Por: Humberto Fernandes

O Canadá era o grande favorito para a conquista da medalha de ouro e é fácil ver por quê: profundidade.

Profundidade não é um chavão. Por mais que se recorra a esse quesito para explicar a diferença entre os diversos times, seu uso não perde o efeito.

É possível ganhar um jogo ou um campeonato tendo um time pior — e isso realmente acontece frequentemente —, mas aquele que tem o melhor elenco é sempre favorito e está mais perto da vitória.

Como o Canadá nos Jogos Olímpicos de Vancouver.

Nesta pesquisa, os sete principais times da competição foram observados, enquanto os demais foram ignorados por terem pouca relevância.

As seleções foram dispostas de acordo com a classificação final e seus jogadores foram separados por posição (atacantes e defensores), ordenados de acordo com o tempo de gelo por jogo, do maior para o menor.

Olhando desta forma, a superioridade canadense é absurda. A medalha de ouro era obrigação para um elenco que, comparado aos demais, parece de outro mundo.

Ataque

Canadá Estados Unidos Finlândia Eslováquia
S. Crosby J. Langenbrunner M. Koivu P. Demitra
R. Nash R. Kesler T. Ruutu M. Handzus
P. Marleau P. Kane S. Koivu M. Hossa
E. Staal Z. Parise V. Filppula M. Gaborik
J. Toews P. Stastny T. Selanne J. Stumpel
R. Getzlaf D. Brown N. Hagman R. Zednik
D. Heatley J. Paveslki N. Kapanen Z. Palffy
J. Iginla P. Kessel J. Lehtinen T. Kopecky
J. Thornton C. Drury O. Jokinen B. Radivojevic
C. Perry R. Malone J. Ruutu M. Satan
M. Richards D. Backes V. Peltonen M. Hossa
B. Morrow B. Ryan A. Miettinen L. Bartecko
P. Bergeron R. Callahan J. Immonen M. Cibak

Suécia Rússia República Tcheca
N. Backstrom A. Ovechkin P. Elias
D. Alfredsson E. Malkin T. Plekanec
H. Zetterberg I. Kovalchuk M. Erat
L. Eriksson P. Datsyuk D. Krejci
H. Sedin A. Semin T. Fleischmann
J. Franzen M. Afinogenov P. Cajanek
D. Sedin A. Radulov M. Michalek
P. Forsberg D. Zaripov M. Havlat
P. Hornqvist A. Morozov J. Jagr
M. Weihandl V. Kozlov R. Cervenka
S. Pahlsson S. Fedorov T. Rolinek
F. Modin S. Zinovyev J. Vasicek


Nas primeiras três ou quatro posições da tabela, alguns times até se equivalem, mas à medida que a lista se aproxima do fim, com os atacantes que somaram menos tempo de gelo durante os jogos, é possível notar a imensa vantagem carregada pelo Canadá.

O décimo atacante do time em tempo de gelo, Corey Perry, marcou quatro gols no torneio. Na NHL, ele é o 21.º em pontos. Agora compare-o com os adversários da mesma linha na tabela: Ryan Malone, Jarkko Ruutu, Miroslav Satan, Mattias Weinhandl, Viktor Kozlov e Roman Cervenka. É outro mundo.

Esse décimo atacante do Canadá estaria, na pior das hipóteses, entre os seis melhores de qualquer outro time. O mesmo vale para o nono (Joe Thornton), para o 11.º (Mike Richards) e para vários nomes que a gerência canadense não levou para Vancouver.

Em um exercício de imaginação, o ataque do suposto time B do Canadá poderia ser escalado com: Martin St. Louis, Brad Richards, Vincent Lecavalier, Jeff Carter, Steven Stamkos, Jason Spezza, Jordan Staal, Patrick Sharp, Michael Cammalleri, Shane Doan, Alexandre Burrows, Travis Zajac e Dan Cleary.

O Canadá foi o time que melhor distribuiu o tempo de gelo entre seus atacantes. A estratégia era simples: disputar turnos curtos e estar sempre com energia para a próxima vez. Sidney Crosby, o líder do time no quesito, disputou 16:56, em média, por jogo. Foram cinco minutos a mais por jogo que o 12.º atacante do time (Brenden Morrow). Na NHL, a diferença entre o maior tempo e o menor entre os atacantes pode ser superior a 15 minutos.

As outras seleções tentaram seguir a mesma estratégia adotada pelos canadenses, mas sem tamanha profundidade, era preciso exigir mais dos principais atacantes, criando uma nítida distinção entre primeira e quarta linha. Ainda assim, os líderes de República Tcheca, Rússia, Suécia e Finlândia não passaram dos 18 minutos, enquanto nos Estados Unidos o maior chegou a 17. Apenas a Eslováquia teve um atacante (Pavol Demitra) com mais de 20 minutos.

Os norte-americanos montaram um time muito aguerrido e veloz, que conseguiu somar mais pontos que o canadense no confronto direto (quatro contra dois, seguindo a pontuação olímpica). Não é um time que impressiona pela escalação. Muitos desses atacantes não estão sequer na principal linha de suas equipes na NHL. Mas o hóquei no gelo é cada vez mais um esporte em que predomina a velocidade e a força. Em Vancouver, não foi diferente. O time dos Estados Unidos era muito intenso.

O ataque mais badalado antes do torneio era o da Rússia, com seu quinteto espetacular. O "pentágono mágico" não passou das quartas-de-final.

