O que você faria se pudesse montar uma equipe de expansão e entrar
na NHL agora, neste exato momento? Não, eu falo sério! Qual seria
sua primeira reação?
Eu tentei responder a isso, até para achar uma saída para todo
o drama vivido pelas equipes de expansão nas suas primeiras temporadas.
Mas, no fim das contas, acho que não há forma mais correta de
se portar do que a dessas equipes. No fim das contas não tem jeito,
seu time será montado pelas sobras dos outros times. Com sobras,
não há como montar um time competitivo nem no futebol (que o diga
os times brasileiros que adoram troca-troca de migalhas), quanto
mais num esporte que exige uma equipe coesa e sem falhas em qualquer
posição.
Peguemos alguns exemplos recentes: O Tampa Bay levou 10 anos para
montar um time capaz de chegar a algum lugar, e era referência
em termos de ruindade até três temporadas atrás. Os Senators,
atual potência da liga, levaram pelo menos outros oito anos para
começarem a ter algum respeito perante a NHL (em temporada regular,
que fique claro). Outras equipes mais recentes, como os Thrashers
e Blue Jackets ainda penam para estrear nos playoffs.
A exceção à regra parece ser o time de Minnesota. Porém, como
formar uma equipe capaz de duelar de igual para igual com grandes
potências da liga logo nas primeiras temporadas? E preste atenção
nos adversários de divisão do Wild: Colorado Avalanche, Vancouver
Canucks, Edmonton Oilers e Calgary Flames, todas equipes candidatas
a chegar à fase final da liga, e até mesmo a brilhar nela.
Aqui vai um pequeno guia do que diferencia o Wild das outras franquias
de expansão:
1 - Contrate um técnico competente e confie em seu trabalho
Jacques Lemaire pode ser reconhecido como um dos maiores "trappers"
da liga e como praticamente o inventor do anti-jogo. Mas não dá
para negar sua capacidade de converter uma equipe mediana em candidata
ao título. Foi assim anteriormente que ele conseguiu levar os
fracos Devils a um título. É assim que ele consegue lidar noite
após noite com cada adversário da liga.
Vale destacar também sua capacidade de motivação e liderança,
especialmente em relação a jogadores jovens. Alguém que consegue
trazer o desejo de um jogador que estava com sua carreira comprometida
que nem Daigle merece todo o crédito do mundo
2 - Tenha uma base de torcedores sólida: Nas três últimas
temporadas, apesar de ter apenas uma presença nos playoffs, o
time do Minnesota manteve seu caixa no verde durante todas as
temporadas. Além disso, mesmo quando esteve entre os últimos,
a equipe foi capaz de lotar sua arena.
Tudo fica mais fácil por Minnesota ser a cidade mais canadense
dos EUA: uma das poucas regiões norte-americanas que possui hóquei
no sangue, assim como os vizinhos do norte.
3 - Tenha uma sólida dupla de goleiros: Ok, nenhum dos dois
goleiros do Minnesota são capazes de disputar um título de Vezina
ou algo do tipo. Mas ter dois goleiros competitivos como Dwayne
Roloson e Manny Fernandez facilita muito a vida de Lemaire. O
próprio Fernandez declarou, ainda na pré-temporada, que "não podia
ter desafio melhor do que brigar pelo posto de n.° 1 com um goleiro
top como Roloson. Ele me faz querer ser melhor". Isso tem dado
resultado: Os goleiros têm se revezado no posto de n.° 1, e ambos
possuem um percentual de defesas acima dos 92% na atual temporada.
4 - Invista e confie no seu franchise player: Marian
Gaborik é o único jogador que se sobressai frente ao mediano elenco
do Wild. É também o único autorizado oficialmente por Lemaire
a abandonar a defesa para ser o marcador de gols. Não é à toa.
Gaborik foi a única escolha top que o Minnesota Wild pôde usar.
Desde então, graças às suas boas campanhas, o time teve que recrutar
jogadores na parte intermediária das escolhas. Ainda assim, a
equipe tem feito um bom trabalho: Quem acompanha o Wild de perto,
já deve ter ouvido falar de Pierre-Marc Bouchard, escolhido como
8° geral em 2002, e atual destaque do time.
5 - Tenha uma boa base de "carregadores de piano": Tão importante
quanto ter uma estrela, é ter aqueles jogadores capazes de fazer
o trabalho sujo e incomodar o adversário sempre que possível.
Disso o Wild está cheio. E ainda foi esperto o suficiente para
fortalecer seu elenco com outros dois jogadores altamente esforçados,
e capazes de contribuir nos dois lados do gelo com a equipe —
Todd White e Brian Rolston —, o que nos leva ao último tópico.
6 - Saiba contratar: Às vezes, é muito mais importante se
enxergar os setores deficientes da equipe e reforçá-los do que
fazer uma grande contratação. A perda de Andrew Brunette foi rapidamente
reposta por Rolston. Todd White, ex-central da segunda linha dos
Sens, também vem apoiando a equipe e desempenhando papel fundamental,
principalmente nas equipes especiais.
Apesar da classificação atual não refletir o verdadeiro potencial
da equipe, prepare-se para uma reviravolta. Gaborik (sim, aquele
citado acima) está de volta à equipe e tudo deve mudar daqui para
frente. O quão longe eles irão? Não dá para saber. Mas, recitando
Lemaire (que citou Sharapova, que já havia citado Serena Williams):
"Estamos mirando na lua. Mesmo que erremos, ainda estaremos entre
as estrelas".
Daniel Novais escreveu
essa matéria com um olho no seriado Supernatural.