Por: Thiago Leal

Linha do tempo do hóquei no Estado Dourado:

1993: O Mortal Mais Poderoso da Terra, que costumava ser a alcunha do Capitão Marvel, agora pertencia a outro capitão. E ele, Wayne Gretzky, mesmo sem estar em suas melhores condições, levou o Los Angeles Kings à final da Copa Stanley. Mas do outro lado havia alguém chamado Patrick Roy. Nada aconteceu.

2003: Nem mesmo o Complexo de Cinderella da Disney poderia imaginar que a história de reviravolta dos seus filmes aconteceria na vida real. Mas o Mighty Ducks de Anaheim tinha seu príncipe encantado e ele, Jean-Sebastien Giguere, levou a franquia à decisão da Copa Stanley, perdendo para o New Jersey Devils.

2004: As mordidas de Patrick Marleau e Jonathan Cheechoo foram tão fortes que partiriam até o robô-tubarão dos filmes de Steven Spielberg ao meio. O San Jose Sharks ficou na final de conferência, mas marcou aquela temporada.

2007: Sem Mickey e sem Pato Donald, com Steve Niedermayer e com Chris Pronger: o Anaheim Ducks não tinha mais a Disney, mas tinha uma defesa que cantava de favorita desde o começo da temporada. O favoritismo se concretizou e o time ganhou a Copa Stanley de forma incontestável, a primeira da Califórnia.

2009: Foi a vez de Joe Thornton morder forte e o Troféu dos Presidentes foi para o San Jose Sharks. A franquia, no entanto, foi derrubada na primeira rodada dos playoffrs por outro time californiano, o Anaheim Ducks. Os dois times exaltam a rivalidade entre a Califórnia do Norte e Califórnia do Sul.

Segundo a pornográfica Katy Perry, você pode rodar o mundo, mas nada chega perto da Costa Oeste. Espero que ela esteja falando de moças com busto avantajado, porque em se tratando de hóquei, isso está longe de ser verdade.

Não é fácil você ser time de hóquei no gelo em uma cidade tão americana e, ao mesmo tempo, cosmopolita quanto Los Angeles. Tudo é foco concorrencial na capital mundial do entretenimento. A indústria de filmes atrai toda a atenção na cidade, o cenário musical consegue ir de Britney Spears a Bad Religion e a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) é uma das maiores do país. A calçada da fama, a violência urbana na Zona Centro-Sul, o controverso Departamento de Polícia de Los Angeles, as cidades praianas da região metropolitana como Long Beach ou Malibu... e, claro, um grande número de franquias de esporte, desde as equipes universitárias, como o UCLA Bruins (em várias modalidades) aos profissionais.

O time de beisebol Los Angeles Dodgers faz a cidade pensar azul. O Los Angeles Angels of Anaheim, outra equipe de beisebol da cidade, conquistou a Série Mundial em 2002. Um time de basquete fracassado como o Los Angeles Clippers ajuda, mas o Los Angeles Kings tem que dividir arena justamente com o Los Angeles Lakers. E o Anaheim Ducks (Anaheim, no Condado de Orange, é considerada parte da Grande Los Angeles) ainda ganha a Copa Stanley primeiro! Até a equipe de soccer Los Angeles Galaxy e seus rivais Chivas USA recebem lá seus destaques, graças a jogadores como David Beckham, Landon Donovan e Claudio Suárez. Ainda bem que Los Angeles não tem mais time de futebol (americano)!

A situação dos Kings não é fácil, tanto é que em cinco destaques que demos à rica Califórnia, o time mais antigo do estado, o Los Angeles Kings, só apareceu uma vez. Os Kings ficaram fora dos playoffs de 2003 a 2010. Passaram da condição de único time da Califórnia a último time da Califórnia, visivelmente atrás de Anaheim Ducks e San Jose Sharks. É importante deixar claro que o Los Angeles Kings é a franquia original deste estado (e olha que aqui fala o torcedor de um time rival), e a identidade do hóquei californiano começa por ela. O Los Angeles Kings foi fundado em 1967, protagonizou uma virada épica sobre o Edmonton Oilers em 1982, adquiriu Wayne Gretzky em 1988, passou pelo Toronto para ganhar a Conferência Oeste e perder a Copa Stanley para o Montreal em 1993 e, daí para frente, viu seus irmãos caçulas, San Jose Sharks e Anaheim Ducks, crescerem na liga.

