Por: Alexandre Giesbrecht

Embora tenha um anel da Copa Stanley no dedo, Marc-André Fleury ainda está longe de ser algo parecido com uma unanimidade em Pittsburgh. Seus críticos sempre foram bastante barulhentos, talvez por não se conformarem que Fleury não é Martin Brodeur — e, a esta altura, já é seguro afirmar que ele nunca terá os números de Brodeur, a não ser, talvez, na quantidade de Copas conquistadas. Após ele ser um dos destaques na conquista da Copa Stanley pelos Penguins em 2009, com direito a uma defesa salvadora a menos de cinco segundos do fim do jogo 7, imaginava que esses críticos seriam calados. Mas mesmo a sequência de oito vitórias que Fleury acumulou no início da temporada seguinte não serviu para isso. Ou melhor, até serviu, como em outras ocasiões, mas bastam atuações meramente medianas do arqueiro para que seus feitos e qualidades sejam esquecidos quase imediatamente.

Uma passada rápida por fóruns que discutem os Penguins dá a impressão de que os usuários estão divididos entre os que simplesmente não gostam de Fleury e os que acham que ele deveria ser empalado vivo em praça pública. São questionamentos de seu salário (sem dúvida alto, a US$ 5 milhões por ano até 2013-14, embora não tão absurdo), sua técnica, seu passe, ora, até de seu baixo número de assistências. É um comportamento bem mais emocional que racional, algo com que, aliás, torcedores de times brasileiros de futebol já estão acostumados.

Neste início de temporada os números de Fleury estão abaixo da média, com média de 3,35 gols sofridos e apenas 86,3% de defesas. E, no que talvez seja a pior de suas estatísticas, embora não seja a ideal para qualificar um goleiro, ele tem cinco derrotas e apenas uma vitória em seis partidas. Como se tudo isso não bastasse, o reserva Brent Johnson, que ganha exatamente US$ 4,4 milhões a menos que Fleury por ano, está atuando de maneira brilhante e ganhou muito mais espaço em outubro. A média de gols sofridos de Johnson está em 1,16, com 96% de defesas. Em ambas as estatísticas ele ocupa o segundo lugar na liga, atrás apenas de Tim Thomas, dos Bruins, com seus ridículos 98,4% de defesas e média de 0,5 gol sofrido. Johnson tem cinco vitórias e uma derrota na prorrogação, esta por 1-0 contra os Blues há dois sábados, justamente no que foi talvez sua melhor atuação da temporada.

Graças a essas atuações, quando não sofreu mais de um gol sequer uma vez, Johnson ganhou a confiança do técnico Brent Johnson e chegou a ser o titular em três jogos em quatro noites, ganhando os três. Em seguida, Fleury recebeu uma nova chance e conquistou sua única vitória até aqui, por 4-3 na prorrogação contra os Predators. Johnson voltou ao gol na partida seguinte, o já citado confronto em St. Louis, mas Fleury voltou para o gol contra o Lightning quatro dias depois. Embora tenha tido alguma culpa em apenas um dos gols, a derrota por 5-3 foi debitada em sua conta por grande parte da torcida. Mais uma derrota no jogo seguinte, 3-2 para os Flyers em casa, não ajudou a fazer sua cotação subir, e Johnson seria o titular contra os Hurricanes no último sábado, arrebatando um shutout na vitória por 3-0. "Ele está tendo um início difícil", avalia o treinador de goleiros dos Pens, Gilles Meloche. "Jogos muito ruins, não vimos quase nenhum. Tenho certeza que ele vai dar a volta por cima. Sua técnica é boa. Só não está funcionando para ele agora." Para Meloche, a última derrota para os Flyers foi uma das melhores partidas de Fleury no ano.

É difícil culpar Bylsma por apelar ao seu goleiro em melhor fase neste instante. A boa fase de Johnson pode não durar além da próxima partida, então é melhor aproveitar enquanto as boas atuações estão brotando de esporos. "Estou simplificando meu jogo", contou o goleiro após o shutout em Raleigh. "Estou apenas tentando ficar grande na frente do gol e parar o disco com meu corpo." Sidney Crosby não poupa elogios a Johnson: "Ele está realmente embalado. Quando seu goleiro está jogando assim você tem uma chance."

Aos 33 anos, ele não pode ser considerado um goleiro com muito futuro, enquanto Fleury ainda sequer completou 26 anos, algo que passa despercebido para muita gente, já que esta é sua sexta temporada como titular em Pittsburgh, onde estreou há nada menos que oito anos. Mas as expectativas de uma primeira escolha geral são essas em uma cidade que tem como outros exemplos de primeiras escolhas gerais Mario Lemieux e Sidney Crosby. Felizmente para o clube e para Fleury ninguém na comissão técnica ou na diretoria deixou de acreditar que ele é que é o goleiro do futuro — além, é claro, do presente —, e só é necessário que ele volte a mostrar sua melhor forma para reassumir a titularidade, ainda que Johnson baixe sua média de gols sofridos para algo mensurável apenas com a ajuda de um microscópio.

Obviamente, ninguém que tenha uma sala no Consol Energy Center está insatisfeito com as atuações de Johnson, especialmente porque elas coincidiram com a má fase de Fleury. No ano passado Johnson foi titular em apenas 15 jogos, pouco mais que o dobro dos que ele começou agora em 2010-11, e apenas 14% da temporada se passou. Três anos atrás as boas atuações do então reserva Ty Conklin permitiram aos Penguins seguir na briga enquanto Fleury estava contundido, e naquela campanha o clube ficou a apenas duas vitórias de levantar a Copa Stanley. Com Fleury no gol. Ou seja, a não ser que um desastre ocorra, será Fleury o goleiro titular quando os playoffs começarem. Johnson sabe disso, e sabia quando aceitou renovar contrato nas últimas férias por apenas US$ 600 mil anuais ao longo de duas temporadas. "Aceitar [a reserva] provavelmente é parte do motivo por que ele tem sido tão eficiente nesse papel", explica Dave Molinari, que cobre os Penguins para o jornal Pittsburgh Post-Gazette.

Bylsma já avisou que ambos os goleiros podem esperar trabalho duro nas próximas semanas, que serão puxadas, com duas séries de três jogos em quatro dias. Ele não confirma que Johnson será um pouco mais usado, mas a lógica do hóquei dita que se deve escalar sempre o goleiro em boa fase, embora não se possa limitar muito o tempo de Fleury no gelo, para não atrasar sua recuperação e também para acostumá-lo à carga mais pesada que ele for enfrentar quando abril chegar. É Meloche quem explica que não há nenhuma fórmula mágica para a recuperação ocorrer: "Tentamos manter o pensamento positivo e trabalhar nos detalhes do jogo dele. Achamos que suas atuações nos dois últimos jogos foram muito boas."

Enquanto isso parte da torcida segue criticando o goleiro e torce para que Johnson crie raízes na área dos Pens. Mas esta não é a primeira vez que Fleury é questionado, e ele sempre manteve o sorriso quase pueril estampando seu rosto. As críticas exageradas só serão neutralizadas depois que ele conquistar algo como um pentacampeonato consecutivo da Copa Stanley sendo eleito o MVP em todas as campanhas. Aí, sim, talvez ele comece a ser aceito em Pittsburgh.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, não conseguiu assistir a uma partida do Chacarita Juniors em sua última visita a Buenos Aires.
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Página publicada em 31 de outubro de 2010.