O treinador Bruce Boudreau diz que Alexander Ovechkin "é muito imprudente," mas que "é difícil dizer para um cara que marca 60 gols por ano mudar a forma como joga".

É justamente a "forma como joga" que faz de Ovechkin o jogador favorito de todos os torcedores da liga que não são seguidores do Pittsburgh Penguins.

Ele se arrisca, se atira para distribuir trancos como se fosse um trem descarrilado, aproveitando ao máximo a combinação única de talento, velocidade, força física, tamanho e energia.

Mas o estilo de jogo de Ovechkin tem lhe causado vários problemas, como o tranco em Daniel Briere pelas costas em 2006, o tranco que fez Jamie Heward sair do gelo de maca em janeiro deste ano, a joelhada no joelho de Sergei Gonchar nos playoffs e, mais recentemente, a rasteira em Rich Peverley em outubro e o tranco que mandou Patrick Kaleta de cara nas bordas na semana passada.

Em comum em todos esses lances o veredicto da liga: inocente. Ovechkin não foi punido por seu repetitivo abuso de força, embora a imprensa tenha clamado por punição disciplinar a cada vez que o russo machucou um adversário.

Até que o próprio Ovechkin arruinou a sua cláusula de salvaguarda, impedindo que a liga novamente lhe dispensasse o tratamento do "programa de proteção a estrelas", que já beneficiou outros grandes jogadores em situações parecidas.

Ao acertar uma joelhada no joelho de Tim Gleason, na segunda-feira, Ovechkin foi expulso pela segunda vez em três jogos, disputados entre seis dias. Aí não tem vista grossa que dê jeito. No dia seguinte, a NHL suspendeu o jogador por dois jogos.

O tamanho da suspensão é discutível e, possivelmente, Ovechkin já perderia os jogos em virtude da pancada no joelho — nos treinamentos, ele tem usado um uniforme de cor berrante que significa "não me toque" —, mas no fim das contas o que importa é que ele perdeu a condição de réu primário. Da próxima vez que passar dos limites, será julgado como um troglodita, como um Georges Laraque, alguém que tem antecedentes, que tem a ficha suja.

"Talvez isso apenas me deixe mais furioso", disse.

Ovechkin é o jogador que mais marcou gols desde o locaute (237). Ele também é o quinto maior goleador da história da liga considerando os cinco primeiros anos de carreira — está a quatro gols de ultrapassar Luc Robitaille, o que deve acontecer antes do Natal, e tornar-se o quarto maior, atrás apenas de Mario Lemieux (300), Mike Bossy (305) e Wayne Gretzky (356).

Nesta temporada, apesar de ter perdido seis jogos por contusão, Ovechkin é o terceiro colocado em gols na temporada, com 18 — e ninguém duvida que, em abril, ele será o vencedor do Troféu Rocket Richard.

Duas vezes vencedor do Troféu Hart (jogador mais valioso), duas vezes vencedor do Troféu Rocket Richard (goleador), dono de um contrato de US$ 124 milhões e, agora, furioso. Os goleiros que se cuidem.

Ovechkin é um dínamo, alguém que joga hóquei na intensidade máxima. Não é possível dissociar sua faceta "feroz" do seu lado goleador. É por isso que Boudreau não vai pedir para o cara que marca 60 gols por ano mudar a forma como joga.

Eventualmente ele vai se machucar ou vai machucar um adversário porque é imprudente, afoito, porque exagera na força, mas isso faz parte do seu estilo peculiar. O hóquei no gelo é um esporte de contato, afinal.

Mas se é verdade que Ovechkin só marca 60 gols por ano por causa de sua intensidade no gelo, também é verdade que isso pode encurtar a sua carreira e eliminar a chance de ver a história ser reescrita.

Com 0,687 gols em média por jogo, Ovechkin é a esperança de quem quer ver o recorde de 894 gols de Gretzky ser superado. Faltam 657.

Alguém aposta contra?

• Capa
• Editorial
• Faceoff
• Prorrogação
• Público ausente
• O homem-bomba
• Alex Ovechkin e suas joelhadas
• O estranho mundo dos Panthers
• Quando os jatos saíam de Winnipeg
• Suposições sobre questões
• A lenda de Taro Tsujimoto