A menos de dois minutos do fim do jogo, o Toronto Maple Leafs marca seu quarto gol com Nikolai Kulemin e sacramenta a já anunciada derrota do Ottawa Senators. O que poderia ser só mais um ponto sofrido em mais uma derrota costumeira dos Senators teve, desta vez, um diferencial: Stéphane da Costa estava no gelo. Quem? Isso mesmo!

Da Costa é o sexto jogador francês a atuar na NHL. Antes dele vieram Andre Peloffy, Pat Daley, Paul MacLean, Philippe Bozon e Cristobal Huet. Isso considerando todos os jogadores nascidos na França. Se mudarmos o critério e passarmos a consider apenas aqueles que cresceram na França, Da Costa sobe para o terceiro, atrás apenas de Bozon (o primeirão) e Huet (o único com uma Copa Stanley no currículo).

Nascido em Paris, em 1989, Da Costa cresceu na Europa e começou a jogar hóquei aos três anos de idade, dividindo seu tempo entre França e Polônia, terra de sua mãe, junto com seus irmãos Teddy e Gabriel. Só aos 17 anos de idade Da Costa veio ao novo mundo jogar em ligas juvenis. À época, Da Costa sequer falava inglês. Disputou uma temporada pelo Texas Tornado da North American Hockey League, duas pelo Sioux City Musketeers da United States Hockey League e jogou por mais duas temporadas na conferência Hockey East, da NCAA, pela Faculdade de Merrimack. Em apenas uma ocasião a equipe onde Da Costa jogou disputou pós-temporada: os Musketeers, em 2007-08.

E como Da Costa apareceu aos olhos da NHL? O francês teve duas belas temporadas na competitiva conferência Hockey East, onde jogam boas equipes do hóquei universitário como a Universidade de Boston (de onde saíram nomes como Chris Drury e Tony Amonte) e a Universidade de Maine (Paul Kariya, Dustin Penner). Em sua primeira temporada, Da Costa foi eleito o calouro do ano, suficiente para aparecer as primeiras sondagens de equipes da NHL, devidamente recusadas pelo francês que tinha intenção de jogar mais um ano nas ligas universitárias. Na temporada atual, Da Costa liderou os Warriors em pontos com 45 pontos em 33 jogos.

No dia 31 de março, véspera do Dia da Mentira, Da Costa assinou seu primeiro contrato profissional com o Ottawa Senators e nem teve período sabático nas ligas de baixo com o Binghamton Senators ou Elmira Jackals: de cara foi jogado aos leões da NHL, estreando no sábado contra o Toronto Maple Leafs, com quase 11 minutos e meio de gelo, um bom número para quem estava apenas estreando. "Estou nervoso. E ansioso, com certeza" disse o central francês de 1,80m antes de sua estreia. "Estou vivendo o sonho". Seus pais e seu irmão Gabriel acompanharam sua estreia em Ottawa.

Infelizmente para Da Costa, sua participação no jogo de sábado contra o Toronto Maple Leafs lhe valeu apenas um recorde: um ponto negativo nas estatísticas de +/-, e de uma forma bizarra: ele e Bobby Butler tropeçaram um no outro no momento em que a defesa tentava limpar o disco em direção à zona neutra. Os dois não tenham tido participação no lance, que saiu de uma tentativa falha de Filip Kuba de isolar o disco e acabou o entregando a Clark MacArthur que armou a jogada para o gol de Kulemin. De qualquer forma, a imagem de Da Costa tropaçando em Butler não deixa de ser marcante para a sua estreia e para toda uam temporada de fracassos do Ottawa.

Na verdade as estatístcas só contabilizam chutes a gol aqueles que o goleiro defende. Da Costa por pouco não marcou em sua estreia, mandando um disco na trave de James Reimer.

Após o jogo, uma rápida coletiva onde Da Costa pode falar rapidamente sobre sua estreia, aparentemente ainda impressionado com a imprensa canadense, assim como com a torcida de Ottawa — imaginem se tivesse jogado pelo Edmonton, em casa.

De qualquer forma, foi uma estreia razoável para quem acaba de vir do hóquei universitário.

O contrato de Da Costa com os Senators é de dois anos. Esperemos por seu rendimento e suas oportunidades de jogar no time de cima para saber o quanto ele fica na capital canadense.

