O conceito de arte é muito relativo. Até hoje não entendo como quadros com figuras desconexas podem custar milhões de dólares e uma edição da "Playboy" custar menos de dez reais. Ou o que leva milhares e milhares de seres humanos se acotovelarem em filas quilométricas para verem, por alguns segundos, esculturas como aquela do August Rodin, 'O Pensador', enquanto menos de dez mil comparecem regularmente aos jogos dos Capitals em Washington, onde um tal Alexander Ovechkin pratica o mais excitante hóquei do planeta.

Para mim arte é o que o defensor Marek Malik fez no último domingo, dia 27. Foi uma combinação perfeita de técnica, deboche e coragem. Na mesma disputa de pênaltis, erraram as suas tentativas dois monstros como Ovechkin — que tinha um aproveitamento perfeito de quatro gols em quatro tentativas até ser parado pelo ótimo Henrik Lundqvist — e Jaromir Jagr — um dos mais boquiabertos após o feito protagonizado por Malik.

Durante a mais longa disputa de pênaltis da liga até agora, o mítico Madison Square Garden vivia uma atmosfera de playoffs e, quando o tosco Jason Strudwick bateu Olaf Kolzig, parecia final de Copa Stanley. Só que o melhor estava por vir. Após 29 cobranças, Malek Malik se dirigiu ao centro do gelo.

Primeiro o narrador lembrou ao telespectador as medidas do desengonçado tcheco, depois deixou claro também que o forte do defensor nunca foi marcar gols — foram apenas 27 em 489 jogos na NHL. Pouco se esperava mesmo de Marek Malik quando ele patinava rumo à meta de Olaf Kolzig, mas o que se viu segundos depois foi um MSG de pé e uma dupla de narradores berrando "inacreditável" e "você está brincando comigo?" por diversas vezes. Um movimento que já vimos em vídeos de treinamentos, mas nunca antes executado em uma partida da mais importante liga de hóquei do planeta, diante de cerca de 20 mil pessoas. Aqui fica essa pequena lembrança a esse ato de coragem (?). A partir de agora não serão poucos que se lembrarão daquele gol quando ouvirem o nome Marek Malik.

As novas aventuras do jovem homem tartaruga

Com o amargo sabor da derrota ainda presente em seu organismo, o nosso amigo Sean Avery voltou a abrir a boca para pronunciar suas verdades. Os Kings haviam acabado de perder para os Predators no Gaylord Events Center por 4-3 e, no vestiário, ele afirma: "Paul Kariya é o maior cavador de penalidades da liga". Não muito satisfeito, em seguida mira sua metralhadora giratória em direção ao agitador Darcy Hordichuk: "Hordichuk é pior jogador da liga, ele causa embaraço a ela. Ele sequer pode patinar, ele não consegue chutar a gol e nem mesmo passar o disco. Apenas olhe suas estatísticas!"

Durante a partida Avery acertou ambos. Para Kariya ele reservou um perigoso tranco por trás e, para Hordichuk, um taco na altura do pescoço. Foi penalizado apenas no lance contra o agitador dos Preds no período inicial, e conseguiu o que queria: Hordichuk perdeu a cabeça e foi com toda ira pra cima de Avery, que apenas tartarugou(?), deixando para Darcy uma coleção de penalidades que totalizou 27 minutos no terceiro período. Isso valeu também provocação extra de Sean: "Grande jogador, ele quase $#@# o jogo deles."

Vale lembrar que, no primeiro confronto entre Predators e Kings na temporada, Avery já havia acertado de forma perigosa o pacífico Simon Gamache, que bateu com a cabeça nas bordas. Esse lance fez nascer uma rivalidade intensa entre os dois times, tanto que até mesmo Luc Robitaille e o goleiro Tomas Vokoun se estranharam. Para a NHL isso é ótimo, surgiu uma rivalidade de onde menos se esperava e isso graças ao nosso Claude Lemieux Jr.

Hóquei na Romênia

Por incrível que pareça, a aceitação à "matéria protesto" sobre o hóquei romeno foi considerável e a coluna agradou aos nobres e sagazes leitores da TheSlot.com.br. Alguns se emocionaram, outros reafirmaram que o hóquei internacional deve mesmo ter seu espaço aqui na revista semanal de hóquei sobre o gelo.

O nosso colunista Bruno Bernardo, diretamente de um pub qualquer no Reino Unido, mandou-me um e-mail carinhoso que publico agora: "Eduardo Costa, seu bastardo ignorante, como pode fazer uma reportagem sobre o hóquei romeno e não falar sobre o maior milagre da história do hóquei?". Ok, mil desculpas a todos. Bruno se refere à vitória da Romênia sobre a seleção da Alemanha Ocidental em 1980, durante os Jogos Olímpicos de Lake Placid. Uma vitória que, segundo ele, teve valor heróico ainda maior que a dos colegiais americanos sobre as feras soviéticas na mesma competição — fato que deu origem ao filme "Desafio no Gelo".

A Romênia integrou o grupo azul, junto com Tchecoslováquia, Suécia, Estados Unidos, Alemanha Ocidental e Noruega. A campanha dos discípulos do conde Drácula começou da melhor forma possível, com uma goleada de 6-4 sobre a Alemanha na histórica data de 12 de Fevereiro de 1980. Infelizmente derrotas para a Suécia (8-0), Checoslováquia (2-7) e Estados Unidos (2-7) tiraram os romenos do quadrangular final. Na última partida contra a Noruega, sem motivação, os romenos apenas empataram em 3-3, no que é considerado até hoje na terra de Espen Knutsen o maior feito do hóquei norueguês de todos os tempos (?).

Cadê a cobertura...

...da última partida entre Maple Leafs e Montreal Canadiens, devem estar perguntando meus seis leitores. Bem, devido à lentidão da minha conexão ainda não acabei de baixar o jogo por completo, então fica pra próxima edição.


Eduardo Costa odeia Hip-Hop e escutava Gangrena Gasosa — banda ícone do Saravá Metal — enquanto escrevia essa matéria.
OUTRO TARTARUGA Sean Avery assumindo a posição tartaruga para apanhar (AP)
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Página publicada em 30 de novembro de 2005.