Há muitas temporadas o Ottawa Senators vem sendo um dos melhores times em temporada regular, sempre favorito para ganhar a Copa Stanley. Mas quando precisa confirmar sua posição de equipe número um da liga escorrega e fica pelo árduo caminho dos playoffs.

Veja o histórico recente: nas últimas cinco temporadas a equipe foi eliminada pelo arquirival Toronto Maple Leafs por quatro vezes, sendo três delas na primeira rodada, incluindo a derrota em sete jogos em 2004. Em 2003, com o Troféu dos Presidentes nas mãos e disparados o melhor time da liga, os Sens perderam para o New Jersey Devils nas finais de conferência, com o gol decisivo marcado por Jeff Friesen com menos de três minutos para o fim do jogo 7.

Há sempre uma grande pedra no caminho que impede a equipe de vencer. Em pelo menos três dos últimos cinco anos os Sens eram melhores que o adversário para o qual perderam. E graças ao fracasso da última temporada a gerência decidiu mudar significativamente.

O treinador Jacques Martin, há nove anos no cargo, foi demitido e em seu lugar assumiu Bryan Murray. Entre os jogadores adeus para o fraco goleiro Patrick Lalime, para o enganador Radek Bonk e... para o artilheiro do time Marian Hossa — o que se mostraria um feito para esta gerência.

O que os Senators fizeram de mais especial foi recuperar aquela atitude de ter que vencer. É a melhor equipe da atualidade, aquela que melhor combina velocidade, habilidade e jogo duro. Não apenas joga hóquei como também ensina ao adversário como jogar na nova era da NHL.

Hoje em dia os Sens estão para o hóquei assim como a Seleção Brasileira está para o futebol — ou há alguma dúvida de que o escrete canarinho será hexacampeão do mundo em 2006? E embora eu tente torcer contra a Seleção Brasileira, por motivos óbvios — o treinador Pé-de-Uva, a CBF, o falso patriotismo de quatro em quatro anos —, é muito difícil desejar o fracasso de algumas pessoas ligadas à Seleção, como alguns jogadores em especial.

É por isso que eu decidi escrever "Por que vou torcer pelos Sens", porque assim que o Detroit Red Wings for eliminado — e será mesmo, nos playoffs —, eu vou torcer pela equipe de hóquei mais empolgante dos últimos anos. Muita gente fará o mesmo, afinal não faltam motivos para apoiá-los — e a menos que você torça para os Maple Leafs não há motivo para torcer pelo fracasso de Ottawa.

Quando os fãs compram ingressos para os jogos no Corel Centre, eles estão pagando para ver o que há de melhor na liga em praticamente todos os aspectos individuais e coletivos. Não se perca nos números: os Sens têm o melhor ataque da liga com 4,59 gols marcados por jogo, a melhor defesa com 2,03 gols sofridos por jogo e o maior número de vitórias, 19 em 22 jogos. Seus goleiros têm a maior porcentagem de defesas, 93,0%, e mais shutouts, 4. Não acabou. O terceiro melhor aproveitamento em vantagem numérica, 22,1%, e o segundo melhor em desvantagem numérica, 86,7%, pertencem aos Senators.

Os Sens venceram todos os 12 jogos disputados contra os rivais de divisão. No geral, em outubro foram oito vitórias e duas derrotas — para Carolina Hurricanes e Philadelphia Flyers. Em novembro 11 vitórias e uma derrota — de novo, Hurricanes. O ano nem acabou e o Troféu dos Presidentes já tem dono. Espere por recordes.

Eu vou torcer por eles porque o capitão Daniel Alfredsson é carismático e nunca ganhou nada na NHL, exceto por um Troféu Calder como calouro do ano de 1995-96. É a história de Steve Yzerman, capitão dos Red Wings, que precisou de 13 anos para finalmente vencer uma Copa Stanley para Detroit e até então tinha seu nome questionado como um dos grandes.

Alfie está se credenciando como um potencial vencedor do Troféu Hart, concedido ao jogador mais valioso para seu time, e acumulando gols e pontos para competir pelos Troféus Maurich Richard e Art Ross. O sueco nunca vestiu outra camisa e possivelmente nunca o fará. Quando encerrar sua carreira terá seu número aposentado e erguido ao topo do Corel Centre e a cidade de Ottawa aos seus pés.

