* Publicado originalmente em 25 de maio de 2008, logo após o jogo 1 da final da Copa Stanley.
Centro das atenções de um punhado de repórteres, Ken Holland falava sobre seus (breves e limitados) tempos de jogador e como eles o influenciaram na sua atual posição (longa e vencedora) como gerente geral do Detroit Red Wings.
"Eu fui goleiro," disse Holland. "Como goleiro, eu sempre gostei daqueles caras que estavam na minha frente, controlando o jogo."
Esse foi Holland, contando por que os Red Wings investem a maior parte de seu orçamento em defensores de qualidade. A prova de que o sistema de Holland é eficaz veio de novo no sábado à noite, na vitória por 4-0 dos Red Wings sobre o Pittsburgh Penguins no primeiro jogo da final da Copa Stanley. No papel, com Sidney Crosby e Evgeni Malkin de um lado e Pavel Datsyuk e Henrik Zetterberg do outro, houve quem pensasse que a final poderia ser de muitos gols.
Isso, entretanto, seria contrário ao que é natural a tudo que faz o Detroit tão bem sucedido. Apesar de toda a conversa sobre seu estilo de possessão do disco, é seu jogo defensivo que faz os Red Wings estarem a apenas três vitórias de outro campeonato da Copa Stanley.
Eles foram o melhor time defensivo da temporada regular e são o melhor time defensivo dos playoffs. Os Red Wings não fizeram um jogo perfeito — muitas penalidades no começo, mais uma controvérsia contemplando Tomas Holmstrom —, mas sua compostura e experiência na linha azul e o fato de que eles limitaram os Penguins a menos de 20 chutes a gol no final das contas prevaleceu, ajudando o goleiro Chris Osgood a conseguir seu segundo shutout nesta pós-temporada.
"Nós colocamos nosso dinheiro em nossa defesa," explicou Holland. "É onde esprememos todo o nosso dinheiro. Temos US$ 6 milhões em (Brian) Rafalski; temos US$ 7,5 milhões em (Nicklas) Lidstrom; temos US$ 3 milhões em (Niklas) Kronwall. Nós adoraríamos manter Brad Stuart."
Holland estava contando sobre uma ocasião, de volta no dia-limite de trocas de 1999, quando ele e seu assistante, Jim Nill, "gastaram imprudentemente todas aquelas escolhas do recrutamento" em trocas para adquirir, entre outros, Wendel Clark e Chris Chelios como a aposta para vencer outra Copa Stanley. Aquilo não deu certo.
Naquela noite,
sentado em um bar esportivo perto de sua casa, vendo sua foto em cada tela de TV, Holland disse que ele se virou para Nill e disse dali em diante: "nós temos que recrutar defensores porque em algum momento, quando (Steve) Yzerman estiver muito velho e (Brendan) Shanahan estiver muito velho e (Sergei) Fedorov tiver ido embora, como você se mantém competitivo? Se você estiver entre os cinco melhores da liga em gols sofridos, você será competitivo. Você tem que ser, mesmo que não marque muitos gols. Então se você olhar nossos recrutamentos nos últimos seis ou sete anos, todos que recrutamos são defensores. Temos vários garotos que acreditamos estar perto de jogar.
"Então eu acredito em
uma defesa móvel, que carregue o disco. Nós temos o melhor de todos no jogo (em Lidstrom). Então, tivemos sorte. Brian Rafalski é um jogador extraordinário. Essa é sua casa, as coisas ficaram ruins em New Jersey e ele acabou querendo vir pra casa."
Rafalski jogou pelo time do New Jersey Devils cuja filosofia de jogo tinha a defesa como o aspecto mais importante também. Nos tempos quando eles estavam competindo pelo título todo ano, era mais por causa de Scott Stevens, Scott Niedermayer e uma coleção de defensores confiáveis.
Mas Rafalski diz que há uma interminável diferença entre o jogo que o Detroit joga na defesa e a maneira que o New Jersey fazia.
"Nós tentamos ter mais o disco," disse Rafalski. "Tentamos controlar o disco no ataque, não apenas atirá-lo para a frente da rede para fazer uma jogada, mas sim esgotar o outro time
defensivamente permanecendo em sua defesa o tempo todo, tentando criar jogadas.
"Foi uma readaptação pra mim, com certeza."
Na abertura, Kronwall deu o tom fisicamente com quatro grandes trancos no primeiro período — em Jordan Staal, Evgeni Malkin, Tyler Kennedy e Ryan Malone. Kronwall fez a mesma coisa no primeiro jogo da série contra o Dallas com Antti Mietinen. Apenas no caso de alguém ter pensado que existiam problemas sobre a dureza do Detroit, elas foram resolvidas cedo. Mensagem entendida. Os Red Wings não serão acertados por aí — por qualquer um.
Ano passado, no dia-limite de trocas, Holland pensou que os Red Wings precisavam de grande presença física. É por isso que ele sacrificou um prospecto de ponta, Shawn Mattias, para trazer Todd Bertuzzi.
"Este ano, eu não achei que precisávamos desse elemento," disse Holland. "Ano passado, nós jogamos contra Calgary, San Jose e Anaheim — os três maiores, mais duros e mais perversos times de toda a liga — e nossos jogadores sobreviveram. Nós tivemos o Anaheim nas cordas. Tire o seu chapéu pra eles, eles saíram das cordas e foram campeões.
"No dia-limite de trocas deste ano, eu disse, 'nós trocamos um prospecto promissor no ano passado. Este ano, estou preparado para trocar uma escolha de segunda rodada e talvez alguma outra coisa para pegar um jogador. Qual é o jogador que nós queremos? Nós queremos alguém para marcar gols? Não, vamos pegar um defensor.
"Então nós pegamos Brad Stuart. Ano passado, quando perdemos Kronwall antes de os playoffs começarem e (Mathieu) Schneider na série contra o Anaheim, isso enfatizou a necessidade: 'pegue defesa, pegue defesa, pegue defesa, pegue defesa.'
"E a última coisa que eu vou dizer é que é porque nós temos Zetterberg e Datsyuk que podemos focar na defesa.
Se não tivéssemos Zetterberg e Datsyuk, eu não sei o que faríamos. Eu talvez estaria no lago em Vernon (Colúmbia Britânica), contando histórias agora."
Mas ele não está lá. Esstá na final da Copa Stanley, a três vitórias de outro campeonato,
que seria o quarto de Detroit em 11 anos. Às vezes, é recompensador desenvolver uma filosofia cedo na vida — e então ter a coragem de se prender a ela.