Por: Daniel Novais

Por que as ações de Sean Avery passaram do limite dessa vez
Para os poucos fãs que acompanham as minhas matérias nessa revista, já deve ser de conhecimento generalizado o meu gosto por temas que vão além de um simples momento. Dificilmente escolho escrever sobre o tema da atualidade, ou sobre a capa de todos os maiores e mais respeitados sites que tratam da NHL.

Mas, dessa vez, ficou dificil não me manifestar sobre o episódio acontecido com Sean Avery nessa última terça-feira. Oras, escritores altamente respeitados se desviaram de seus caminhos para abordar o assunto. Como eu, reles mortal, não faria o mesmo?

Dito isso, acredito que todos tem direito a expressar sua opinião sobre o caso, e já ouvi as mais diversas escritas e faladas aqui e acolá. Utilizando-me desse direito, deixo aqui o que penso sobre o assunto.

Para começar, vale a pena dizer que sou absolutamente favorável ao aparecimento dos personagens batizados de "pestes" na nossa liga favorita. Tratando-se de um jogo em que boa parte do rendimento está atrelado ao estado emocional e à confiança, jogadores capazes de gerar distúrbios, incomodar grandes estrelas e fazê-los sair do jogo — olha lá que grande idéia, parar estrelas fora de série com seus próprios problemas psicológicos! —, e especialmente, provocar uma busca no próprio time por aquele esforço extra, tão fundamental numa era de jogos tão equilibrados e regularmente decididos por um pequeno detalhe do jogo, tornam essas figuras seres valiosíssimos pelo espaço ocupado no orçamento.

Só que, antes de mais nada, essas "pestes" estão ali para exercer um papel, uma função dentro do seu grupo. Isso acontece com, aproximadamente, 100% dos jogadores da NHL, sejam eles matadores (snipers), as cabeças criativas (playmakers), os brigões (enforcers), entre outras tantas. E não coloco que esse número seja de 100% exatamente pelo fenômeno Sean Avery.

O desastre visto por todo o mundo esportivo, e divulgado até mesmo na mídia nacional, é só mais um episódio para o currículo já, digamos, "vistoso" de Avery.  E a sua encenação já ganha traços de desespero pela atenção da mídia. Neste evento, claramente, o foco das suas declarações não foi desestabilizar um adversário ou criar um cenário favorável para seu time. Foi tão somente uma vontade egoísta de aparecer, de forma até infantil, ao transparecer um certo rancor para com as suas ex-parceiras.

A demonstração de que seus atos já estão fora dos limites aceitáveis veio de imediato, de todos os lados. A NHL cumpriu seu papel de manter os padrões aceitáveis de declarações de seus "empregados" diretos, suspendendo-o de suas atividades. O próprio presidente da equipe pela qual atua, Tom Hicks, declarou que tomaria providência semelhante caso ela não partisse da liga. Seus parceiros de equipe já demonstraram sua impaciência com o colega, e isso fica claro nos diversos vídeos espalhados pela internet com as reações de Turco, Modano e Richards, todas figuras influentes na franquia do Texas, evitando sequer falar sobre o problema. Até mesmo Brett Hull, co-gerente geral dos Stars e bancador do contrato absurdo oferecido a Avery — indo de encontro ao desejo do próprio Modano e do capitão Morrow — acusou Avery de ter claros problemas mentais para manter seu foco onde deve: no gelo.

A reação da NHL
Como não poderia ser diferente, a NHL tomou uma reação imediata de suspender indefinidamente o acusado até que seja definida a sua pena definitiva.

Muitos já acusaram a liga de ser excessivamente rigorosa, e muitos dos pontos expostos são extremamente válidos. Como punir mais severamente palavras do que ações que poderiam provocar sequelas definitivas em um colega de profissão, como é o caso dos perigosos trancos na cabeça, ou que provocam a ida de cabeça nas bordas?

Da minha parte, sempre achei que a NHL foi muito bondosa com essas jogadas perigosas. Por esse motivo, espero que as situações sejam absolutamente desvinculadas, e que Avery sofra uma punição adequada ao teor de suas palavras, altamente chulas para qualquer nível de convivência familiar.

Sim, as expressões usadas por ele são ditas regularmente em conversas de bar entre amigos, mas não na frente de câmeras que transmitem aquelas mesmas palavras para crianças, mulheres e idosos, gerando uma sensação de desconforto até nos mais descolados com relação ao uso de palavras de baixo calão.

Curiosamente, a pouco tempo atrás saíram matérias divulgando o crescimento da NHL frente à estagnação ou até decadência da NBA. Um dos pontos abordados foi justamente a incapacidade dos jogadores de basquete de servirem de modelo nos quais as crianças possam se espelhar. Longos anos já se passaram desde que seres como Michael Jordan, Karl Malone e Larry Bird se aposentaram. Agora a moda é o estilo gueto, adotado fortemente pelas atuais estrelas do basquete. Enquanto isso, o hóquei mira sua imagem com garotos-propaganda que parecem verdadeiros filhos-modelo, como o expoente-mor Sidney Crosby.

Justamente para manter essa imagem e ambiente de esporte, tão desaparecido em outras modalidades atualmente, que espero que a vida de Sean Avery na liga seja encurtada.

E o futuro?
Bem, para Sean, esse pode realmente ser o fim da linha como personagem de destaque. Dificilmente sua carreira terá continuidade em Dallas, especialmente com todos já sabendo que seus atos não são nada apreciados localmente. Para exemplificar, nessa quarta-feira ele até tentou agendar uma conferência com a imprensa visando pedir desculpas. A organização de Dallas se negou a tomar qualquer partido nesse ato, fazendo com que o Avery tivesse que fazê-la por conta própria.

Frente a isso, ficam restantes algumas poucas opções para os Stars:
- Colocá-lo na Desistência... e torcer muito que algum time desesperado morda a isca. Caso contrário, vale a pena recolocá-lo na Desistência. Certamente é melhor arcar com metade do salário apenas do que vê-lo contaminando o sistema de prospectos da franquia.
- Comprar o seu contrato... isso só pode acontecer ao fim da temporada, e até lá? Pagar o salário integral e sentá-lo do lado de fora? De qualquer forma, os Stars teriam que pagar ao longo dos anos boa parte do contrato para o jogador.
- Rescindir o contrato... seria o ideal para a franquia, usando alguma cláusula de desrespeito sobre a conduta do jogador. Porém, dificilmente a NHLPA aceitaria essa rescisão sem remuneração de braços cruzados, para não abrir precedentes.

O mais curioso de tudo isso é que tolices como essas podem encurtar uma carreira relativamente promissora. Avery nunca seria ou será um jogador para marcar 30 gols por temporada. Mas a união de vontade de dar o máximo com mãos muito melhores do que a da maioria dos seus concorrentes de posição o tornariam uma peça única para diferenciar a franquia pela qual atua das suas adversárias.

Uma pena que a sua total inabilidade de canalizar essa energia apenas para o gelo possa encerrar sua carreira tão prematuramente.

Daniel Novais é fã de uma boa dose de provocações para apimentar os jogos, desde que estes não se tornem atos de violência ou racismo/sexismo.
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Página publicada em 4 de dezembro de 2008.