Por: Humberto Fernandes

Charlie Chaplin, famoso ator, diretor e roteirista britânico, dizia que "o tempo é o melhor autor: sempre encontra um final perfeito."

Para o Edmonton Oilers o final perfeito parece estar muito distante sob o comando do treinador Craig MacTavish, em sua oitava temporada no cargo e 17.ª ao todo na organização, somados os anos como jogador, assistente técnico e técnico. Nos últimos 22 anos é possível que ele tenha frequentado a casa dos Oilers mais do que a sua própria residência, então é apropriado dizer que tempo ele teve de sobra para fazer o seu melhor.

Como jogador, MacTavish conquistou a Copa Stanley três vezes com os Oilers na década de 1980. Na função de treinador, a melhor campanha resultou no vice-campeonato em 2005-06, o ano de Chris Pronger, quando a equipe foi derrotada pelo Carolina Hurricanes em sete jogos. Desde então Edmonton nunca mais recebeu um jogo de pós-temporada, o que aconteceu em quatro das sete temporadas completas de MacTavish.

Para 2008-09 esperava-se que os Oilers estivessem na briga por uma vaga nos playoffs e, segundo o treinador, havia a possibilidade de disputar o título da Divisão Noroeste. Com quatro jogos disputados na temporada a equipe somava oito pontos, incluindo duas vitórias sobre o rival Calgary Flames na Batalha de Alberta. No entanto, desde então a situação mudou completamente e o time não está sequer próximo daquilo que era imaginado.

Os Oilers amargam a penúltima posição na Conferência Oeste com 22 pontos em 23 jogos. Venceram apenas duas das últimas oito partidas, com três derrotas nas últimas quatro. No Rexall Place, onde costumava-se ouvir a mais barulhenta torcida da NHL nos playoffs de 2006, a equipe perdeu os últimos cinco confrontos. É verdade que as aparições em Edmonton foram raras até o momento, onde os Oilers disputaram apenas seis dos primeiros 20 jogos da temporada, mas nenhum time pode perder cinco vezes seguidas diante de seus fãs sem sofrer qualquer impacto.

Então o trabalho de MacTavish está definitivamente por um fio.

É provável que os Oilers ainda façam alguma troca para mexer no time, antes de partir para o plano B, que consiste em demitir MacTavish. Um jogador declarou em anonimato que talvez uma troca ajude, mas que após tanto tempo uma mudança de treinador cairia bem.

Mas o que os Oilers vão trocar? O ideal seria despachar um dos goleiros, Mathieu Garon ou Dwayne Roloson, mas dificilmente haverá algum time interessado em receber qualquer um deles. Garon tem 30 anos e 193 jogos na carreira, enquanto Roloson é quase um quarentão e seu salário é proibitivo. Portanto o sistema de três goleiros — acrescente Jeff Drouin-Deslauriers — deve permanecer, o que não é bom para nenhuma das partes.

Além disso, as demais equipes da liga não morrem de amores pelos Oilers desde que Kevin Lowe, hoje presidente e à época gerente geral, ofereceu contratos para os agentes livres restritos Thomas Vanek e Dustin Penner, respectivamente jogadores do Buffalo Sabres e Anaheim Ducks, em 2006. A gerência dos Sabres igualou a absurda oferta e manteve Vanek, o que se mostrou um grande acerto. Os Ducks, por sua vez, abriram mão de seu direito, recebendo em troca algumas boas escolhas no recrutamento.

Embora seja permitido, não é muito comum fazer ofertas por jogadores sem contrato quando seus direitos ainda estão atrelados a outro time. A atitude de Lowe fez com que ele se tornasse uma persona non grata liga afora. Talvez por isso a decisão de nomeá-lo presidente e contratar Steve Tambellini como gerente.

A favor da manutenção de MacTavish está o fato de que o novo proprietário da equipe, Daryl Katz, não quer demitir o treinador em seu primeiro ano como manda-chuva do time. Contra ele está todo o resto.

