Por: Thiago Leal

Recentemente o Phoenix Coyotes declarou falência e sua mudança passou a ser muito especulada. Embora a principal candidata a receber a franquia no caso de uma possível mudança seja a cidade de Hamilton, em Ontário, o nome de Winnipeg chegou a ser cogitado, o que é irônico. Até 1996, os Coyotes não existiam. Eles jogavam em Winnipeg, como o Winnipeg Jets, tema de nosso artigo de hoje em Eu Não Existo Mais.

Assim como Nordiques e Whalers, já comentados na mesma seção, os Jets se originaram a extinta WHA, como uma das franquias fundadoras da liga que desafiou a NHL nos anos 1970. Embora não fosse a mesma franquia, os Jets foram nomeados em homenagem a uma extinta franquia da cidade. Os Jets, aliás, foram o principal desafiador à NHL logo durante o primeiro recrutamento da WHA, provando que a nova nova liga não estava para brincadeira.

Winnipeg Jets
Esse ato de desafio foi protagonizado por Ben Hatskin, dono do novo time, ao afirmar que compraria Bobby Hull, o Jato Dourado (The Golden Jet), astro do Chicago Black Hawks. Naquele momento, Hull era ao lado de Bobby Orr o maior nome do hóquei no gelo em atividade e a grande estrela da NHL. Foi a atitude de Hatskin que deu o respeito que a WHA precisava em seus primeiros anos, oferecendo a Hull um valor (US$ 2,75 milhões) até então inimaginável para uma liga profissional nos Estados Unidos da América/Canadá. Além do mais, Hull ganhou um adicional de US$ 1 milhão para... treinar os Jets! Isso mesmo, Hull foi um típico caso de técnico/jogador da franquia em sua primeira temporada.

Antes de Hull, os Jets haviam contratado Norman Beaudin, chamado de Jato Original (The Original Jet), por ser o primeiro jogador recrutado pela franquia. A princípio, Beaudin formou linha com Hull, chamada Linha de Luxo (The Luxury Line). No rinque e fora dele, Hull ajudou os Jets a chegarem à decisão do primeiro Troféu World Avco, perdendo por 4-1 para o New England Whalers e causando uma grande revolta na torcida de Winnipeg — uma amostra do poder e paixão do público canadense, que não recebia a devida atenção da NHL. De qualquer forma, Hull foi o jogador mais valioso da temporada regular 1972/1973 e levou o Prêmio Gary L. Davidson.

Os Jets de Hull decepcionaram feio na temporada seguinte ao serem eliminados logo na primeira rodada dos playoffs pelo Houston Aeros. E na temporada 1974/1975, nem ao menos se classificaram à pós-temporada. Ficou constatado que o acúmulo de trabalho de Hull não dava rendimento ao time. Na própria temporada 1974/75 os Jets chegaram a ter um outro treinador, Rudy Pilous, do Chicago Black Hawks que venceu uma Copa Stanley em 1960.

Jatos dourados
Enfim, poderosos. Treinados por Bobby Kromm, os Jets chegaram ao sucesso que se esperava somente na temporada 1975/76 da WHA. O time liderou a Divisão Canadense, impulsionado pela Hot Line formada por Hull e mais os suecos Ulf Nilsson e Anders Hedberg. Sozinhos, esses três foram responsáveis por 141 gols na temporada regular. O trio também liderou a equipe em pontos na pós-temporada. Na sequência, os Jets eliminaram o Edmonton Oilers por 4 jogos a 0, o Calgary Cowboys por 4 jogos a 1 e varreram o Houston Aeros na final do Troféu World Avco. Nilsson foi o jogador mais valioso dos playoffs e Kromm venceu o Troféu Howard Baldwin de melhor técnico.

O título foi o primeiro capítulo de uma era dominante dos Jets na WHA. Na temporada seguinte a Hot Line manteve a produção e os Jets mais uma vez avançaram à série decisiva do Troféu World Avco, perdendo por 4-3 para o Quebec Nordiques. E em 1977/78, uma impressionante sequência de 15 vitórias na temporada regular antes de chegar aos playoffs, passar pelo Birmingham Bulls e se vingar da final de 1973, varrendo o New England Whalers para conquistar seu segundo Troféu World Avco. O treinador já era Larry Hillman, e os destaques no gelo desta vez foram o defensor e capitão Lars Sjoberg, o atacante Bobby Guindon, jogador mais valioso da pós-temporada, e o calouro do ano, Kent Nilsson, vencedor do Troféu Lou Kaplan.

Ainda sob comando de Hillman, os Jets não tiveram uma temporada regular 1978/79 tão boa. O brilho da equipe de Winnipeg foi ofuscado pelo Edmonton Oilers que, beneficiado pelo fim do Indianapolis Racers durante a temporada, adquiriram o jovem calouro Wayne Gretzky. Mas foram os Jets de Rich Preston o grande destaque nos playoffs, varrendo o Quebec Nordiques e conquistando mais um Troféu World Avco, sobre o Edmonton Oilers na finalíssima.

E então acabou-se a WHA.

Jets na NHL
O Winnipeg Jets não chegou nem perto de repetir na NHL o sucesso que teve na WHA. Diferentemente do Edmonton Oilers, que mudou de liga para dar início a uma dinastia, os Jets sequer foram aos playoffs em suas duas primeiras temporadas, 1979/80 e 1980/81. Verdade que, resumindo seus 17 anos na NHL, os Jets mais se classificaram aos playoffs de que ficaram de fora dele. Mas nunca foram muito longe na pós-temporada, chegando ao máximo nas antigas finais de divisão, sempre sendo eliminados pelo o Emonton Oilers.