Da Costa jogou pela Seleção Francesa nos Campeonatos Mundiais de 2009 e 2010. Na edição 2009, disputada na Suíça, Da Costa assinalou duas assistências. Em 2010, campeonato jogado na Alemanha, foram três pontos, sendo um gol e duas assistências. É nome certo para a França no próximo Campeonato Mundial.

Dos jogadores nascidos na França que atuaram na NHL, Da Costa é o primeiro natural de Paris, capital e mais famosa cidade francesa, uma das cidades históricas mais importantes do mundo.

Franceses na NHL
André Peloffy
Natural de Sète, jogou apenas nove jogos na NHL, com o Washington Capitals na temporada 1974-75. Havia sido recrutado em 1971 pelo New York Rangers como 111ª escolha geral, mas nunca chegou a defender a franquia de Nova York. Não marcou nenhum ponto e teve um índice +/- de -8. Foi o primeiro francês a jogar na NHL. Cresceu no Canadá onde jogou hóquei juvenil e teve sua formação como jogador. Passou por ligas de baixo na América e retornou à Europa, onde encerrou a carreira em 1989. É o maior líder de pontos da Seleção Francesa com 55 gols em 42 jogos pelos Azuis.

Pat Daley e Paul MacLean
Tão franceses quanto Robyn Regehr pode ser considerado brasileiro. Daley Nasceu em Maryville e cresceu no Canadá. Foi recrutado como 89ª escolha geral do Winnipeg em 1979. Em duas temporadas com o Winnipeg Jets (1979-80 e 1980-81) disputou 12 jogos e marcou um gol. Pode ser considerado o primeiro francês a marcar gol da NHL? Sim, porque apesar de tudo jogou pela Seleção Francesa em Campeonatos Mundiais B.

MacLean nasceu na França, em Grostenquin, durante serviço militar de seu pai pelas Forças Armadas do Canadá. Com dois anos retornou ao Canadá. 109ª escolha geral de 1978 pelo St. Louis Blues, começou sua bem-sucedida carreira na NHL em 1981, jogando uma partida de temporada regular e uma de playoffs pelos Blues. Jogou 11 temporadas, sendo sete pelo Winnipeg Jets, e marcou 673 pontos (324 gols + 349 assistências) em 719 jogos de temporada regular.

Chegou a disputar jogos, incluindo as Olimpíadas de 1980 (a do Milagre...) com o Canadá.

Philippe Bozon
Merece todos os reconhecimentos de primeiro francês na NHL. Nasceu e cresceu na França, filho de Alain Bozon, que havia defendido a Seleção Francesa como capitão. Aos 16 anos de idade, Philippe Bozon foi o jogador mais jovem a vestir a camisa com o galo no peito. Pai e filho foram discípulos de um franco-canadense, Paulin Bordeleau, que havia imigrado para a França para jogar hóquei no gelo, depois de ter defendido o Vancouver Canucks.

Após vencer o Campeonato Francês em Grenoble com o Brûleurs de Loups, em 1991, Bozon se mandou para a América. Jogou por quatro temporadas com o St. Louis Blues onde marcou 41 pontos (16 gols e 25 assistências) em 144 jogos disputados. Em 1997, 1998 e 1999 foi tri-campeão alemão com o Adler Mannheim.

Indicado ao Hall da Fama da IIHF em 2008, Bozon é o atual técnico da Seleção Francesa Sub20.

Cristobal Huet
O mais notável entre a primeira geração ESPN e pós-locaute. Primeiro (e até agora único) goleiro francês a jogar na NHL. 214ª escolha geral de 2001 pelo Los Angeles Kings, este francês de Saint-Martin-d'Hères desembarcou na América do Norte aos 27 anos, após sete anos de profissional, tendo atuado pelo Brûleurs de Loups de Grenoble e pelo HC Lugano da Suíça.

No total, Huet disputou 272 jogos de temporada regular e somou 129 vitórias. Em pós-temporada foram 17 jogos e 6 vitórias. Ao jogar 20 minutos de uma partida nos playoffs da temporada 2009-10 com o Chicago Blackhawks, Huet fez história: tornou-se o primeiro francês a vencer a Copa Stanley.

Em sua carreira na NHL, Huet defendeu o Los Angeles Kings, Montreal Canadiens, Washington Capitals e Chicago Blackhawks. Aos 35 anos, continua na ativa, jogando pelo Fribourg-Gottéron, da boa Liga Nacional A da Suíça.

Thiago Leal lamenta o fim de uma era.

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