Também vale apoiar os Senators porque Dany Heatley joga uma barbaridade e deu a volta por cima no pior momento de sua carreira. Ainda no Atlanta Thrashers, Heatley sofreu um acidente automobilístico que matou seu companheiro e grande amigo Dan Snyder, um trauma que carregará para o resto da vida. Fisicamente, Heatley arrebentou o joelho e sua carreira foi dada como incerta. Hoje ele disputa ao lado dos companheiros Jason Spezza e Alfredsson o posto de artilheiro da liga e é o único jogador da temporada a pontuar em todos os jogos.

Vale ressaltar que os Sens adquiriram Heatley enviando Marian Hossa e Greg De Vries, nada menos que o artilheiro do time nas últimas temporadas e um defensor confiável.

Não foi a única aposta arriscada da gerência. Que Ottawa vença a Copa porque recebeu Dominik Hasek de braços abertos, mesmo após praticamente três anos de inatividade — o goleiro se aposentou e não atuou em 2002-03, retornou e contundiu a virilha após 14 jogos em 2003-04 e sofreu por um ano com o locaute da última temporada.

O Dominador está de volta ao jogo e demonstra noite após noite que ainda é um dos grandes. Hasek lidera a liga em média de gols sofridos por jogo (1,92), porcentagem de defesas (93,4%), shutouts (3) e é o segundo em vitórias (13). Aos 40 anos de idade o tcheco hoje é nome certo para o Troféu Vezina, concedido ao melhor goleiro. Seria o 13º troféu individual de sua carreira, mas o que Hasek quer mesmo é vencer a Copa Stanley pela segunda vez.

Nenhuma outra equipe da liga tem tanta profundidade quanto os Senators. Recentemente quatro jogadores importantes perderam partidas — Wade Redden, Martin Havlat, Chris Neil e Bryan Smolinski — e nada mudou, a equipe continuou trilhando o caminho das vitórias com perfeição. Os substitutos, prospectos que atuam pelo afiliado dos Sens na AHL, têm dado conta do recado. Parece que Brandon Bochenski, Christoph Schubert e Patrick Eaves já estão prontos para a NHL, mas eles ainda vão passar mais um ano se desenvolvendo. Ou seja, esse não é um exemplo de uma organização que sacrificou o futuro para vencer no presente.

A favor dos Senators está o Canadá e o fato de que todos, menos os americanos, apoiam as equipes daquele país, onde o hóquei no gelo é o esporte número um — tanto que a imensa maioria dos jogadores da liga é canadense. Até mesmo para nós brasileiros fãs do esporte é assim: entre um time americano e um canadense você torce pelo Canadá, porque eles inventaram o jogo e competem em condições desiguais contra os opressores dólares americanos.

Torço para o sucesso dos Senators porque o meu time precisa de pontos para competir na acirrada liga-fantasia do Yahoo! Sports. Heatley e Zdeno Chara jogam pra mim e ajudaram o Al Qaeda Hóquei, que agora atende por outro nome, a derrotar o líder da liga e agora ocupa a sexta colocação geral.

Principalmente, eu vou torcer para os Senators porque eles são os melhores, porque eles se planejaram para ganhar a Copa em todos os últimos anos. A gerência construiu uma equipe muito competitiva, adicionando os reforços necessários e apostando em um ou outro jogador que nenhuma equipe da liga se arriscou a fazer. É por isso que de dez anos pra cá Ottawa deixou de ter o pior time da NHL para ter o melhor.

A vitória de Ottawa é a certeza da vitória do hóquei bem jogado, ofensivo, competente, de pessoas que merecem ter seus nomes na Copa Stanley. Chega de retranca e de time medíocre vencendo sem convencer.


Humberto Fernandes novamente acordou às 6h da manhã para finalizar seu artigo e se despede com a sensacional frase de Ted Green, então treinador do Edmonton Oilers, quando soube que Shaun Van Allen sofrera uma concussão e não se lembrava quem era. "Ótimo. Diga que ele é Wayne Gretzky."
OS MELHORES A menos que você fotografe um corredor do Salão da Fama, dificilmente reunirá na mesma imagem tanto talento. Da esquerda para a direira: Mike Fisher, Wade Redden, Daniel Alfredsson, Dany Heatley e Jason Spezza (Karl DeBlaker/AP - 22/11/2005)
O GÊNIO Dany Heatley é o único jogador da temporada a ter pontuado em todas as partidas de seu time. Atualmente em quinto lugar em pontos, Heatley não deixa a torcida ter saudades de Marin Hossa (Jonathan Hayward/AP - 29/11/2005)
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Página publicada em 30 de novembro de 2005.