No recrutamento de 1997, havia um jovem goleiro que tinha altas expectativas em relação a uma futura carreira na liga de hóquei no gelo mais importante do mundo. Ele acabou sendo recrutado ainda na primeira rodada e na quarta posição geral, entretanto, para seu azar ele foi recrutado por um time que não tem tido muito sucesso nas últimas décadas e que, até mesmo, tem se tornado um pouco um símbolo de fracasso na NHL.
Esse jovem goleiro era Roberto Luongo e que acabou recrutado pelo moribundo New York Islanders.
Mas para aquele garoto de Montreal, mais especificamente de Saint Leonard, o que importava era ter sido recrutado.
Ele jogou pelos Isles na temporada 1999-2000. Foram apenas 24 partidas com apenas sete vitórias, mas foi o suficiente para mostrar que ele tinha potencial. Logo na sua estreia na NHL, ele foi o principal responsável pela vitória dos Isles sobre o Boston Bruins por 2 a 1, ao fazer nada menos do que 43 defesas!
Na temporada seguinte, ele acabou indo para a Flórida, jogar pelos Panthers, e por lá ficou por cinco temporadas. Na época, ele se mostrou muito frustrado com a gerência do time de New York, porque "em uma hora eles me dizem que eu sou o goleiro do futuro do time, na hora seguinte eles me mandam embora". Mesmo mostrando talento, Luongo fazia parte de uma organização também sem muitas perspectivas no futuro próximo e isso o deixava frustrado. Alguns comentários seus chegaram a ser veiculados na época pela imprensa, e ao final da temporada 2005-2006, cansado de tanto esperar e não ver a situação melhorar na Flórida, ele tinha decidido que já era hora de mudar de ares e tentar a sorte em outras terras.
Às vésperas de se tornar um agente livre, Luongo recusou todas as propostas que o time da Flórida lhe fez, forçando assim a sua negociação.
A troca foi de peso, na época, porque os Canucks mandaram para o sudeste americano Todd Bertuzzi, Bryan Allen e um então promissor goleiro em Alex Auld.
O time de Vancouver não mediu esforços e assinou com Luongo por quatro temporadas e cerca de 27 milhões de dólares, na época. Sua estreia nos Canucks também foi vitoriosa e dessa vez contra o Detroit Red Wings. Desde 2006-2007 jogando pelo time de British Columbia, Roberto Luongo já deixou sua marca na história ao ser o goleiro com o maior número de vitórias em uma só temporada pelos Canucks (47) e se tornou um dos jogadores que mais se identificaram com a torcida de Vancouver.
Foi apenas nos playoffs de 2007 que ele conheceu o gosto de vencer uma série de playoffs, mas em compensação, nos playoffs do ano passado, ele também sentiu o desgosto de uma eliminação sabendo que seu time poderia ir mais longe, quando o Chicago Blackhawks passou pelos Canucks em direção à final da Conferência Oeste.
A sua liderança e a influência que ele tem no time, dentro do gelo e com a torcida, é tamanha que em 30 de setembro de 2008 ele foi nomeado pelos Canucks o capitão do time, sendo o primeiro goleiro a ter esse posto desde 1947!
Mesmo criticado pela imprensa depois da derrota para o Chicago nos playoffs, Luongo manteve o apoio dos seus fãs e declarou publicamente que estava decepcionado consigo mesmo e que tinha decepcionado os seus companheiros e os fãs.
Entrando no último ano do seu contrato, Luongo não queria viver novamente a chata situação de ter que negociar durante a temporada ou no calor da pós-temporada e decidiu que a data limite para fecharem uma extensão seria antes da temporada 2009-2010 começar. E a gerência dos Canucks soube entender que um jogador desse porte e com tamanha identificação com a torcida e apoio não se troca, pelo menos quando você realmente aspira algo mais do que apenas estar nos playoffs.
Dessa forma, ambas as partes concordaram em assinar um dos maiores contratos da história, quando Luongo renovou por mais 12 temporadas. Agora estava selado que Luongo seria um Canucks provavelmente pelo resto da sua carreira.
Apesar de ser reconhecidamente um dos melhores goleiros da liga, Luongo ainda não tinha o reconhecimento em torneios internacionais. Claro que ajudava negativamente o fato de ser de um país rico em jogadores, e de ser contemporâneo de outra fera: Martin Brodeur. Mesmo assim ele mantinha viva a esperança de representar seu país nos Jogos Olímpicos de inverno em Vancouver, que foram realizados em fevereiro de 2010.
Quando saiu a convocação do time, Luongo estava lá e disputava as opiniões da torcida e da imprensa que se dividiam entre ele e Brodeur como titular. Nem mesmo a vantagem teórica de disputar as Olimpíadas na sua arena pesou a favor de Luongo. No começo do campeonato, a equipe técnica do time canadense deu a Brodeur a condição de goleiro titular, pautado principalmente na sua experiência em torneios como esse.
Quando Brodeur deixou a desejar na última partida da primeira fase contra os americanos, abriu-se a brecha para que Luongo ganhasse a posição. E ele não deixou por menos. Soube aproveitar a oportunidade que lhe foi dada e não largou mais. Foram vitórias contra a Alemanha, Rússia e a Eslováquia que lhe garantiram a condição de goleiro titular contra os americanos na disputa pela medalha de ouro.
Em uma partida fantástica e de fazer roer as unhas das mãos e dos pés, o Canadá finalmente se sagrou campeão olímpico e Luongo estava lá, como titular da seleção do seu país. Feliz da vida e com a grande medalha de ouro estampada no peito, Luongo era só alegria e cordialmente fez questão de retribuir os seus fãs que deram todo o suporte e apoio necessário para que ele realmente se sentisse em casa.
Como ser indiferente a uma arena lotada e que gritava "Louuuuuu" toda vez que Roberto Luongo, ou Bobby Lou para os íntimos, tocava no disco ou fazia uma defesa, por mais simples e trivial que fosse?
"Esse é o momento mais importante da minha vida. Você espera uma vida inteira para viver isso. Agora eu tenho essa medalha [de ouro] e ninguém vai conseguir tirar isso de mim," dizia Luongo ao final da cerimônia de premiação. E como todo bom ídolo, e não esqueceu dos seus súditos: 'Essa medalha aqui vai para todo mundo que acreditou em mim, que me ajudou e me apoiou, principalmente para essa torcida fantástica e que foi o que mais me ajudou a estar aqui hoje."
Por nada, Lou. Na verdade, somos nós, torcedores dos Canucks e do Canadá, que o agradecemos. Sinta-se em casa, afinal de contas, essa é a sua casa, você foi demais, você foi simplesmente... Louuuuuuuuuu!