Deixando controvérsias de lado, Alexander Ovechkin é o melhor jogador
da NHL.
Essa mesma NHL que foi dominada nos últimos anos e décadas por nomes
como Wayne Gretzky, Mario Lemieux e Jaromir Jagr (todos eles também
com suas devidas controvérsias) agora — há alguns anos, depois
de um breve hiato de orfandade — tem novamente um grande craque.
Não é indiscutível, porque nada é indiscutível. Não é comparável, ainda,
aos já citados. Mas é o craque da era atual, e aponta para ser o craque
de toda uma geração.
Por que, então, o russo cisma em desferir joelhadas nos adversários?
Além de craque, Ovechkin não se furta a desferir trancos, alguns deles
de considerável impacto. Um goleador impressionante, um verdadeiro artista
do esporte e que ainda distribui trancos? É tudo que a torcida quer.
Só faltava mesmo era ele ter nascido no Canadá.
Mas trancos são uma coisa, fazem parte do esporte e fazem a alegria
de boa parte da torcida. Joelhadas não.
Na segunda-feira dia 30, enquanto nossa equipe se dividia entre os jogos
da noite, as notícias dos outros jogos surgiam: numa hora era Thomas
Vokoun que levava uma tacada, acidental, de um defensor do próprio time
(!). Na outra era Alex Ovechkin, que tinha se contundido após um choque.
E mais, que tinha sido expulso por aquele mesmo choque. Pior, poderia
ser suspenso por conta daquilo.
Rapidamente lá fui dar uma conferida no jogo do Washington Capitals
contra o Carolina Hurricanes. À primeira vista parecia uma entrada normal,
um choque daqueles violentos, que Ovechkin de vez em quando dá mesmo.
Mas, viva o replay!, depois é possível ver claramente que o astro russo
entra com o joelho flexionado, apontado para frente para atingir o defensor
Tim Gleason. Coisa feia.
O defensor dos 'Canes consegue até sair um pouco da reta e amenizar
o dano, mas sem evitá-lo. Pior ainda para Ovechkin, que pareceu levar
a pior e levou um razoável tempo para sair do gelo.
A contusão não foi tão séria como se imaginava. Mas a joelhada
foi, pela titude e sobretudo pela reincidência, e a liga finalmente
veio a tomar alguma atitude contra o craque.
Na terça-feira a NHL finalmente decidiu suspender Ovechkin, ainda que
por apenas dois jogos. O atacante Geroges Laraque, por exemplo, foi
suspenso dias atrás por cinco jogos por dar uma joelhada no defensor
Niklas Kronwall, que deve ficar algumas semanas em recuperação. Que
a NHL usa dois padrões diferentes para jogadores de níveis diferentes
(ainda mais quando um deles tem "Laraque" no sobrenome), isso até a
turma do "eu não sabia" sabe.
Nesta mesma temporada, Ovie já havia dado uma, digamos, quase-joelhada
(!) em Rich Peverley, do Atlanta Thrashers. No jogo, foi penalizado
por dois minutos por derrubar o adversário. Fora dele, foi multado (as
multas da NHL são meros trocados para os jogadores — geralmente
giram na casa de poucas dezenas de milhares de dólares e Ovechkin recebe
na casa de um milhão por mês). Escapou de ser suspenso. Ou seja, desta
vez é reincidência com pouco mais de um mês de diferença entre os eventos.
Fosse outro jogador a vestir aquela camisa 8 dos Caps, e ele certamente
seria exemplarmente suspenso desta vez. Ou melhor, já teria sido suspenso
desde os playoffs passados, quando uma joelhada retirou o conterrâneo
e defensor Sergei Gonchar de ação. Ok, foi um lance controverso e eu,
como vários de vocês, concordo que daquela vez não foi intencional.
Mas a NHL teria suspendido o jogador por aquele lance, não fosse ele
Alexander Ovechkin. Lembre-se: a NHL de hoje suspende muito mais pelo
efeito do que pela ação em si.
Então que seja bem-vinda a suspensão dessa vez. Vá jogar hóquei, Ovie!
No disco e no gelo, e com trancos legais no corpo do adversário. Você
não precisa de joelhadas. Se elas não são intencionais, se são por excesso
de vontade, baixe a bola.
Marcelo Constantino aguarda o domingo.