Por: Marcelo Constantino

[Nota do Autor: A parte inicial deste texto foi escrita no sábado passado, dia 7 de maio, quando as semifinais de conferência ainda não estavam totalmente completas. Optei por preservar esse texto e inserir um adendo ao final, escrito uma semana depois, na sexta-feira dia 13, após o jogo 7 entre San Jose Sharks e Detroit Red Wings. Dessa forma, o leitor poderá como as opiniões mudam conforme a evolução dos playoffs]

No momento eu apostaria numa final de Copa Stanley entre Boston Bruins e San Jose Sharks. Basicamente são dois times que tiveram começos cambaleantes e que se acertaram ao longo da temporada e dos playoffs. Claro que há diferenças entre ambos, inclusive na trajetória nesta temporada, mas eu os vejo num patamar acima de seus adversários de conferência.

Especificamente no caso dos Sharks, um time que começou muito mal, mas que se acertou num determinado momento para embalar e não parar mais -- ao menos até aqui.

Os Bruins despacharam o tradicionalíssimo rival Montreal Canadiens na primeira fase numa série épica, decidida somente com um gol na prorrogação de um jogo 7. Série que vai ao jogo 7 já é uma série e tanto. Série que chega a uma prorrogação de jogo 7 é pra guardar na memória. Quando se trata de times como Bruins e Canadiens, é histórico. Era certo que, além da rivalidade intrínseca, os Habs estavam sedentos para responder no gelo, numa série de playoffs, o polêmico tranco de Zdeno Chara durante a temporada. Quase conseguiram.

Passado o fantasma inicial, os Bruins tinham outro fantasma pela frente na segunda fase: o Philadelphia Flyers, que no ano passado superou um déficit de 0-3 numa mesma série contra os Bruins. Foi um feito absurdamente sensacional, mais épico ainda, e que certamente passou pela cabeça de cada jogador do Boston antes e durante a série deste ano. Mas não houve permissão para respiro dessa vez: os Bruins abriram novamente 3-0 e, no jogo 4, arrasaram os Flyers por 5-1.

E o jogo 4 foi bem significativo do que foi a série: um amplo e até surpreendente domínio do Boston Bruins.

Domínio esse que não acontece com o San Jose Sharks na série com o Detroit Red Wings. Cada partida disputada na série até agora (esta matéria está sendo escrita após o jogo 4) terminou apertada, com vitória por apenas um gol de diferença. Duas delas terminaram somente na prorrogação, e ambas com um roteiro bem parecido: Detroit na frente até algum ponto do terceiro período, empate dos Sharks e posterior vitória na prorrogação.

Esqueça a suposta superioridade dos Wings nesses jogos. Na NHL o melhor time é o que vence. Vitórias por acaso, injustas, na base da sorte são praticamente inexistentes na NHL. Ainda que existam, não interferem em toda uma série de 7 jogos. NO caso específico de Detroit x San Jose, o San Jose é o time que sabe suportar a pressão e decidir o jogo logo a seguir. O jogo 3 da série foi emblemático nesse sentido.

Esqueça também a vitória do Detroit Red Wings na sexta-feira (mas lembre-se de que eles abriram 3-0 e deixaram, novamente, o adversário empatar). Ela apenas melhora o lado dos Wings na série. Os Wings podem até vencer novamente neste domingo (o jogo deverá estar transcorrendo quando esta edição for publicada), mas não vencerão os Sharks em quatro jogos consecutivos.

O San Jose sim, é um time que me parece talhado para a final. É fisicamente muito forte e demonstra uma incrível capacidade de vencer jogos apertados, sobretudo na prorrogação. Time que vence jogos assim é time de playoffs. Talvez seja agora a vez do San Jose, finalmente -- ainda que, no momento, não consiga apontar um favorito no hipotético confronto Bruins x Sharks. De qualquer forma, vejo os Sharks com uma boa vantagem sobre o Vancouver Canucks.

Por que desconsidero a força do Tampa Bay Lightning contra o Boston Bruins na final de conferência? Vejo mais profundidade, mais defesa, muito mais força física e muito mais goleiro no Boston. São fatores fundamentais em qualquer time da NHL, sobretudo em playoffs.

Mas, claro, palpiteiros estão aí mesmo é para serem desbaratados.

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[Atualização pós jogo 7]

Eu subestimei os Red Wings. De alguma forma mágica eles mudaram o panorama das séries no terceiro período do jogo 5, quando viraram uma partida perdida, em que perdiam por 3-1. Ali eles lembraram a todos que não existe partida perdida com tanto tempo de sobra. Lembraram uma outra virada mais ainda espetacular, a do jogo 2 das finais de 1998. Até aquele domingo, tal qual eu acreditava, a série era do San Jose. Do domingo em diante, daquele terceiro período em diante, comecei a ter dúvidas.

Um jogo 6 sensacional, em que o Detroit dominava mas não conseguia marcar – até marcar e ganhar --, jogou por terra qualquer prognóstico. E os Sharks voltaram ao comando no jogo 7. Um jogo 7, aliás, digno de encher o peito para ser pronunciado.

Foi a série de 7 jogos mais apertada que eu me lembre de ter visto na vida. Embora estatisticamente tenham sido seis dos sete, podemos dizer que todos os jogos foram decididos por diferença de um gol apenas. O jogo 6 foi 3-1 para o Detroit, ok, mas o terceiro foi de rede vazia -- único gol assim da série. Nunca vi série assim. Foi a série mais disputada, minuto a minuto. A gangorra ora pendia para um lado, ora para outro, tanto dentro do jogo como na própria série. Seguramente foi uma das séries mais espetaculares dos últimos tempos da NHL.

Difícil apontar os MVPs da série, porque são vários. Anti Niemi, Joe Thornton, Dan Boyle, Devn Setoguchi? Todos seriam merecedores. Se a série pendesse para o outro lado, a dúvida seria entre Jimmy Howard e Pavel Datsyuk. Todos jogaram como leões.

Paradoxalmente teremos uma final de conferência entre dois times que quase deixaram escapar uma série em que venciam por 3-0. Vancouver e San Jose deixaram seus adversários (Chicago, no caso do Vancouver, e na primeira fase) empatar uma série em que perdiam por 0-3.

Depois de vencer uma série como aquela, o San Jose me parece ainda mais talhado para a final da Copa.

Marcelo Constantino escreveu a primeira parte desta matéria durante sua torcida por Thomas Bellucci no sábado retrasado. A segunda foi ainda sob os duradouros efeitos eletrizantes do jogo 7.

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Página publicada em 15 de maio de 2011.