Por: Humberto Fernandes

Eu nunca escondi dos leitores de TheSlot.com.br que meu time favorito é o Detroit Red Wings. Na verdade ninguém da redação tenta esconder para quem torce e é fácil indicar o time de cada um com base nos textos e assinaturas ao longo desses sete anos de história. Mas é nossa obrigação zelar pela imparcialidade, ainda que em diversos momentos seja difícil separar o pseudo-jornalista do torcedor. O leitor tem nas mãos o formulário de contato e o blog da redação para nos criticar sempre que passarmos do limite.

Quando a capa da última edição foi produzida, o Anaheim Ducks liderava a série por 2-1, tendo vencido o jogo 3 em casa. Depois de eliminar o San Jose Sharks e abrir vantagem sobre os Red Wings, nada fazia mais sentido que dizer: "Lá vem o Pato". Àquela altura, se os Ducks eliminassem os Red Wings não seria surpresa alguma, porque eles já fizeram isso antes: em 2003, como zebra, em 2007, como favoritos. Tendo forçado os atuais campeões a defenderem o título até os últimos minutos do jogo 7, não dá para levantar aqui a "maldição da capa".

Pesou contra os Ducks a falta de profundidade no ataque. Em todos os jogos dos playoffs eles chutaram menos a gol que os Sharks ou os Red Wings. É um estilo de jogo de alto risco, que para dar certo tem que necessariamente contar com um goleiro em ótima fase. Jonas Hiller foi excelente, mas passou longe de ser um fenômeno como Jean-Sebastien Giguere em playoffs passados — a comparação entre os dois não tem cabimento. Mas é o jeito que o time podia jogar e vencer, é o que Randy Carlyle podia montar com as peças que tinha em mãos. Ele construiu uma linha de ataque fenomenal, que todas as vezes em que pisava no gelo amedrontava os torcedores do Detroit, uma segunda linha com o que sobrou e outra com os melhores jogadores defensivos, para combater uma linha ofensiva adversária. Essa terceira linha era liderada por Todd Marchant, o veterano que anulou Pavel Datsyuk.

O trio Corey Perry [5], Ryan Getzlaf [2] e Bobby Ryan marcou oito dos 17 gols do time na segunda fase dos playoffs. Perry fez cinco, o mesmo número de gols dos outros três atacantes do Anaheim que marcaram gols (Teemu Selanne [3], Ryan Carter e Todd Marchant).

Os outros quatro gols do time foram marcados pelos defensores (Scott Niedermayer [2], Chris Pronger e Ryan Whitney), justamente a força do time. Pronger é um monstro: 51 pontos e +23 em 62 jogos nos playoffs desde o locaute. Todo mundo o odeia por isso, porque ele é muito bom. E também porque ele abre a caixa de ferramentas e derruba os atacantes adversários invariavelmente. Da profundidade defensiva Carlyle não podia reclamar. Contando ainda com James Wisniewski e François Beauchemin, ele podia formar duas duplas de primeira grandeza e ainda uma terceira confiável. Defesa ganha jogo e ganha a Copa.

Tivesse disponível um material humano melhor no ataque, os Ducks poderiam ter ido mais longe. Bem mais longe.

Um dos vários fatores que decidiram o confronto a favor dos Red Wings foi justamente a profundidade ofensiva, embora apenas sete atacantes tenham marcado gol, um homem a mais que o contingente do Anaheim. No time de Mike Babcock não dá para dividir os gols por linha, porque o treinador mudou radicalmente as combinações por duas vezes durante a série, inclusive para o jogo 7, mas dá para dividir por grau de importância dos atacantes. Johan Franzen marcou seis gols, Henrik Zetterberg três e Marian Hossa dois. Do segundo escalão marcaram Mikael Samuelsson [3], Jiri Hudler [2] e Dan Cleary. Do nível inferior Darren Helm. Dezenove dos 22 gols saíram do taco dos atacantes.

A profundidade não está no que os atacantes fizeram, mas no que eles não fizeram. Ou melhor, em quem não fez. Hossa marcou gol em apenas um jogo. Pavel Datsyuk em nenhum. Dos três gols de Zetterberg, dois foram em rede vazia. Ou seja, os três principais nomes do ataque dos Wings não foram determinantes para a vitória. Agora pegue os Ducks, tire Getzlaf, Perry e Ryan. O que sobra? A bruxa do 71!

Isso é profundidade. É contar com gols de origens diversas. Quem marcou o gol da vitória no jogo 7 foi Cleary. Um gol de operário, típico gol de playoffs, de luta intensa diante do goleiro adversário. O maior gol de toda a sua carreira.

Essa foi uma das séries mais difíceis que eu vi o Detroit vencer. Se é assim para os torcedores, imagine para os jogadores. O que passa na cabeça deles ao perceber que eles derrotaram um time duríssimo em sete jogos, depois de cruzar o país por quatro vezes, apenas para chegar à metade do caminho até a Copa Stanley? O confronto contra o Anaheim foi digno de uma final de Copa, mas valia "apenas" a vaga para as finais de conferência. Ou seja, se os Wings perderem agora, não terão conquistado absolutamente nada. É sombrio tentar pensar como um jogador nesta situação.

O próximo adversário do Detroit será o Chicago Blackhawks. Curiosamente, os times que duelaram no Clássico de Inverno, jogo disputado a céu aberto em 1.º de janeiro e vencido pelos Red Wings.

Chicago e Detroit alimentam uma das maiores rivalidades da NHL, adormecida no período em que os Blackhawks amargaram o fundo do poço. Agora eles estão de volta, assim como o ódio pelo vermelho e branco dos atuais campeões da Copa Stanley.

Os Blackhawks são jovens, rápidos e destemidos. O ataque é profundo e a defesa é forte e veloz. Pouca gente acreditava que algum time seria capaz de derrotar Roberto Luongo quatro vezes em sete jogos. Os Hawks até dispensaram o último jogo. A chave para derrotar o Vancouver Canucks foi a velocidade da defesa, que deixou o ataque canadense como retardatário. Duncan Keith, Brent Seabrook, Brian Campbell e Cam Barker sustentam o time.

Será o duelo do time mais velho contra o time mais novo dos playoffs. O confronto de dois goleiros que tiveram suas carreiras marcadas por altos e muitos baixos. Zetterberg e Datsyuk contra Jonathan Toews e Patrick Kane. Marian Hossa de um lado e Martin Havlat de outro, ex-companheiros nos tempos de Ottawa Senators. E com Scotty Bowman no Chicago.

Das quatro possíveis finais da Copa Stanley, apenas uma seria inédita, entre Carolina Hurricanes e Chicago. As demais já aconteceram nos últimos 20 anos. Em 1992, o Pittsburgh Penguins varreu o Chicago. Dez anos depois, o Detroit derrotou o Carolina em cinco jogos. Na temporada passada, o Detroit venceu o Pittsburgh no sexto jogo.

Humberto Fernandes escreve para o blog Red Wings Brasil.

Gregory Shamus/Getty Images
Dan Cleary marca o gol da vitória e comemora ainda caído no gelo.
(14/05/2009)

Gregory Shamus/Getty Images
O Anaheim Ducks valorizou a vitória dos Red Wings. Eliminaram os Sharks e levaram a segunda fase até o sétimo jogo.
(14/05/2009)

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Página publicada em 15 de maio de 2009.