Por: Thiago Leal

13: Esse é o número! Pelo menos para Joe Thornton. Ao dar assistência para Patrick Marleau marcar em vantagem numérica o gol que colocaria o San Jose Sharks novamente na frente do Vancouver Canucks no jogo 1 da final de conferência, Thornton chegou a 13 pontos nesses playoffs, seu recorde em pós-temporada até aqui. O 12º ponto fora seu gol que abriu a contagem da noite — seu terceiro gol nesses playoffs, igualando seu recorde pessoal de 3 gols.

Esses números só mostram o quanto Jumbo Joe simplesmente some em playoffs da NHL. Digo da NHL porque nos playoffs da Liga Nacional A, a divisão de elite suíça, Thornton chegou a 24 pontos que ajudaram o HC Davos a conquistar o título nacional.

Eu poderia passar os próximos parágrafos tentando convencer o leitor do quanto Thornton é incompetente e some em decisões. Mas estaria mentindo.

A rigor, o número que o central acaba de atingir não é ruim. Muito pelo contrário: é o líder do San Jose em pontos ao lado de Ryan Clowe, também com 13, e um dos líderes da pós-temporada. Ryan Kesler, que lidera os playoffs, tem 16 pontos, 5 gols e 11 assistências. Além disso, Thornton marcou dois gols vencedores e lidera o time nesse quesito ao lado de Devin Setoguchi.

Por que então falar tão mal de Joe Thornton?

Simples: as expectativas em cima do camisa 19 são altas demais e Thornton é o principal jogador do time, logo, o primeiro a ser cobrado. Seus números, embora ótimos até aqui, acabam ofuscados por Setoguchi, o jogador, digamos, mais esforçado do San Jose, principalmente em playoffs. Ninguém chuta tanto a gol quanto Setoguchi. O calouro Logan Couture segue no mesmo caminho, o mesmo vale para Joe Pavelski (com míseros 7 pontos). Some-se a isso o fato de que Setoguchi, Couture ou Pavelski não têm metade da cobrança que Thornton recebe. Setoguchi e Couture lideram o time em gols, com 6, seguidos de Pavelski, com 5.

O problema é que se espera do craque do time que decida jogos e assuma a responsabilidade quando a coisa fica complicada. Em uma comparação direta com um rival, seria como Corey Perry para o Anaheim Ducks. Foram os Ducks, aliás, quem abriram essa ferida em Thornton, em 2009, ano do Troféu dos Presidentes, quando o San Jose caiu na primeira rodada para o Anaheim e pouco Thornton se viu nos jogos.

Prova disso? Onde estava Thornton quando o Detroit Red Wings empatou e ameaçou virar a série? Nos três jogos que os Wings venceram, Thornton marcou apenas um ponto: uma assistência. E é justamente nesse momento que provaria que vale as libras que pesa. Jumbo Joe tornou a aparecer no jogo 7, com mais uma assistência, mas esteve longe de ser o nome que decidiu a série para os Sharks. E quais foram? Setoguchi, Pavelski... Ah, tá.

É dever de Thornton carregar esse peso, ainda mais agora que é o capitão da franquia. Hóquei para isso ele tem. Mas e responsabilidade, personalidade...?

Curiosamente, quem decidiu essa série contra os Wings foi alguém ainda mais omisso: Patrick Marleau. Ele, que liderou os Sharks em pontos na temporada regular, mas que em playoffs some mais ainda. Ele, que perdeu o posto de capitão por se omitir.

A história de Marleau se confunde com os Sharks, único time que ele defendeu enquanto jogador profissional. Foi outro dos mais cobrados pela eliminação precoce em 2009 e já tinha vindo de números pouco satisfatórios nas pós-temporadas anteriores. Tirar o peso de capitão de Marleau deve ter feito bem. Seus índices melhoraram um pouco e ele foi fundamental em 2009-10, na campanha que culminou com nova final de conferência. No total foram 13 pontos em 14 jogos e 8 gols marcados.

Dessa vez Marleau voltou a ter exibições discretas, fato constantemente comentado nas transmissões da ESPN. Tem apenas 7 pontos, embora acabe sendo mais notado nos jogos de que Thornton: pelo menos aparece para chutar vez ou outra.

Entre esses dois está Dany Heatley, o mais controverso, por toda sua carreira até aqui. Consequentemente, alguém que recebe tantas cobranças quanto seu colega de linha Joe Thornton.

Definitivamente, sempre esperou-se mais de Heatley. O problema é que Heatley atingiu esse mais na temporada 2006-07, quando fora um dos melhores da liga numa temporada em que Sidney Crosby (e o próprio Thornton) estava impossível. Caso tivesse levado o Ottawa Senators ao título da Copa Stanley, seria eleito o MVP e sua carreira, talvez, fosse diferente.

O problema é que há algo em Heatley. Algo que certamente não dá para explicar o que é, mas aparentemente ele "desliga" por alguns momentos. Talento, tem de sobra. Poderia ser MVP de temporada regular ou playoffs tranquilamente. Mas, mesmo com bons números, parece faltar alguma coisa. Dá a sensação de que Heatley não está dando tudo que pode. E isso incomoda, até mesmo imprensa e torcedores.

Houveram cobranças na temporada regular atual e até torcedores se manifestando em blogs e microblogs, pedindo para que Heatley demandasse uma troca. Seus índices na pós-temporada 2009-10 foram bons. Até aqui, pelo que os Sharks vêm jogando e pelas dificuldades que vêm enfrentando, deixa a desejar um pouco. Porque é Heatley, claro. Ser um craque significa também ser refém de si mesmo. Quem diabos espera de Scott Nichol que marque 20 pontos na pós-temporada e leve os Sharks ao título? Espera-se de Heatley porque ele é o cara que tem talento para isso.

Ainda há tempo para a linha Marleau-Thornton-Heatley liderar os Sharks rumo à Copa Stanley. Mas guardadas as devidas proporções, caso isso aconteça, é mais fácil o prêmio de MVP ir para Dan Boyle e os heróis da conquista serem Clowe, Couture, Pavelski, Setoguchi... mesmo com Thornton, à grosso modo, na condição de melhor jogador da franquia.

É o peso que cada um carrega.

Thiago Leal recomenda a Revista Monet de maio de 2011, página 21: leia e entenderá por quê.

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Página publicada em 16 de maio de 2011.