Por: Thiago Leal

E podemos completar a frase dizendo que "Alguém deveria enfiar um patins, de preferência, pela parte da lâmina, na boca do Avery". Não que eu goste de fazer referências àquele esporte lento e chato que se chuta uma bola pra cima e pra baixo. Muito menos a seus jogadores. Mas como Sean Avery é daqueles jogadores que nunca deviam abrir a boca, o primeiro título que pensei para o artigo foi esse.

Aliás... pra mim a boca suja do Avery merecia até capa. Consigo imaginar nossos editores criativos ilustrando a dor-de-cotovelo verbal do ponta esquerda. Infelizmente, não foi o caso. Até porque... um assunto besta desse mereceria capa? De certo modo, sim. Não porque o Avery falou qualquer besteira — "o que ele fala não é pra ser levado a sério", disse o próprio Dion Phaneuf, um dos ofendidos com a situação. Mas é que a besteira foi complementada por mais uma atitude curiosamente sem noção por parte da NHL.

Tudo começou com uma declaração polêmica. Mas vamos traduzir: "Eu estou feliz por voltar a Calgary, eu amo o Canadá. Eu apenas quero comentar o quanto se tornou comum na NHL os caras se apaixonarem por minhas sloppy seconds . Eu não sei por quê. Apreciem o jogo hoje à noite." Mas para entender melhor por que foi tão ofensivo, primeiro vamos ler o que Avery disse no bom e velho inglês: "I'm really happy to be back in Calgary, I love Canada and I just wanted to comment on how it's become a common thing for guys in the NHL to fall in love with my sloppy seconds. I don't know what that's about, enjoy the game tonight". A tradução é exatamente igual à nossa "adaptação" em Prorrogação, com uma única diferença: o termo sloppy seconds que Avery utilizou tem uma tradução mais precisa. Em inglês, sloppy seconds é utilizado para se referir a alguém que já dormiu com você e com um monte de gente diferente. Algo como sobra. Ou gírias que usamos, como corrimão (aquela que todo mundo passa a mão), dizer que a menina é rodada ou usada. Também tem chiclete mastigado, algo que você cuspiu e outro pegou. E mais algumas gírias ofensivas.

Fiquemos com sobras. Quem é a sobra de Avery? E o que ela tem a ver com Calgary? E porque Phaneuf está envolvido? Simples. Avery se referia a Elisha Cuthbert, atriz canadense, que atuou em A Casa de Cera e Show de Vizinha, mais uma daquelas loiras lindas (para não usar termos mais, digamos, "ofensivos" e correr o risco de Bettman vir me punir) de Hollywood, com uma pequena diferença em relação às demais: Cuthbert é canadense e adora hóquei no gelo. Torce pelos Kings (afinal, mora em Hollywood) e já teve até blog sobre o esporte no portal da NHL. E bem que eu gostaria de falar só sobre ela, e não sobre Avery — mas aí eu seria demitido. Fato é que Elisha Cuthbert namorou Sean Avery e, hoje, namora Phaneuf!

Obviamente, os repórteres que perguntaram a Avery como ele se sentia indo a Calgary tiveram o intuito de provocá-lo quanto a Cuthbert e Phaneuf. Mas isso não justifica a resposta mal-educada e machista de Avery — primeiro, pensando com a cabeça de Avery (se é que ele pensa), se Phaneuf pegou uma sobra dele, ele próprio pegou uma sobra, uma vez que, antes de Avery, Elisha namorou Michael Komisarek, do Montreal Canadiens. Depois, porque chamar a menina de sobra não é algo, digamos, educado, nem para com ela nem para com as mulheres que gostam de hóquei, como minhas queridas amigas Mary e Rafaela.

Mas o motivo do insulto não foi apenas Cuthbert. Quando Avery fala no plural, dizendo que se tornou comum na NHL os caras se apaixonarem por suas ex-namoradas, seguramente ele se refere também a Rachel Hunter, mais uma loira de tirar o fôlego que o jogador namorou. Atualmente, Hunter é noiva de Jarret Stoll, atacante dos Kings.

