Calgary Flames e San Jose Sharks fizeram a final da forte Conferência Oeste dos últimos playoffs. Duas surpresas que deixaram uma pergunta para ser respondida nesta temporada: reais forças dentro da NHL ou times de uma temporada só?

Nesta temporada, os Flames começaram mal, muito mal. Tanto que muitos associaram a palavra "cinderela" — designada sempre às equipes que surpreendem em uma pós-temporada e, no ano seguinte, afundam sem pena e sem glória — ao time da cidade de Calgary. O goleiro Miikka Kiprusoff, herói na campanha anterior, andou irreconhecível. Porém, isso durou apenas o mês de outubro e, em Novembro, a verdade foi restabelecida em Alberta. Kiprusoff voltou a frustrar seus adversários, a defesa dos Flames se consolidou como a mais brutal e implacável da liga e o astro maior, Jarome Iginla, apertou a tecla play e começou a produzir.

Agora são os Sharks que estão no limbo, com um mês de novembro deprimente e ultrajante. Nove derrotas consecutivas, um ataque improdutivo, uma defesa que dorme em momentos cruciais e o outrora brilhante Evgeni Nabokov em fase medíocre, digna de Pat Jablonski em seus piores dias.

Mas, assim como os Flames voltaram a trilhar o caminho dourado das vitórias, os torcedores do time californiano também podem ficar tranqüilos porque essa fase é apenas um momento ruim que já vai passar, certo? Errado! Ao contrário dos Flames, os Sharks não possuem a mínima chance de chegar tão longe como na temporada anterior. Podem, sim, almejar a pós-temporada, porém mais do que isso é pura utopia.

O engraçado é que a equipe estava em situação semelhante no mesmo ponto — um quarto de temporada disputado — em 2003, e, mesmo assim, venceu a Divisão do Pacífico. Só que as coisas mudaram. Primeiro, ninguém chegou para suprir o experiente Vincent Damphousse, o batalhador Mike Ricci e o sempre bom defensor Mike Rathje. Segundo, o equivalente de Iginla nos Sharks é Patrick Marleau. O central tem lá seus lampejos de craque, pode patinar tão rápido quanto Richard Park, e vem produzindo uma média próxima a um ponto por partida. Mesmo assim ele não parece ser aquele jogador que pode chamar pra si a responsabilidade e, num lance, decidir uma complicada partida.

Já a maioria dos outros atacantes do time vem produzindo menos que funcionário público em véspera de feriado. A equipe é uma das que mais disparam a gol, mas tem um dos piores aproveitamentos. Antes da partida — ou pelada, como definiu nosso amigo Humberto Fernandes — contra os Red Wings, a equipe só havia marcado mais gols que três equipes na liga: St Louis Blues, Columbus Blue Jackets e Florida Panthers.

Nils Ekman, uma das gratas surpresas da equipe em 2003-04, voltou a ser um simples mortal. Alyn McCauley — oito pontos em 23 jogos — parece estar sentido saudades da época em que sempre era lembrado como moeda de troca em Toronto, e não da temporada passada, quando apresentou ótimos +23 e 47 pontos. Jonathan Cheechoo — principal asa direito do time — também vem figurando na lista dos jogadores mais frios do momento, mesmo tendo atuado a maior parte do tempo na primeira linha do time, junto a Marleau e Marco Sturm. Por falar no alemão Sturm, ele marcou, contra os Wings, seu primeiro gol em uma dúzia de jogos.

O novato Milan Michalek teria até potencial de desbancar Marleau como atleta mais talentoso do time, mas tem um joelho de cristal que a qualquer momento pode tirá-lo de circulação. Contribui defensivamente, mas só enviou o disco para as redes adversárias duas vezes nesse ano. O também jovem Marcel Goc está tendo uma oportunidade de ouro de tirar de Alyn McCauley o status de segundo central do time. Muitos analistas locais consideram Goc o segundo melhor jogador do time até agora.

Tanta aridez dá asas à imaginação da imprensa especializada. O jornal Ottawa Sun já publicou que a direção dos Sharks está de olho gordo em Martin Havlat — também desejado por Rangers e Hurricanes.

Na defesa, o que prometia ser uma das melhores duplas da NHL vem decepcionando. E em sua maior parte devido a Scott Hannan, um dos pilares do time, que vem atuando tão mal — com um índice de -17 em 23 jogos —, que vê sua chance de disputar as Olimpíadas de Inverno com a seleção canadense ficar cada vez mais distante. E isso com um tal Dion Phaneuf brilhando tanto, que já faz com que uma parcela considerável da imprensa do Canadá já exija a presença do defensor dos Flames em Turim. Seu companheiro Brad Stuart também apresenta um índice negativo, mas vem pontuando o esperado.

Diante de tanta negatividade, um nome provoca tímidos sorrisos em San Jose: Nolan Schaefer, o goleiro novato que segurou a barra quando Nabokov esteve inativo por três semanas. O garoto — escolha de quinta rodada no recrutamento de 2000 — venceu cinco dos seis jogos que disputou, bem diferente do já experimentado Nabokov, que, mesmo não enfrentando tantos disparos por partida nessa temporada, vem encontrando dificuldades em defender até mesmo as mais simples. Contra os Flames ele aceitou dois do meio da rua. Vacilou também contra os Canucks na seqüência e, na última partida contra os Red Wings, levou um caminhão de gols. No próximo verão o vínculo dele com os Sharks acaba e, se Evgeni quiser manter sua conta bancária recheada, é bom voltar a ser aquele goleiro de elite.

O treinador Ron Wilson ainda tem um material decente nas mãos, mas, como já afirmei acima, realizar o feito da última temporada, sem modificações consideráveis — o que é difícil dentro da atual conjuntura da NHL —, é uma tarefa impossível.


Eduardo Costa agradece ao leitor Vinícius Assumpção pelo apoio incondicional ao hóquei e à TheSlot.com.br.
SEGURA, NABOKOV Wade Brookbank, dos Canucks, foi um dos muitos a vazar Evgeni Nabokov nesse último mês (Chuck Stoody/AP)
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Página publicada em 30 de novembro de 2005.