Aliás, um dado curioso é que em onze participações em playoffs, os Jets só foram eliminados por equipes estadunidenses duas vezes. Nas outras nove, foram desclassificados enfrentando equipes canadenses — duas vezes contra o Vancouver Canucks, uma contra o Calgary Flames e seis pelo rival Edmonton Oilers — e, curiosamente, em cinco dessas seis ocasiões os Oilers conquistaram a Copa Stanley.

A última vez que os Jets venceram uma série de playoff foi em 1988, contra os Flames para serem eliminados na série seguinte contra os Oilers. Todas as participações em playoffs dos Jets foram resumidas na primeira rodada.

De qualquer forma, a equipe se manteve competitiva, mesmo não conquistando títulos, e continuava tendo uma torcida muito fiel.

Destino: Phoenix, Arizona
Os problemas financeiros, no entanto, tinham uma outra motivação: Winnipeg, uma cidade apaixonada por hóquei no gelo, não tinha poder econômico suficiente para sustentar uma franquia da NHL, o que é uma pena, pois os Jets tinham dois calouros promissores: Shane Doan e Teemu Selanne, que em sua primeira temporada bateu o recorde de pontos para um calouro na franquia: 132 pontos.

Assim como os Nordiques, os Jets mudaram para Glendale, no Arizona, um novo mercado a explorar, em 1996, virando o Phoenix Coyotes. Como todos sabemos, 13 anos depois a franquia anunciou sua falência.

Ídolos
Um dos maiores jogadores de hóquei de todos os tempos, Bobby Hull é com certeza o maior jogador da história da franquia — embora tenha encerrado a carreira no Hartford Whalers. Hull é recordista em jogos, gols e pontos nos índices da WHA. Ulf Nilsson, recordista em assistências, e Anders Hedberg, que formava com os dois já citados a Hot Line, compõem a trinca de maiores ídolos da história do time.

Hull teve seu número, #9, devidamente aposentado pelo clube — honraria que o Phoenix Coyotes manteve, abrindo uma pequena exceção quando Brett Hull, filho de Bobby, encerrou a carreira no time. A camisa #9 foi reativada excepcionalmente para que Brett a vestisse por alguns jogos.

Na era da NHL, os dois maiores ídolos são Thomas Steen, sueco, pai de Alexander Steen, e Dale Hawerchuk. Ambos tiveram seus números, respectivamente #25 e #10, aposentados pela franquia.

Legado
Winnipeg é uma das cidades mais apaixonadas por hóquei no gelo do Canadá, e a história do esporte na cidade é bem mais antiga que os próprios Jets. Berço de vários jogadores famosos, Winnipeg ganhou três Copas Stanley com o Winnipeg Victorias, ainda na era pré-NHL, com títulos em 1896, 1901 e 1902. O Winnipeg Falcons representou a Seleção Canadense nos Jogos Olímpicos da Antuérpia de 1920. Na época, hóquei ainda fazia parte do programa dos Jogos Olímpicos de Verão e os Falcons voltaram para casa com a medalha de ouro. Em 1932, já com as Olimpíadas de Inverno, foi a vez do Winnipeg Hockey Club ir a Nova York buscar a medalha de ouro.

De 1955 a 1961, Winnipeg teve um time na Western Hockey League, não a liga juvenil atual, mas sim uma liga profissional menor. Eram os Winnipeg Warriors. Mais tarde este mesmo nome foi utilizado por um time da WHL, esta sim, a liga juvenil. Antes dos Warriors juvenis, a liga júnior ainda teve o Winnipeg Monarchs.

Em 1996, com a partida do Winnipeg Jets para Phoenix, a cidade ganhou uma franquia na AHL: o Manitoba Moose, movidos de Minnesota. O Moose disputou, e perdeu, a última edição da Copa Calder.

Já os Coyotes, em Phoenix, todos nós sabemos: não teve grande sucesso e recentemente declarou falência.

Ficha — Winnipeg Jets
Fundação:
1972 (WHA)
Adesão à NHL: 1979
História:

- Winnipeg Jets (WHA), 1972-1979
- Winnipeg Jets (NHL), 1979-1996
Cidade:
- Winnipeg — Manitoba, 1972-1996
Cores:
- Azul, vermelho e branco.
Arena: Colisée de Québec.
Títulos: WHA — Campeão do Troféu World Avco (1976, 1978 e 1979)
Melhor campanha:WHA — Campeão do Troféu World Avco (1976, 1978 e 1979); NHL — Final da Divisão Smythe (1985 e 1987).

Na próxima edição: Um resumo geral das demais franquias que não dariam assunto suficiente para um artigo.

Thiago Leal acredita em TheSlot.com.br.
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Os diversos logos utilizados pelo Winnipeg.

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Bobby Hull, um patrimônio da humanidade tombado pela UNESCO.

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Ulf Nilsson, Hull e Anders Hedberg: a famosa Linha Quente (Hot Line).

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O capitão Lars-Erik Sjöberg com um dos três Troféus World Avco ganhos pelo Winnipeg Jets.

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Jato Original: Norm Beaudin foi o primeiro jogador a assinar com a franquia.

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Dale Hawerchuk.

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Thomas Steen.

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Página publicada em 3 de dezembro de 2009.