fase esteve entre os melhores dos playoffs. Resta saber se foi bom o bastante para conquistar a confiança de seu treinador.

Com cara de bobo: é assim que Vigneault e Laviolette seguem nos playoffs.

Humberto Fernandes acredita que esta seja a melhor primeira fase dos playoffs nos últimos dez anos.

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Página publicada em 28 de abril de 2011.