Independentemente de qualquer coisa, Avery falou besteira. Mas o que esperar de Avery? Bom, fico com as palavras de Don Cherry: "Conheço esse pirralho desde que ele tinha por volta de 16 anos. Uma vez idiota, sempre idiota". À ocasião, Cherry "elogiava" Avery por sua idéia genial de ficar em frente a Martin Brodeur "dançando", levantando o braço e o taco para tentar distrair o goleiro dos Devils, tentando distrai-lo e bloquear sua visão. O lance não foi considerado ilegal na hora do jogo. "Você não pode culpar o árbitro, porque ele não podia acreditar no que estava vendo", completou Don Cherry. Diversos comentaristas de hóquei afirmaram que as ações de Avery eram antidesportivas. E no dia seguinte a NHL publicou uma interpretação da regra de conduta antidesportiva para cobrir lances como a... er... como vou chamar... dança (?) de Avery. E a emenda ficou conhecida como A Regra Avery.

Só que uma coisa é você falar e fazer besteiras sem-noção sem que isso machuque a "moral americana". Ora, realmente, o que esperar de Avery? O cara gosta de moda (isso mesmo, fashion) e até já trabalhou como contribuinte da revista Vogue, a Sports Illustrated da moda. E ainda veio com uma desculpa que "Roupas femininas contam histórias. Me interesso por isso" (?) Mas quando Avery menciona publicamente em rede aberta de televisão que outros jogadores estão namorando mulheres com quem ele dormiu, Avery está agredindo a moral hipócrita americana. Que é mais hipócrita que o próprio Avery. Que não permite palavrões na televisão, mas que vota num presidente que causa uma guerra em troca de petróleo.

Só que a NHL, ainda sem o pronunciamento oficial de Gary Bettman, considerou as palavras de Avery como "detrimento à Liga e ao jogo de hóquei". E suspendeu por tempo indeterminado Avery. Não é um pouco demais?

Pra piorar, Tom Hicks, dono do Dallas Stars, declarou que concorda com a punição e, não tivesse a NHL punido Avery, os próprios Stars puniriam. Como? Raspando as sobrancelhas de Avery (Atitude comum em presídios para com estupradores, para que assim os demais presidiários possam "fazer justiça com as próprias mãos")? Multando o jogador? Ou simplesmente o afastando do elenco? Porque se for isso, e acredito que é, então o Dallas está fazendo uma besteira tão grande quando dançar (?) na frente de Brodeur.

A punição foi largamente defendida na NHL, até mesmo por Brian Burke se manifestou — que enfrentou uma situação de punição muito mais justa, no caso Todd Bertuzzi, quando era gerente geral do Vancouver Canucks. Agora vêm na NHL me comparar uma agressão que quase aleijou um jogador a um simples comentário maldoso respondendo a uma pergunta igualmente maldosa da imprensa? Ainda mais levando em conta que Avery deve estar com a maior dor-de-cotovelo por ter perdido uma mulher daquelas para Phaneuf!

Vamos parar com a falsa-moral aqui. Avery merecia ser multado e só. Ah, claro, um pedido formal e público de desculpas, mas isso o jogador já fez. "Eu gostaria de me desculpar sinceramente por meus comentários infelizes à imprensa de Calgary ontem", declarou.

Mas punir o jogador por isso é absurdo. Suspender indefinitivamente?

Realmente, calado Avery é um poeta. E calada e omissa, a NHL é um belo exemplo de administração.

Thiago Leal abomina o machismo, mas abomina igualmente a hipocrisia e o falso-moralismo.
Troy Parla
A "dancinha" ridícula de Sean Avery para bloquear a visão Brodeur. O árbitro não acreditava no que via. Nem nós.
(13/04/2008)

Maxim Online
Elisha Cuthbert: sempre sonhei em publicar uma dessas aqui em TheSlot.com.br. E até eu ficaria com dor-de-cotovelo e falaria besteira se perdesse uma mulher dessas.

Reprodução
Se perdesse uma como a Rachel Hunter, aqui na capa da Playboy estadunidense, também.

The Sun
Cuthbert com Phaneuf: taqui o motivo da dor-de-corno de Avery.

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Página publicada em 3 de dezembro de 2008.