Por: Marcelo Constantino

Nas férias antes desta temporada o New Jersey Devils ofereceu um contrato de longa duração ao craque Ilya Kovalchuk. Após imbróglios envolvendo NHL e NHLPA (tema que não é exatamente o foco deste artigo), chegou-se ao fim da negociação com um contrato de nada menos que 15 anos de duração e US$ 100 milhões, distribuídos de forma não uniforme pelos anos.

É cada vez mais comum os times assinarem longos contratos de duração com os jogadores tidos como imprescindíveis, sobretudo após o último Acordo Coletivo de Trabalho. Tem sido, além de uma forma de assegurar o craque no seu time por toda a idade útil dele, sobretudo uma forma de atenuar o peso do impacto sobre o teto orçamentário – graças à distribuição do salário sobre os anos. Por exemplo, mesmo que Kovalchuk receba mais de US$ 11 milhões por ano entre o terceiro e o sétimo anos da duração de seu contrato, o valor que efetivamente pesa no teto orçamentário é de US$ 6,67, que é a média anual (uma simples divisão dos US$ 100 milhões pelos 15 anos). Isso porque o valor despenca nos anos finais do contrato (geralmente quando o atleta já está na casa os 40 anos de idade).

Vale a pena assinar contratos assim? Para o jogador, seguramente sim. E para os times? Os exemplos que temos até aqui indicam o contrário. Vejamos um breve histórico de contratos de longa duração (para efeitos desta pesquisa, estabeleci o corte de oito anos de duração para caracterizar um contrato de longa duração).

O primeiro longo contrato de que me lembro foi de Alexei Yashin. Talvez nem todos que estão lendo saibam, mas em 2001 o New York Islanders mandou Zdeno Chara e uma escolha de primeira rodada (era a segunda geral, no que acabou sendo Jason Spezza) pelo central russo Alexei Yashin, do Ottawa Senators.

Yashin demonstrava grande habilidade e despontava como um dos craques da liga, mas já tinha naquele momento um histórico de problemas no Ottawa, cuja descrição mereceria um artigo inteiro -- uma outra (longa e interessante) história. Assim que chegou a Nova York, o russo conseguiu um contrato de 10 anos e US$ 87,5 milhões. Na época não havia teto orçamentário. Mais tarde, com o locaute e o novo Acordo Coletivo de Trabalho, o contrato foi revisto (para baixo, claro; e a revisão fazia parte do acordo entre NHL e NHLPA). A produção de Yashin foi despencando e os Isles rescindiram seu contrato depois de cinco anos de duração -- e pagam esta rescisão a ele até hoje. Este contrato é tido como um dos maiores fracassos gerenciais da história da NHL (apenas para frisar: o gerente dos Islanders era o lendário Mike Milbury).

O time de Long Island mudou de gerente, mas manteve o hábito recém iniciado. Em 2006, com Garth Snow começando na gestão, o NY Islanders assinou um contrato de nada menos que 15 anos de duração -- recorde na época, até hoje não superado e US$ 67,5 milhões com o jovem goleiro Rick DiPietro.

Di Pietro não justificou essa valorização até hoje, tendo passado mais tempo recuperando-se de sucessivas contusões do que no gelo. Jogou apenas 13 partidas nas duas últimas temporadas. É verdade que não há como prever que o jogador vai ter constantes problemas de contusão, e esse risco faz parte do negócio. Mas a situação tem agravantes: quando jogou, DiPietro não demonstrou ser tudo aquilo que se esperava; e a tendência atual na NHL é de salários menores para goleiros. Até aqui, entendo que trata-se de outro fracasso gerencial, mas há tempo suficiente para que o goleiro dê a volta por cima.

Depois é que começou a febre. Em 2008 o astro Alex Ovechkin assinou com o Washington Capitals o contrato mais rentável da história, de US$ 124 milhões por 13 anos. O Philadelphia Flyers seguiu a onda e assegurou Mike Richards por 12 anos. O defensor Brian Campbell conseguiu 8 anos do Chicago Blackhawks.

Em 2009 a onda seguiu firme. Vincent Lecavalier, Roberto Luongo, Marian Hossa, Henrik Zetterberg e Johan Franzen assinaram contratos de 11 ou 12 anos com seus times. E em 2010, além de Kovalchuk, tivemos renovações de longa duração com Duncan Keith, Nicklas Backstrom e Rick Nash.

Ou seja, dos 14 contratos citados, 12 foram firmados de 2008 para cá. Difícil dizer se estão valendo a pena ou não. Certo é que esses 12 contratos envolvem jogadores que praticamente toda a liga adoraria ter no time (a única exceção talvez seja Brian Campbell). O mesmo não se pode dizer dos contratos assinados pelos Isles.

Por ora eu diria que, apesar dos Islanders, eu assinaria contratos com os perfis citados acima, se fosse gerente de um time da NHL. Principalmente por aliviar o peso atual sobre o teto orçamentário, mas também para assegurar que um jogador de talento comprovado permaneça na minha equipe por um longo tempo. Muito provavelmente eu rescindiria o contrato quando o jogador chegasse perto do fim -- geralmente naquela faixa dos 40 anos de idade e US$ 1 milhão de salários. Por que? Porque esta será a hora em que o peso do salário do jogador sobre o teto orçamentário ficará muito pesado, acima do que ele efetivamente recebe e provavelmente do que ele contribui. Acredito que esse será o destino de todos esses contratos, salvo se o mercado inflacionar os salários consideravelmente nesse período. Porém, é algo que só veremos daqui a uma década.

Tabelas
Observando as tabelas ao lado (clique nelas para visualizá-las em tamanho maior), podemos concluir alguns pontos. A média de salário anual pago despenca quando a idade do jogador chega aos trinta e tantos anos de idade. Esqueça a pequena elevação da média aos 40-41 anos, que se deve ao novo perfil (aprovado por todas as partes) do contrato de Kovalchuk, claramente inflado nos dois últimos anos. Niklas Backstrom assinou contrato por 10 anos, mas terá passe livre aos 31 anos de idade, ou seja, ainda em idade de conseguir outro belo contrato. Apenas para comparação: Luongo e Hossa assinaram contratos de longa duração (e altíssimos valores) aos 30 anos de idade. A faixa entre 29 e 31 anos de idade parece ser a mais valorizada pela NHL, ao menos tomando como base os contratos que elegemos para esta amostragem.

Marcelo Constantino está em viagem e deixou pronta esta matéria.

Distribuição anual dos salários
Veja como os salários dos contratos mais longos da NHL são distribuídos ao longo dos anos.
[clique na foto para visualizar a tabela]

Distribuição dos salários por idade
Veja com que idade esses jogadores recebem os maiores salários.
[clique na foto para visualizar a tabela]

Média dos salários por idade
Traçando uma média com os dados da tabela acima, aqui você verifica melhor quais as idades mais valorizadas pelos longos contratos -- com base somente nos contratos pesquisados.
[clique na foto para visualizar a tabela]

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Página publicada em 21 de novembro de 2010.