Não sou um fã de hóquei dos mais antigos. Comecei a ter noções sobre o esporte no final dos anos 1990 e comecei a acompanhá-lo de verdade no início dos anos 2000. E nunca vi o Los Angeles Kings numa condição de favorito. No momento que essa coluna é fechada, os Kings lideram a NHL e é a primeira vez que vejo isso acontecer, pelo menos que eu me lembre.

Bom trabalho de defesa e ataque equilibrado
Conforme Fernando Dittmar disse que aconteceria no Guia do Pacífico, o Los Angeles Kings busca o passo seguinte. Eu só não esperava (e aposto que ninguém mais esperava) que esse passo fosse tão largo. E ainda não dá para dizer até onde esses passos largos vão resistir antes de perderem um pouco de força. Os Kings dispensaram muito e se reforçaram pouco. Por que o material que tinha em casa era suficiente para trabalhar? Talvez. Mas qual a garantia que temos que Justin Williams manterá o rendimento surpreendente que vem tendo neste começo de temporada, quando lidera o time em pontos?

Dustin Brown lidera em gols (junto com Williams) e tem um bom aproveitamento em seus chutes. A responsabilidade no ataque ainda é dividida com Jarret Stoll, Anze Kopitar (que deve liderar o time em pontos em breve) e Ryan Smyth, o veterano do elenco. É um bom revezamento e o time tem a ganhar com ele, claro, contanto que esses jogadores se mantenham em forma.

Mas o que mais me agrada no trabalho dos Kings até aqui é a defesa. Jonathan Quick é um bom goleiro, só perdeu uma partida e suportou pressões como a chuva de tiros do Calgary Flames, Atlanta Thrashers, Colorado Avalanche, Dallas Stars e, principalmente, New Jersey Devils. Os defensores responsáveis por proteger Quick também têm feito um belo trabalho: Jack Johnson, mais técnico e com mais habilidades ofensivas nesse começo de temporada, ao lado de Drew Doughty e do louco Matt Greene que se joga na frente de qualquer chute e teria coragem de dar um tranco até mesmo no homem mais forte do mundo daquelas competições toscas da ESPN internacional.

Agenda difícil
Os Kings têm pela frente uma sequência de seis jogos na Califórnia, os quatro primeiros em casa, longe de serem fáceis: Tampa Bay Lightning, Nashville Predators, Dallas Stars e New York Islanders. Vai a San Jose enfrentar o Sharks e recebe o Columbus em casa. Esses dois últimos adversários devem ser os mais fáceis antes de seguir pelas pedreiras de viagens a Buffalo, Boston, Ottawa e Montreal, um jogo definitivo para testar a durabilidade deste elenco. Defensores-chave, Doughty e Greene perderam o começo da temporada. Anaheim Ducks já foi um time do Pacífico em grande forma que, em 2007, foi judiado com as condições físicas de seus defensores imposta pela tabela da NHL.

Esses próximos compromissos na agenda devem dar uma ideia do que poderemos esperar do Los Angeles Kings para a temporada — embora o mês ideal para isso seja janeiro. Mas a partir dele, podemos prever mais ou menos o que acontecerá por janeiro, quando os playoffs começam a se desenhar.

Rivais em baixa
Chicago e Colorado têm, até aqui, o melhor ataque da NHL. A defesa dos Kings não é a melhor, mas é o que o time tem de melhor. Tanto Colorado quanto Chicago exerceram forte pressão sobre o Los Angeles, inclusive com o Blackhawks conseguindo vencer. O ataque destas duas franquias em particular também se equilibra e se divide em mais de um jogador, e todos parecem apresentar melhor forma que o ataque dos Kings. É um caso onde, em confronto direto, o Los Angeles deve depender de sua defesa mais de que de costume. O que não chega a ser grande problema se Quick estiver com seus braços rápidos e descansadose Greene continuar com seu cérebro danificado para lhe dar coragem de fazer qualquer coisa. Um time com uma defesa aparentemente tão boa, como é o caso do St. Louis Blues, também deve dificultar.

O que importa agora é que os Kings crescem quando que seus rivais diretos Anaheim Ducks e San Jose Sharks vivem seus piores momentos. Isso até deve lembrar meados da década de 90. Neste momento, o Los Angeles reina soberano no Pacífico, no Oeste e na Liga. Quem deve fazer frente aos Kings?

Thiago Leal tem um cartão de sócio da Biblioteca de Artes do Brooklyn, NY.
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Página publicada em 31 de outubro de 2010.