Por Igor Vasconcelos

Estaria cada jogador do Montreal Canadiens atuando como deveria?

Antes de mais nada, é bom relembrar as últimas temporadas dos Canadiens, para saber onde eles melhoraram e pioraram:

2001-02

Os Habs chegaram aos playoffs graças às magníficas atuações de seu jovem goleiro, José Théodore. Ele teve atuações tão decisivas que ganhou o prêmio de melhor goleiro da temporada, além de mais outros dois. Mesmo assim, o time estava desacreditado por todos. Afinal, a conferência tinha times como Sens, Leafs, Flyers, Bruins... Quem iria apostar num azarão, ainda mais sem seu maior craque? Saku Koivu, como já sabemos (através da grande cobertura da TheSlot.com.br), teve que enfrentar um câncer durante a temporada quase toda.

Eis que o inesperado acontece! Aos trancos e barrancos, o time se classificou para os playoffs em oitavo lugar, pegando o companheiro de divisão Boston Bruins. Parecia que o time havia se classificado apenas para cumprir tabela, mas, graças aos milagres de Théodore e à força descomunal de Koivu, os Canadiens se classificaram para a próxima rodada.

Porém, dessa vez, nem mesmo Théodore conseguiu parar os Canes, que acabaram com os sonhos canadenses...

O que explicaria a excelente campanha Habitant? As defesas de Theo, que pegava até pensamento nesse ano multi-premiado (Hart, Vezina e o famoso Roger Crozier MBNA Saving Grace Award, criado para o goleiro com a melhor porcentagem de defesas) e a luta de Koivu, que não desistiu nunca de sobreviver e de tentar voltar ao gelo. Mesmo voltando a três jogos do fim da temporada regular, sem ritmo de jogo e sem estar 100%, tornou-se o "muso inspirador" do time, dando força aos companheiros para brigarem com mais empenho, além de marcar 10 pontos nos 12 jogos dos playoffs disputados pelo time.

2002-2003

Contando com Koivu recuperado — fazendo sua melhor temporada na NHL, com 71 pontos, mas jogando praticamente sozinho —, o time não repetiu o feito, ficando de fora dos playoffs. Nesse ano, Theo não conseguiu carregar o time nas costas... Fechando o ano com números apenas regulares para um time que necessitava dele, foi ofuscado pela estrela de Jean-Sebastien Giguere, que tomou conta da mídia e da liga.

2003-2004

Apesar de não repetir o brilhantismo da temporada mágica de 2001-02, o goleirão fechava o gol quando o time mais precisava, contando com a providencial ajuda de Mathieu Garon nos momentos difíceis da temporada.

Dessa vez, parecia que Koivu iria brilhar de vez, já definitivamente recuperado do câncer, mas ele não foi tão bem, deixando de atuar em quase 20 jogos por causa de contusões. Porém, nesse ano surgiu no time a dupla Michael Ryder/Mike Ribeiro para infernizar as defesas adversárias, levando o time de novo aos playoffs, dessa vez em sétimo lugar. E quem eles enfrentam na primeira rodada? De novo os Bruins! Já acostumados a perder para os Habs, parecia que dessa vez seria diferente: Os americanos estavam 3-1 na série, com um jogo em casa para selar a classificação, fazer a festa e comemorar a vingança da surra de dois anos atrás.

Ledo engano... A partir daquele jogo, o time tricolor de Quebec não deu chances para o tricolor de Massachussets! Três vitórias seguidas, sendo a última por shutout, e lá em Boston!

Todavia, a suada classificação foi para pegar o Tampa Bay Lightning, campeões do leste, e futuros campeões da Copa Stanley. Apesar de toda a bravura dos franco-canadenses, uma varrida do time tecnicamente superior tirou o sonho de mais uma Stanley para reluzir nos salões do Bell Centre.

2005-2006 — Agora vai?

Depois dessa não tão breve retrospectiva das últimas temporadas, chegamos ao assunto principal da coluna: a temporada atual, já que quem vive de passado é museu (e torcedor de Penguins, Flyers, Bruins e, principalmente, Leafs...).