Também eliminada nas quartas, a Suécia tinha força para ir mais longe, mas seu treinador amputou o time, primeiro convocando Peter Forsberg, que não passou de uma âncora, depois escalando mal as linhas ofensivas. Os irmãos Daniel e Henrik Sedin tiveram que carregar Mattias Weinhandl, seja lá quem ele for; Henrik Zetterberg ficou preso ao lado de Forsberg e de Patric Hornqvist; e Johan Franzen jogou ao lado do ex-jogador Fredrik Modin e do esforçado Samuel Pahlsson. Boa, mesmo, só a combinação Loui Eriksson, Nicklas Backstrom e Daniel Alfredsson, a melhor linha do torneio para alguns membros da imprensa.

Uma curiosidade sobre a Eslováquia: apenas um atacante do time tem menos de 30 anos (Marian Gaborik, e com 28). A seleção vai penar nos próximos anos até ter uma geração tão boa quanto a atual.


Defesa

Canadá Estados Unidos Finlândia Eslováquia
D. Keith R. Suter S. Salo Z. Chara
S. Weber B. Rafalski K. Timmonen L. Visnovsky
S. Niedermayer J. Johnson J. Pitkanen M. Strbak
D. Doughty E. Johnson T. Lydman A. Meszaros
C. Pronger B. Orpik S. Lepisto A. Sekera
D. Boyle T. Gleason L. Kukkonen M. Jurcina
B. Seabrook R. Whitney J. Niskala I. Baranka

Suécia Rússia República Tcheca
N. Lidstrom S. Gonchar M. Zidlicky
M. Ohlund A. Markov T. Kaberle
N. Kronwall I. Nikulin F. Kuba
H. Tallinder F. Tyutin J. Hejda
D. Murray D. Kalinin P. Kubina
T. Enstrom D. Grebeshkov R. Polak
J. Oduya A. Volchenkov Z. Michalek
M. Johansson K. Korneyev M. Blatak


Agora a comparação fica ainda mais desigual, em um setor fundamental.

Chris Pronger, um dos melhores defensores da última década, vencedor do Troféu Norris e do Troféu Hart, nome certo na primeira linha de qualquer time da NHL, foi apenas o quinto defensor da seleção canadense. Na mesma linha da tabela, os seus "semelhantes" nos outros países foram Brooks Orpik, Sami Lepisto, Andrej Sekera, Douglas Murray, Dimitri Kalinin e Pavel Kubina. Chega a ser covardia. Breant Seabrook, defensor que pouco atuou (8 minutos por jogo) no time canadense, seria top-4 em qualquer outra seleção do torneio.

Seis dos sete defensores canadenses estão entre os 11 maiores pontuadores da posição na atual temporada da NHL. Nenhum país do mundo possui algo assim.

Continuando com o exercício de imaginação, a defesa do potencial time B do Canadá seria formada por: Mike Green, Dion Phaneuf, Brian Campbell, Jay Bouwmeester, Stephane Robidas, Tyler Myers e Chris Phillips. A defesa "reserva" é mais talentosa do que quase todas do torneio Olímpico, Canadá e Suécia à parte.

O tempo de gelo também foi bem distribuído entre os defensores canadenses. Basicamente as trocas de linhas consistiam na saída de uma ótima dupla para a entrada de outra tão confiável quanto. Entre Duncan Keith, o defensor que mais atuou (20 minutos por jogo), e Dan Boyle, o sexto em tempo (17 minutos), a diferença foi de apenas três minutos. Na NHL, a desproporção é bem maior, superando os 15 minutos.

Sem profundidade semelhante, as demais seleções tiveram que utilizar mais os principais nomes da defesa. Nos Estados Unidos, Ryan Suter chegou a quase 23 minutos por jogo e havia uma clara distinção entre os pares. Na Finlândia, idem, com o agravante de ter o defensor (Sami Salo) com o maior tempo de gelo médio do torneio, com 24 minutos por jogo. Pela Eslováquia, cinco defensores se revezavam no gelo enquanto Zdeno Chara, o recordista de minutos jogados em Vancouver, com 164, não saía de lá.

Suecos, russos e tchecos foram os únicos a utilizar oito defensores, geralmente dispostos em quatro duplas fixas.

O desempenho da defesa norte-americana merece ainda mais elogios por ter sobrevivido aos cortes de Mike Komisarek e Paul Martin, dois nomes que estariam no top-4 do time.

No time russo, é impossível não notar o abismo existente entre os atacantes e os defensores. Tudo que o ataque tem de bom, a defesa tem de ruim. E fica pior quando o treinador utiliza Anton Volchenkov como o sexto nome na hierarquia, abaixo até de Denis Grebeshkov e seu saldo de -16 na temporada.

Por tudo que foi exposto aqui, ao Canadá não cabia outro resultado diferente da conquista da medalha de ouro. Não havia um concorrente à altura no torneio, o que torna ainda maior a façanha do time dos Estados Unidos.

Humberto Fernandes aderiu ao twitter.

Vancouver2010.com
Os campeões olímpicos exibem suas medalhas de ouro.
(28/02/2010)

Vancouver2010.com
Ninguém pode contra o Canadá e sua profundidade.
(28/02/2010)

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A medalha de prata norte-americana é mais impressionante que a medalha de ouro canadense.
(28/02/2010)

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Página publicada em 5 de março de 2010.