Talvez tenha sido o dia-limite de trocas mais muquirana que eu já
vi. Marcado para ocorrer logo após as Olimpíadas de Inverno, o evento
ficou claramente esvaziado pelas trocas que antecederam a parada da
liga — aquelas sim foram trocas de peso — e muito ofuscado
pelo brilho intenso da final olímpica entre Canadá e Estados Unidos.
Apesar disso, o dia-limite teve lá suas trocas.
Talvez pela falta de uma grande troca, ou de algum jogador mais renomado
e muito demandado ter sido negociado, a impressão que ficou para mim
é que esse foi um dia-limite de trocas menores. Ou melhor, um dia-limite
sobretudo de trocas envolvendo jogadores de escalões mais baixos. É
claro que a maior parte das trocas nos dias-limite geralmente são essas,
mas elas geralmente acabam ofuscadas pelas grandes. Como não houve grandes,
as medianas (e baixas e até as irrelevantes) ganham proporções maiores
do que deveriam na mídia. Por outro lado, se lembrarmos que o grande
nome do ano passado foi Olli Jokinen...
Nesta temporada, nomes de peso como Ilya Kovalchuk, Dion Phaneuf e Jean
Sebastien Giguere já haviam sido negociados antes. Kovalchuk era o nome
do ano para o dia-limite e a gerência do Atlanta optou por desfazer-se
dele antes desse dia frenético. Phaneuf foi uma surpresa (ao menos para
mim, e sobretudo pelas patacas que o Calgary aceitou em troca). Giguere
foi um alívio (para os Ducks). Ou seja, sobrou muito pouca gente de
algum peso para o dia final. Ainda assim, houve quem fizesse bons movimentos.
Vamos a eles, mas focando somente em cinco deles, todos objetivando
no mínimo os playoffs (ou seja, nada de vendedores aqui).
Quem se deu bem?
O Pittsburgh Penguins foi novamente um dos times que melhor se
reforçaram. Jordan Leopold agrega valor ao time, sobretudo se você pensar
que ele chega em substituição a Martin Skoula. Alexei Ponikarovsky foi
outra bela aquisição, em se tratando da magnitude desse dia-limite.
É o tipo de jogador que deve atuar na segunda ou terceira linha do time,
contribuindo ofensivamente para um time já bastante tarimbado nesse
ponto. O custo disso? Uma escolha de segunda rodada (por Leopold) e
um prospecto (por Ponikarovsky). Os Penguins agora estão melhores e
seguem um sério candidato ao bicampeonato.
O Anaheim Ducks reforçou bem seu sistema defensivo. Aaron Ward
é um bom defensor (que Scotty Bowman não nos ouça), com muita experiência
e Copas Stanley no currículo. Se você pensar que ele chegou e Nick Boynton
saiu, a coisa melhora ainda mais. Melhor que isso foi a chegada de Lubomir
Visnovsky no lugar de Ryan Whitney, que andava um tanto abaixo do esperado
nesta temporada. Visnovsky chega possivelmente para ser o defensor número
2 da equipe. Mas o grande gol veio mesmo antes do dia-limite, quando
os Ducks conseguiram quem arcasse com o pesado salário de Jean Sebastien
Giguere. O Anaheim surge talvez como o mais forte candidato à oitava
vaga do Oeste.
O Washington Capitals apostou em Scott Walker e eis um jogador
que chega baratinho e que pode trazer muito mais do que uma ínfima escolha
de sétima rodada que os Canes receberam em troca. Claro que depende
de ele conseguir se recuperar da contusão na cabeça sofrida na temporada
passada (Walker nunca mais foi o mesmo desde então). Mas é uma aposta
sem riscos, visto o dispêndio irrelevante. Uma movimentação mais interessante,
e mais cara (uma escolha de segunda rodada), trouxe Eric Belanger. Trata-se
de um central de produção e salário razoáveis, que certamente melhorará
o miolo do time. Melhor que tudo isso foi a contratação de Joe Corvo,
defensor que vai melhorar ainda mais a já excelente vantagem numérica
(VN) do time.
O Phoenix Coyotes vem sendo apontado por alguns analistas como
o grande vencedor, ou o time que mais se reforçou nesse dia-limite.
Que eles se reforçaram, não tenho dúvidas disso. Mas tenho sérias dúvidas
quanto à badalação em torno de alguns desses reforços. A começar por
Mathieu Schneider, praticamente um ex-jogador em atividade que andava
largado em Vancouver desde o ano passado. Outro defensor que chegou
é o rodado Derek Morris, que tem seu valor, mas que há algum tempo segue
em declínio. Pode ser que reviva bons momentos em Phoenix. Se a ideia
é melhorar a VN, é provável que dê certo — mas apenas porque a VN dos
Coyotes é muito ruim. Wojtek Wolski é caro, mas é bom jogador (é até
estranho que o Colorado Avalanche o tenha negociado) e deve agregar
ao surpreendente time do Phoenix. Já Lee Stempniak foi outra bela aquisição:
trata-se de um jogador versátil e que deve elevar o nível em Phoenix
(ao menos em relação a Toronto).
Por fim, o Los Angeles Kings, que adicionou pontualmente dois
jogadores. O central Jeff Halpern, bom de face-off e eficiente matador
de penalidades, é versátil um típico jogador de equipe, daqueles que
sempre priorizam o coletivo. Frederik Modin foi a outra contratação,
e ele significa sobretudo experiência para o time. Ainda que haja dúvidas
sobre seu estado atual, o custo de sua contratação foi nulo: uma mera
escolha de sétima rodada.
Marcelo Constantino não assistia a um jogo de hóquei no gelo pela TV desde 2004. Obrigado às Olimpíadas de Inverno e às redes de TV que se dispuseram a transmitir os jogos ao vivo.