O antigo fator dominante das classificações e dos playoffs, Théodore, vem fazendo sua pior temporada desde 1998-99, quando ainda era reserva do time. Está certo que, com as novas regras, o jogo está mais ofensivo e com mais gols, mas ele tem números piores que o seu reserva, o jovem Yann Danis. Além disso, nas derrotas do time ele tem tido péssimas atuações, sendo o responsável direto por alguns resultados negativos nos quais o time jogou melhor mas perdeu por causa de seus frangos. Ainda por cima reclama das arbitragens, como no último jogo, em que o time perdeu para os arqui-rivais Maple Leafs por 4-3 na prorrogação. Assim não dá, não é, Theo...

Já o nosso capitão vem fazendo uma temporada que merece respeito! Marcando muitos pontos em vantagem numérica, jogando bem, fazendo gols e assistências em abundância, o finlandês tem grandes chances de fazer a melhor temporada de sua carreira, se nada de anormal acontecer. Beneficiado pelas novas regras, por ser um jogador leve, veloz e habilidoso, além do seu espírito nato de liderança, ele vem sendo o novo fator principal do time. É, sem dúvida, o principal jogador da equipe nesse começo de temporada.

E Kovalev? O russo Alex, que chegou a Montreal no final da temporada passada, não foi determinante em sua temporada de estréia no time, apesar de ter boas atuações nos playoffs, tendo marcado alguns gols importantes. Esse ano vinha muito bem até ter de fazer uma cirurgia devido a uma contusão no ombro que ele já tinha desde o ano passado, mas que tornou-se insuportável. Ele era o principal pontuador da equipe, com grande eficiência nas vantagens numéricas. Resta à torcida torcer para que ele volte logo, e tão bem quanto no começo da temporada.

O restante do elenco também vem fazendo bonito esse ano. A dupla Ryder/Ribeiro mostra que veio para ficar, com Ryder sendo o goleador dos Habs, e os dois jogadores estando entre os principais pontuadores do principal time de Quebec. A flecha das estepes Alexander Perezhogin (como Eduardo Costa gosta de frisar) está fazendo uma boa temporada de estréia e promete ser um dos principais atacantes do time nos próximos anos. O bom jogador Richard Zednik, sempre às voltas com contusões, repete sua história, jogando bem quando não está machucado.

Para finalizar o giro pelo elenco vem Steve Begin, que faz sua melhor temporada desde que chegou à NHL, em 1997-98, quando jogava em Calgary. Fazendo mais cinco pontos, será a temporada em que ele mais pontuou! E Radek Bonk? Está totalmente apagado lá na terceira linha... Ele, que é conhecido por boas atuações na temporada regular e depois sumir nos playoffs, nesse ano decidiu ser um jogador mais regular: está apagado desde o primeiro faceoff.

Outra curiosidade sobre o Montreal deste ano pós-locaute é sobre sua relação com o Bell Centre. Antigamente, empurrado por sua torcida, que sempre lotou sua arena, o time costumava vencer quase todas as partidas disputadas em casa. Em compensação, perdia demais quando saía de Quebec... Agora, faz uma campanha melhor fora do que em casa! Por que será? Reflexos das novas regras? Os adversários se superam ao jogar num dos templos do hóquei, assim como fazem os rivais do Liverpool ao jogar em Anfield? Ou simplesmente o time, veloz do jeito que é, se sai melhor fora por se utilizar bem dos contra-ataques?

Sinceramente, para mim não faz a menor diferença, desde que o time continue com a boa campanha até o fim, para lutar pelo título que não vem desde que Roy saiu brigado com um técnico que não compreendeu que os jogadores são as estrelas do espetáculo... E isso já foi há longos 12 anos, uma eternidade para quem está acostumado com títulos em sua história!


Igor Vasconcelos é fã dos Habs, de Théo e de Koivu desde 2001-02 e está lançando uma campanha de arrecadação para ir a Montreal em 2009, ano do já lendário centenário da franquia mais vitoriosa da NHL. Além disso, deixou de estudar para as provas de Direito Internacional Púbico e Tributário para escrever o presente artigo.
SAKU KOIVU O capitão-craque-artilheiro... (www.canadiens.com)
JOSÉ THÉODORE ...e o antigo fator dominante do time, em um dos poucos bons momentos, garantindo a vitória nos penais contra o Atlanta, num chute de Hossa (Ryan Remiorz/AP)
 
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Página publicada em 30 de novembro de 2005.