Por: Alexandre Giesbrecht

Neste domingo li a coluna de Dave Molinari, do jornal Pittsburgh Post-Gazette, em que ele lista seus favoritos para os principais troféus da NHL neste ano. Antes de apresentar seus favoritos ao Troféu Hart, dado ao jogador que for considerado o mais valioso para seu time ao longo da temporada, ele avisa: "Se Sidney Crosby tivesse apenas conseguido se manter saudável por mais do que meia temporada, a única dúvida a respeito da votação para [o Hart] provavelmente seria se Crosby ficaria no topo de todas as cédulas." Em seguida, ele coloca Daniel Sedin, dos Canucks, como aparente favorito e aponta ainda Tim Thomas, dos Bruins, Corey Perry, dos Ducks, Marc-André Fleury, dos Penguins, e Jonathan Toews, dos Blackhawks como os outros .concorrentes ao prêmio, além de Martin St. Louis, do Lightning, e Jarome Iginla, dos Flames, como azarões.

É uma lista criada com base em bom senso. Cada um dos meus dois leitores talvez tenha um ou dois nomes para substituir, mas dificilmente um de vocês mudaria muita coisa. Mas existe uma grande omissão nessa lista. Sim, apesar de o nome dele ter sido citado, a omissão é justamente Crosby. Mesmo sem ter jogado mas do que a exata metade dos jogos de seu time, ele mereceria ser cogitado pelos votantes, mas não será.

E por que ele mereceria, apontaria o mais atento dos dois leitores, aquele que viu que escrevo este texto vestindo uma camiseta com o nome de Crosby às costas? (Pior que é sério isso e é uma coincidência!) Veja as estatísticas. Apesar de ele ter jogado apenas 41 partidas, ele ainda é o 22.º colocado em pontos na liga. Nenhum dos 21 jogadores à sua frente tem menos do que 22 jogos disputados a mais. Se ele mantivesse a mesma média da primeira metade da temporada, estaria cerca de vinte pontos à frente do primeiro colocado, Daniel Sedin, que deverá faturar o Art Ross.

Em gols, ele ainda é o décimo. Nenhum dos nove jogadores à sua frente tem menos de trinta jogos a mais. O líder, o já citado Perry, tem meros catorze gols a mais que Crosby, e isso com 37 partidas de vantagem. Se tivesse mantido a mesma média, a liderança de Crosby no quesito seria de cerca de quinze gols. No quesito percentual de gols em chutes, ele é o vice-líder, com 19,9% de aproveitamento, atrás apenas de Sergei Kostitsyn, dos Predators, que tem 22,7% em cerca de metade dos chutes.

Isso sem falar na sequência de 25 jogos pontuando entre novembro e dezembro passados, que incluiu uma série de doze vitórias consecutivas dos Penguins. Essa série, em que ele participou de 53,5% dos gols de seu time, representou não apenas a recuperação de um início coletivo claudicante, como a ascensão ao topo da tabela, de onde o time cairia depois, na mesma época em que se capitão caiu, vitimado por uma concussão adquirida em algum momento entre as duas primeiras partidas de 2011.

Talvez o que mais prejudique a candidatura de Crosby seja justamente o fato de a queda não ter sido acentuada. Os Penguins, que logo depois de ficarem sem Crosby também perderam sua segunda estrela, Evgeni Malkin — que não tem nenhuma chance de voltar nos playoffs, ao contrário de Crosby —, e, mesmo assim, ainda brigaram pelo topo do Leste, que ainda têm uma pequena chance de alcançar na última semana de temporada regular. Já é certo que o time não ficará abaixo da quinta colocação na conferência, algo até surpreendente diante das condições.

Ou seja, se Crosby foi o principal responsável pela recuperação dos Penguins no fim de 2010, o time conseguiu se virar até que bem sem ele em 2011. Pelo mesmo motivo, mas em circunstâncias opostas, Fleury, também citado por Molinari, não deverá levar o Hart para casa. Ele foi um dos responsáveis pelo mau início do time, mas depois de um péssimo mês de outubro recuperou-se e vem atuando brilhantemente, sendo, sem sombra de dúvida o protagonista do clube na segunda metade da temporada.

O que também prejudica Crosby é a falta de memória das pessoas. Perry, por exemplo, é citado especialmente pelo embalo adquirido neste final de temporada: metade de seus gols foram marcados nas últimas três semanas e meia. Um tempo menor de domínio que os quase dois meses da sequência de Crosby pontuando. Mas, como a boa fase de Perry é mais recente, tende-se a lembrá-la mais que a excelente fase de Crosby, encerrada já há mais de três meses. Sim, Perry tem méritos, como avalia Chris Stevenson no Toronto Sun, mas ainda me parecem menores que os de Crosby.

A melhor temporada individual de um jogador desde os 161 pontos de Mario Lemieux em 1995-96 será desperdiçada por um tranco irresponsável. O Art Ross e o Rocket Richard, que no réveillon pareciam ter endereço certo, em Pittsburgh, vão para outras cidades, respectivamente Vancouver e Anaheim (este último ainda pode ir também para Tampa). Não há nada o que se possa ou deva fazer a respeito disso. O Hart também não vai para o jogador que eu creio ser merecedor, o que também não é de todo mau, afinal o júri é composto por muitos votantes, quase todos mais competentes do que eu. O que incomoda apenas é que Crosby não receba o devido reconhecimento na forma de ao menos alguns votos, o que mostraria que o júri não olha apenas para o último mês antes de depositar sua opinião.

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Página publicada em 3 de abril de 2011.