Por: Alexandre Giesbrecht

Um assunto que há tempos eu gostaria de abordar é a queda das médias de público de alguns times, e nem estou levando em consideração a situação em Phoenix, onde o time local tem uma média que não é tão maior assim que a do Duque de Caxias na Série B do Campeonato Brasileiro. Tudo bem, até é, ao menos em público pagante — 9.407 no ponto mais baixo da temporada para o time de hóquei, contra 1.595 do time de futebol ao final da campanha.

Mas o negócio é que a situação anda sendo comentada em mercados onde a situação não é tão surreal quanto a do Arizona. Em Ottawa, ficaram surpresos quando a partida dos Senators contra os arquirrivais Maple Leafs não lotou o Scotiabank Place. Em Denver, o Avalanche, mesmo com uma excelente — e surpreendente — campanha, tem uma média de público 20% abaixo da capacidade do seu estádio. Em Miami, os Panthers têm números parecidos. Mesmo em Detroit a média de público está 6% abaixo da capacidade da arena, algo inimaginável pouco tempo atrás.

É claro que a crise econômica, que pegou os Estados Unidos e o Canadá em cheio, tem um papel de destaque nesse cenário. Mas os preços gritantes em vigor em diversas localidades também são responsáveis. O jornalista Todd Hambleton, do Standard Freeholder, de Cornwall, Ontário, comparou o preço de um dos ingressos do Air Canada Centre, lar dos Leafs, em jogo contra os Blue Jackets, com uma aventura que ele bancou.

No estádio canadense, costumeiramente lotado, podia-se encontrar ingressos para tal imperdível peleja a 425 dólares canadenses. Ele citou uma passagem aérea de ida e volta para Miami, que comprou por 220 dólares canadenses. Lá ele assistiu a uma igualmente emocionante contenda dos Panthers, com ingresso comprado de cambista a dez dólares canadenses — de cambista! — para um bom assento, sendo que no Bank Atlantic Center o estacionamento é gratuito. Isso sem falar na grande vantagem que um canadense vê em sair das baixas temperaturas de Ontário para o calor (ou algo próximo disso) da Flórida. Grande negócio, não?

Sim, mas ainda assim a um preço que nem tantas pessoas assim podem pagar. Se o estádio em Toronto lota, por que não manter os preços nesse patamar? Assim, agrada aos velhinhos e nem tão velhinhos que investem sua aposentadoria no clube e veem lucros quase incessantes nos balanços anuais. Mas fazer algo parecido na Flórida é um suicídio mercadológico.

Nas últimas férias, os Panthers tentaram uma jogada de marketing em que chamaram o empresário de jogadores de futebol americano Drew Rosenhaus para fazer o papel de si mesmo, como se tivesse sido contratado pela torcida do time para negociar com o clube a redução dos preços dos carnês de ingressos para esta temporada. A ideia era divulgar de início como se fosse verdade e depois revelar que era apenas uma jogada para anunciar que os preços iriam, de fato, cair.

O problema é que os preços em questão já estavam acima da média da liga, o que definitivamente não combina com um clube que não vai aos playoffs desde quando o falecido Celso Pitta ainda era o prefeito de São Paulo. Não tenho a informação de quanto caíram os preços, mas com a média de público 3% abaixo do nível de exatamente um ano atrás, dá para imaginar que os preços não devem ter baixado tanto assim.

Sem uma receita significativa de um contrato de televisão, sem grande exposição ao mercado americano e com diversos times sofrendo para encher suas casas, não é de se admirar que a possibilidade de o teto salarial — que, sempre é bom lembrar, está atrelado às receitas da liga em cada temporada — cair para 2010-11 seja bastante real. Enquanto isso, o comissário Gary Bettman segue na sua toada de não mudar equipes de cidade, por mais que algumas deem prejuízos monstruosos. Ele não vai conseguir segurar essa situação por muito tempo. Algum time ou alguns times terão de se mudar. Ou a única alternativa que sobrará será acabar com algum time ou alguns times.

Não há nenhuma dúvida do que é pior para a liga.

Alexandre Giesbrecht, 33 anos, pegou dois pontos de alagamento na chuva de hoje.
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Página publicada em 4 de dezembro de 2009.