Por: Daniel Novais

É sempre assim. Todo esporte que demanda que um ser humano tenha a palavra final sobre o resultado de um evento vai sempre gerar discussões e margem para interpretações e teorias da conspiração de todo tipo e forma. É assim na arbitragem do futebol brasileiro, tem sido assim na liga de futebol americano dos Estados Unidos — onde as críticas têm pipocado recentemente — e não há de ser diferente na nossa liga favorita.

Até que se comece a ter provas concretas de que realmente onde há fumaça, haverá fogo, tudo não passa de mera especulação. Por anos e anos as decisões de Colin Campbell (vice-presidente de operações de hóquei na liga, sendo responsável pela definição do limite entre jogo físico e agressão através de suas suspensões e multas disciplinares) tem sido questionadas. A impressão de falta de critério na punição aplicada em relação às agressões cometidas e a sensação de favorecimento a estrelas de determinados times tornaram o tema alvo de diversas matérias e brincadeiras — inclusive a imagem ao lado, divulgada pelo blog Down Goes Brown.

O problema é que, dessa vez, Colin Campbell passou dos limites. Em uma troca de e-mail interceptada e divulgada na rede pelo Tyler Dellow, é demonstrada uma ação do vice-presidente não só pouco condizente com seu cargo, como também mesquinha, infantil e excessivamente vingativa para uma pessoa que ocupa seu cargo.

Em um dos e-mails, lê-se em tradução livre: "A terceira chamada no [jogador] foi enquanto eles estavam matando uma penalidade e em um face-off decisivo na sua zona defensiva contra aquele 'artista barato' [nome do jogador], tido como o maior fingidor da [nome a cidade]."

Se não ficou claro na tradução, basicamente Campbell acusa um determinado jogador, não divulgado, de fingir mais uma penalidade em momento crucial do jogo. Após análise mais profunda, o próprio Dellow identificou com as evidências que a situação só poderia tratar de um jogo: Boston Bruins x Florida Panthers, no dia 24 de fevereiro de 2007.

Com essa evidência, também fica fácil identificar quais foram os jogadores mencionados. O cara que sofreu a terceira penalidade é curiosamente o filho de Campbell, Gregory Campbell, no tempo jogador dos Panthers, atualmente nos Bruins.

Eo artista fingidor? Bem, esse só pode ser Marc Savard, que se encaixa na descrição de Colin Campbell sobre um jogador treinado por ele no NY Rangers previamente.

As duas situações acima abrem uma perigosa premissa para a liga, de favorecimento e decisões pessoais em favor dos protegidos, além de punições mais severas para os considerados inimigos. Quem tem memória logo se lembrará do tranco extremamente perigoso e num ponto fora do campo de visão de Matt Cooke, dos Penguins, sobre o mesmo Savard na última temporada. Lembrara também que, apesar de Savard ainda sofrer sintomas da concussão adquirida naquela data, Cooke saiu impune e pôde jogar todas as partidas restantes, incluindo os playoffs, pela sua equipe.

Além disso, a proteção a um filho, por mais que seja aceitável, deve ser condenada no âmbito em que foi realizada. Esse tipo de comentário poderia ser aceitável numa conversa de bar ou coisa do tipo, mas não num registro tão oficial como o e-mail, e não para uma pessoa responsável pelas arbitragens dos jogos.

Desde as atitudes extremamente questionáveis, Campbell se posicionou considerando toda a comoção em torno do e-mail como uma "tempestade em copo d’água", afirmando que o e-mail não se tratava de nada além de "reclamação de um ‘hockey-dad’ sobre um lance ocorrido com seu filho". A liga, por sua vez, já manifestou apoio irrestrito a Campbell frente às acusações.

Logicamente, cabe à liga, especialmente em um momento que a NHL busca se reestabelecer entre os grandes esportes na América do Norte, demonstrar o aspecto de uma entidade forte, capaz de reger o esporte em todo seu grandiosismo, e superar as críticas às suas decisões impondo sua opinião e demonstrando que a decisão foi o melhor para o desenvolvimento do esporte.
O problema é aonde se traça a linha que não pode ser ultrapassada. A situação encarada no momento pela liga, se não é vista como corrupção, deve ao menos provocar que a direção responsável levante evidências de que não passa de um caso isolado e interpretado fora de contexto, ao invés de uma regra que pode em uma situação extrema até mesmo interferir numa decisão de Copa Stanley.

A nós, fãs, cabe a função de manter os olhos abertos para evitar que a liga afunde em situações de resultados arranjados e torneios comprados, como já ocorre em outro esporte do qual nós somos fãs.

Para quem quiser acompanhar mais informações sobre o assunto, sugiro dois sites em inglês. O primeiro, sério, é o blog Puck Daddy do Yahoo!, com diversas opiniões sobre o tema e todas as suas sequelas. Para divertir-se com o tema, não perca o post do blog Down Goes Brown sobre o assunto.

Fernnando Novais parou de acompanhar regularmente o Campeonato Brasileiro em 2005.

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Página publicada em 21 de novembro de 2010.