"Os deuses do hóquei não estavam do nosso lado [na quarta-feira]", disse Michel Therrien, o técnico dos Penguins. E como poderiam, se Dallas Drake estava no outro time? O mesmo homem que, de acordo com seus colegas, teria pegado no sono durante a prorrogação do jogo 5. Ou seja, um visionário que já tinha certeza de que a fatura estava garantida independentemente do resultado daquela partida.
Como sabemos que, apesar de Drake ter os deuses a seu lado, ele nunca usa o seu poder em vão, não dá para dizer que os Penguins tenham perdido para o sobrenatural. Estes Red Wings que agora desfilam orgulhosamente com a Copa Stanley não precisariam de nenhuma ajuda para levar o título. Não da maneira como passaram a jogar depois de redescrobrirem a paixão perdida nas duas derrotas na primeira fase para o Nashville.
Os Penguins perderam para
um time que foi superior a eles, especialmente nos dois primeiros jogos. Do jogo 3 em diante, essa superioridade não foi tão grande, mas o estrago já estava feito, isso sem falar que mesmo uma ligeira superioridade é uma grande vantagem. Não por acaso, no jogo 6 vimos mais uma vez o que os Wings conseguem fazer para frustrar seus adversários.
No terceiro período, os Penguins passaram muito, mas muito tempo com um único chute a gol. Quem não faz gols e praticamente não chute a gol em mais de 15 minutos não vai querer marcar dois gols em menos de dois minutos. Só que os Penguins quiseram. E quase conseguiram. Um gol veio, o outro passou a centímetros, talvez milímetros de sair dos sonhos da torcida que lotou a Mellon Arena.
Seria imerecido, como já havia sido o empate no último minuto do jogo 5. Mas seria uma prova da capacidade de um time que ainda paga um pouco pela sua relativa inexperiência. Pois bem, a inexperiência acabou. Com uma caminhada destas e ficando a meras duas vitórias do título, o que este time ganhou em quilometragem muito time que bate cartão nos playoffs não tem.
Na semana passada, Mark Messier disse que os Penguins lembram-no dos Oilers de 1982-83. Um time já projetado como favorito em médio prazo que chegou às finais e foi derrotado por um time mais experiente. A torcida de Pittsburgh nem precisa ser tão otimista para perceber as semelhanças e sonhar com uma nova vaga nas finais do ano que vem.
Há problemas, é verdade: é praticamente certo que Marián Hossa não estará de volta, o que abrirá uma nova caça a um ponta para jogar ao lado de Sidney Crosby. Se um não for encontrado durante a temporada dos agentes livres, ao longo do próximo ano será difícil fazer uma troca nos moldes da que trouxe Hossa, porque ele custou ativos de que o time já não dispõe em profusão.
Outro atacante de destaque que provavelmente já está de malas prontas é Ryan Malone. Com sua boa campanha nos playoffs, não vão faltar ofertas de novos contratos para ele. Talvez a única esperança de ele ficar seja o fato de ele ter nascido e sido criado em Pittsburgh (ele é filho de Greg Malone, que trabalhou por décadas no time). Pascal Dupuis, Adam Hall, Georges Laraque, Gary Roberts e Jarkko Ruutu são outros atacantes cujos contratos vencem ao final do mês.
Na defesa, as duas maiores presenças físicas do time, Brooks Orpik e o contundido Mark Eaton, verão seus contratos encerrados
no dia 30. A volta de Eaton é uma incógnita, mas é quase certo que Orpik deixará o time,
pois ele já deu declarações dizendo que não fica de jeito nenhum se o técnico Michel Therrien for mantido no cargo, algo que também está longe de ser uma certeza.
Está bem claro que este time foi construído para ganhar o título neste ano, embora as peças que fiquem sejam jivens o bastante para segurar a barra no futuro próximo. Os Penguins que pisarão no gelo em outubro serão um time bastante diferente do que deixou a Mellon Arena depois do jogo 6.
Dependendo de como o gerente geral Ray Shero cuidar das negociações de renovação de contrato e das conversas com agentes livres de outros times, é bem possível que o time não perca tanto. Se já é normal uma torcida ter esperanças renovadas na pré-temporada, o que dizer de uma que sabe que terá no gelo jogadores como Crosby, Fleury e Malkin?
O problema é, como lembra Allan Muir, esperava-se também um própero futuro dos Flyers de Eric Lindros depois que eles foram varridos nas finais pelo mesmo Detroit em 1997. Esse futuro nunca veio. Em Pittsburgh, o futuro parece estar nas mãos de Shero. Em outubro poderemos ter uma idéia melhor.