Por: Humberto Fernandes

O gerente geral Ken Holland, do Detroit Red Wings, dificilmente sairia do dia-limite de trocas com um elogio. Na verdade era praticamente impossível que escapasse ileso, sem que fosse alvo de críticas.

Em todas as situações imagináveis Holland estaria errado. Se ele contratasse um veterano sacrificando o futuro do time, estaria errado. Se ele não fizesse nada, também.

Faltava menos de uma hora para o encerramento do período de trocas e a única cartada de Holland parecia ser a troca de Jason Williams por Kyle Calder na véspera. Logo, ele estaria cometendo um erro. Até que veio à tona a aquisição de Todd Bertuzzi, provocando o espanto de boa parte dos torcedores.

Os Red Wings supostamente estariam na primeira temporada da reformulação do elenco, abrindo espaço para jogadores mais jovens em detrimento dos veteranos de sempre. Porém, com a boa campanha da equipe, impulsionada principalmente pelas atuações de sua defesa, incluindo Dominik Hasek, o Detroit se encontrou em posição de competir pela Copa Stanley, mesmo que isso não seja unanimidade.

Nada mais natural, então, que buscar reforços. A torcida já viu esse filme: boas escolhas no recrutamento e jovens promessas por veteranos que nem sempre deram certo. Situação agravada pela condição atual da equipe, que embora esteja lutando pela primeira posição geral, não demonstra ter condições de superar os maiores adversários de conferência.

Isso já aconteceu antes. Na temporada passada, na anterior e em muitas outras. Por mais que se queira acreditar que dessa vez possa ser diferente, sempre há a lembrança dos fiascos recentes, todos com muitas semelhanças em relação a situação atual.

Com a eliminação na primeira ou segunda rodada dos playoffs anunciada, pra que desperdiçar o futuro da equipe em uma troca qualquer?

Holland então tratou de tornar sua última cartada por uma longa corrida nos playoffs em algo extraordinário, fora do comum. Não só escapou ileso como foi aclamado. Adquirir um jogador como Bertuzzi é indiscutivelmente um feito, principalmente quando não se paga nada por ele.

Quem é que se importa com Shawn Matthias, 47.ª escolha do último recrutamento? O garoto de 18 anos aos poucos se afastava do radar de acompanhamento dos melhores prospectos da equipe. E o que são duas escolhas condicionais, quando as condições protegem os Red Wings do risco Bertuzzi?

O Florida Panthers receberá uma escolha de primeira rodada caso os Wings alcancem as finais de conferência, Bertuzzi atue em dois terços dos jogos dos playoffs e esteja entre os cinco artilheiros. Se essa última condição não for atendida, então a escolha será de segunda rodada, a menos que o Detroit avance para a Copa Stanley, situação que garante aos Panthers o recebimento da primeira escolha. Se nada disso acontecer, uma escolha de terceira rodada encerra a questão.

Outra escolha condicional está vinculada à renovação de contrato. Bertuzzi será agente-livre irrestrito ao final da temporada e poderá testar o mercado se assim desejar. Caso assine contrato com os Red Wings, os Panthers receberão uma escolha de segunda rodada em 2008.

Em resumo: quem não pagaria um prospecto mediano e uma escolha de primeira rodada pela Copa Stanley?

Até mesmo a pior das hipóteses, com eliminação precoce nos playoffs e a perda de Bertuzzi no mercado não assusta. Matthias e uma escolha de terceira rodada? Não vale um DVD do Chaves.

A presença de Bertuzzi trará a força física e a presença no ataque de que o time tanto carece, mesmo que ele não volte a jogar como em anos anteriores, quando esteve entre os cinco melhores atacantes da liga. O grande Todd operou as costas em novembro e ainda não tem condições de jogo. Sua estréia deve ocorrer em duas ou três semanas, e só então Detroit saberá o que é possível esperar dele.

Essa cirurgia é um fato isolado na carreira do jogador. Nas últimas três temporadas Bertuzzi atuou em todas as partidas, menos as 13 em que esteve suspenso após agredir Steve Moore, do Colorado Avalanche. Desde então foram 240 jogos, marcando 235 pontos, praticamente um por partida, sempre com mais de cem minutos de penalidades acumulados.

Com a chegada de Bertuzzi é possível acreditar em um final diferente do que a torcida tem visto nos últimos anos. Essa já não é uma temporada qualquer em Detroit. É a primeira vez sem Steve Yzerman e Brendan Shanahan, finalmente com um goleiro de verdade e em boa forma. Se tudo der certo e o final for feliz, então será inesquecível.

Bertuzzi, de 1,90m e 106 Kg, provavelmente jogará ao lado de Robert Lang na segunda linha, tendo como companheiro o recém-chegado Calder. Este, por sua vez, marcou gol em seu primeiro turno com os Red Wings, na vitória contra o Chicago Blackhawks por 4-1. Calder também foi uma boa aquisição de Holland, por sua habilidade e empenho. E aqui a equipe também não cedeu nada em troca. Porque Williams e nada é a mesma coisa.

Pela primeira vez em um longo tempo o grande Todd será aplaudido em Detroit. Seus companheiros de equipe já o aguardam, até mesmo Chris Chelios, inimigo desde os playoffs de 2002.

Se os Red Wings ganharem a Copa, Holland será o primeiro nome da lista de agradecimentos em Detroit. Caso contrário, tudo bem, ele fez mais do que o possível sem prejudicar o futuro da equipe. A esperança está de volta e veste vermelho e branco.

Humberto Fernandes tem orgulho de ser membro de TheSlot.com.br, a primeira revista semanal online sobre hóquei no gelo no Brasil, no ar desde abril de 2002.
Wilfredo Lee/AP
Todd Bertuzzi disputou apenas sete partidas pelo Florida Panthers, antes de sofrer uma cirurgia nas costas. Negociado no dia-limite de trocas, é agora jogador do Detroit Red Wings.
(28/09/2006)
Jonathan Daniel/Getty Images
A camisa número 17 traz boas lembranças: Brett Hull. Tudo bem, não é pra tanto, mas Kyle Calder agradou e muito aos fãs.
(27/02/2007)
Jonathan Daniel/Getty Images
A torcida agora é para que essa imagem se repita diversas vezes até junho, quando acontecerá a final da Copa Stanley.
(27/02/2007)
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Página publicada em 28 de fevereiro de 2007.