Se você acompanha o Atlanta Thrashers desde que ele entrou para a NHL, em 1999, você sabe que o gerente geral Don Waddell há muito tempo despreza o curto prazo. No cargo desde a fundação do time, sua prioridade sempre foi o desenvolvimento a longo prazo da organização, em vez de tentar consertos paliativos e melhoras insignificantes.
Isso não significa que Waddell não tenha agido com astúcia. Ele fez uma troca para assegurar a primeira escolha do recrutamento de 1999, sentindo que era importante que os Thrashers começassem na liga com esse impacto. Ele mandou Dany Heatley para o Ottawa em 2005 e recebeu em troca Marian Hossa e Greg DeVries, negociação ocorrida sob as extenuantes circunstâncias do trágico acidente de carro, em 2003, que matou Dan Snyder e deixou Heatley baqueado tanto mental como fisicamente. Mesmo assim, todas as trocas que ele fez, tenham dado certo ou não, sempre eram pensadas com base no futuro.
Bem, nas palavras de Waddell, o futuro é agora — e em um
espaço de 12 horas ele fez duas trocas diametralmente opostas à
convicção de construtor que ele demonstrou ao longo das
últimas sete temporadas. Ao adquirir Alexei Zhitnik e Keith Tkachuk,
Waddell abriu mão do prospecto Braydon Coburn — oitava escolha
geral em 2003 —, além das suas escolhas de primeira e de
terceira rodada no próximo recrutamento e da de segunda em 2008.
Ele também mandou o atacante Glen Metropolit como parte da troca
que trouxe Tkachuk — o segundo titular que ele trocou nas últimas
duas semanas, ao lado do defensor Vitaly Vishnevski, mandado para o Nashville
em troca do central Eric Belanger.
É um bocado de transações para um um time que chegou a estar 13 jogos acima dos 50% nesta temporada, mas que não tem conseguido manter o ritmo na segunda metade da temporada — com a pressão se acumulando para se classificar aos playoffs pela primeira vez na história —, precipitando trocas dramáticas como as recentes. E elas tornam os Thrashers um time melhor. Zhitnik vai dar ao técnico Bob Hartley um veterano para estabilizar sua principal dupla defensiva e um cara confortável com o papel de comandar a vantagem numérica a partir da linha azul. Tkachuk vai dar a Ilya Kovalchuk um central de talento comprovado e uma presença física na vantagem numérica.
Essa é a perspectiva no gelo.
A análise real está na resposta a pergunta: os Thrashers pagaram um preço alto demais? Este time precisa se classificar aos playoffs — é a última peça do processo de construção da marca em sua região. Com uma campanha que conquistou a atenção e o entusiasmo da torcida local no fim da temporada passada, seguida pelo bom começo nesta, e com o Jogo das Estrelas em Atlanta em 2008, manter o embalo era obrigação.
Essas trocas garantem a classificação? Não, mas mantêm o embalo do time nessa direção. E se os Thrashers se acertarem nos próximos 18 jogos, essa manobra vai ser alardeada como tendo sido feita no momento certo.
Há um senso de ironia aqui, dado o plano original de Waddell, de contruir até chegar ao ponto da proeminência e conseqüente inclusão nos playoffs. O imediatismo tomou o lugar da construção institucional como prioridade. E, embora não seja a principal neste instante, uma pergunta não quer calar: o que vai acontecer na próxima temporada?
Bem, não importa como os próximos meses se desenrolem, dá para dizer que os Thrashers não vão reabastecer seu time por meio do recrutamento. Não no curto prazo, pelo menos.
Darren Eliot é jornalista da revista Sports Illustrated. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.