Após a derrota para o Detroit Red Wings no dia 17 de novembro os Oilers trabalharam duro em todos os aspectos do jogo durante cinco dias. Os líderes do time reuniram o elenco, o treinador e seus assistentes exibiram vídeos e dentro do vestiário uma sessão de auto-críticas não deixou ninguém de fora. Cinco dias de dedicação absoluta em resposta às declarações públicas de MacTavish questionando o esforço de seus comandados. Então os Oilers foram ao gelo do Rexall Place para enfrentar o Los Angeles Kings, que na noite anterior havia sido goleado pelos Flames por 6-2. Como se os cinco dias de trabalho nunca tivessem existido os Oilers foram derrotados por 2-1. O resultado e a péssima atuação do time acenderam de vez a luz vermelha em uma organização que nunca teve pressa para decepar cabeças.

MacTavish admitiu que as lições ensinadas durante o período intenso de treinos não apresentavam nenhuma novidade, eram variações das teclas que ele vem batendo nos últimos três meses — ou nos últimos oito anos, como ele mesmo sugeriu.

O principal fator para a má campanha da equipe é a anemia ofensiva. Os Oilers têm o segundo menor número de chutes a gol da liga, foram superados nesse quesito pelos adversários em 17 dos 23 jogos disputados e a média de gols da equipe é a nona pior, com 2,58 gols marcados por jogo. Os atacantes evitam as brigas pelo disco nas bordas e não se comprometem como deveriam, em vez de comprar a idéia de jogar simples. A filosofia dos Oilers exige que os atacantes "sujem as mãos" e MacTavish é o seu mensageiro.

Com exceção de Ales Hemsky, autor de 24 pontos, nenhum outro atacante tem atuado decentemente, embora o grupo tenha profundidade satisfatória. Três dos cinco maiores pontuadores do time são defensores, inclusive o maior goleador, Sheldon Souray, com oito gols. As maiores decepções são Shawn Horcoff (16 pontos), Erik Cole (sete) e Penner (oito). Cole deveria ser o grande atacante da equipe, mas não se parece em nada com o jogador que marcou 61 pontos em 2007 pelo Carolina Hurricanes e por quem os Oilers trocaram o defensor Joni Pitkanen em 1.º de julho. Penner, o alvo da proposta indecorosa de Lowe, mostrou-se um desastre em Edmonton, completamente fora de forma, sendo até barrado em dado momento da temporada.

A falta de produção ofensiva levou MacTavish a mudar completamente as suas linhas de ataque, às vezes dentro de um mesmo jogo. Jogadores foram convocados do time menor na AHL e até defensor no ataque ele improvisou. Sem sucesso.

Um quarto da temporada já se passou. A menos que a mensagem de MacTavish seja entregue bem depressa, é bastante provável que Lowe procure por um novo mensageiro.

Souray reconhece que o treinador não tem culpa, ao afirmar que "cabe aos jogadores trazer um pouco mais e ser um pouco mais eficientes na produção ofensiva", mas para quem está no oitavo ano à frente do time colecionando fracassos sempre é reservada uma boa parcela de culpa. E nesse caso o tempo não joga a favor, porque, como dizia Plutarco, filósifo e prosador grego do período greco-romano, "o tempo é o mais sábio dos conselheiros."

E o conselho para os Oilers é simples: o tempo de MacTavish acabou.

Humberto Fernandes assume que está viciado em House M.D. após assistir a uma temporada inteira em quatro dias.
AP
Erik Cole, contratado em julho, deveria ser o principal atacante do Edmonton Oilers. Deveria.
(30/11/2008)
AP
Quando Craig MacTavish diz que seus atacantes precisam "sujar as mãos", ele não estava se referindo a sangue...
(30/11/2008)
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Página publicada em 3 de dezembro de 2008.