Por: Thiago Leal

Um pisão, uma suspensão e um gol antológico: com esses elementos, Bobby Ryan foi o principal jogador da série entre Anaheim Ducks e Nashville Predators, ironicamente vencida pelos Preds. E olha que Shea Weber, Jason Blake e Corey Perry tiveram papéis muito mais decisivos...

Para entender o por que do destaque maior a Ryan, primeiro precisamos contextualizar um pouco a história.

Ryan, Bobby
O peso de um pré-nome certamente não agrega nenhuma responsabilidade ao atleta, diferentemente de seu sobrenome. Se um jogador de futebol chama-se Diego não se espera que ele receba as mesmas cobranças que um rapaz cujo nome de família seja Maradona e esteja relacionado ao todo-poderoso argentino.

Mas para mim, não há como não ouvir o nome Bobby Ryan e lembrar que o rapaz carrega um apelido lendário no esporte: Orr, Clarke, Hull, Smith. Claro que para esses quatro craques há um sem-número de Bobbies anônimos: Simpson, Benson, Copp, Lee, Walton, Crawford, Kirk, Burns, Guindon...

O jovem Ryan do Anaheim Ducks certamente já acumulou história suficiente para superar seus xarás mais desconhecidos. Mas está há milhares de quilômetros de patinadas até conseguir avistar aqueles que já foram devidamente santificados na NHL. Plasticamente falando, é sem dúvida o jogador mais habilidoso da jovem geração de Anaheim, onde podemos incluir seus eventuais colegas de linha Corey Perry e Ryan Getzlaf. Mas ainda não é o protagonista da franquia. Não é um líder como Getzlaf ou um jogador tão decisivo quanto Corey Perry, tampouco alguém que represente a franquia quanto seu ídolo Teemu Selanne. Ainda.

Até aqui Bobby Ryan teve seus momentos singulares de destaque, como seu primeiro hat trick, em janeiro de 2009, em cima do Los Angeles Kings. Seu terceiro gol neste jogo foi memorável — recebeu assistência de Getzlaf e, marcado por Peter Harold, girou para livrar-se do defensor, puxou o disco para frente da crease e colocou no fundo da rede de Jonathan Quick. Foi o primeiro de seus gols antológicos.

Mais ou menos um ano depois, na mesma O2 Arena contra os mesmos Kings, Ryan mostrou que pode ter outro lado: o de jogador agressivo, ao nocautear Oscar Möller. Então os Ducks têm seu arquétipo de jogador de hóquei. Extremamente habilidoso, forte e agressivo.

Mas isso não basta. Grandes jogadores de hóquei como seus xarás Hull, Clarke, Smith ou Orr destacaram-se não só por sua eficiência no rinque, mas também pelo caráter mítico que adquiriram fora dele. Personalidade, liderança, identificação com a torcida.

Bobby, ídolo?
E foi na série contra o Nashville Predators que Ryan deu um upgrade em seu perfil em todos esses aspectos. No jogo 2 da série, com os Ducks precisando vencer em casa (haviam perdido a primeira partida), Bobby marcou, no segundo período, o gol que colocaria os Ducks definitivamente na frente do marcador: 3-1. Mais tarde, também no segundo período, Getzlaf marcaria o gol vencedor, já que no terceiro período o Nashville diminuiria para 4-3, até que, na rede vazia, Ryan marcasse seu segundo gol na noite, encerrando a contagem.

Ryan saiu do jogo como a terceira estrela da noite. Mas não jogaria as duas partidas seguintes, em Nashville. Motivo? Este. O pisão em Jonathan Blum lhe valeu uma punição de dois jogos. No lance, Ryan estava disputando o disco, que Blum prendia nas bordas, e, apesar de ter sido um pouco falta de noção usar a lâmina do patim para pisar no adversário, certamente não tinha intenção de machucá-lo: o pisão foi na parte protegida do patim e Blum sequer reagiu. Um jogo de punição já seria exagero.

Fez falta.

Sem Ryan, os Ducks perderam o jogo 3 e venceram o jogo 4, trazendo de volta a série para Anaheim, mantendo o mando de gelo. Ganhar o jogo 5 em casa seria fundamental para avançar nos playoffs. Ryan estava de volta para a série e, no começo do terceiro período, marcou mais um gol antológico para desempatar o jogo e por os Ducks em vantagem por 2-1. Ryan roubou o disco em um erro de David Legwand e, no caminho para o gol, driblou duas vezes o mesmo Legwand.

Poucos minutos depois o vídeo do lance estava disponível no YouTube e, no twitter, torcedores, comentaristas e fãs de hóquei em geral expressavam o espanto pelo lance fora do comum. O NHL.com até ousou colocar o gol entre os mais belos da história dos playoffs e compará-lo ao lance histórico de Mario Lemieux em 1991.

O problema é que toda a genialidade fora desperdiçada quando os Ducks, vencendo por 3-2, sofreram o gol de empate a menos de um minuto do final do jogo, na rede vazia, e perderia o jogo 5 na prorrogação. Ali os Ducks praticamente davam adeus a série.

Ryan, no entanto, saiu da série como um dos personagens principais. Shea Weber foi mais decisivo. Corey Perry e Jason Blake também foram. Ray Emery esteve mais em foco por alternar jogos bons e ruins. Mas foi Ryan quem protagonizou os dois principais lances da série: o pisão em Blum, que o afastou dos jogos 3 e 4. E seu golaço no fatídico jogo 5.

Jogador de personalidade, Ryan disputou os Jogos Olímpicos de Inverno pelos Estados Unidos. Marcou o primeiro gol da seleção americana em cima de seu colega de time Jonas Hiller, goleiro da Suíça. Na entrevista pós-jogo, entregou o ponto fraco de Hiller, que tem deficiência em chutes altos. Na final, empurrou o seu capitão Ryan Getzlaf durante briga entre americanos e canadenses.

A eliminação precoce dos Ducks pode ter brecado o desenvolvimento de Ryan nos playoffs. Mas, a julgar por seu papel nesta série, o ponta direita tem tudo para voltar como um dos protagonistas do time na próxima temporada.

Thiago Leal fez a barba.

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Página publicada em 28 de abril de 2011.