Como todos sabem o Montreal Canadiens reina soberano em número de Copas Stanley. Mesmo que a seca, que já dura 15 anos, se prolongue por algumas décadas, suas 24 conquistas dificilmente serão alcançadas sob nossos olhares.
Mas a posição de segunda equipe que mais vezes chegou ao topo do planeta hóquei começa a ser ameaçada. O time da cidade mais populosa do país onde esse esporte é uma religião já tem alguém nos calcanhares.
Quando a grande expansão de 1967 deu fim à era dos "Seis Originais", o Toronto Maple Leafs estava a apenas uma conquista dos rivais Canadiens. Mas os Leafs pararam no tempo, enquanto dez Copas foram erguidas pelos capitães tricolores desde então.
Como se não bastasse ver os quebequenses tão distantes, os Leafs foram ultrapassados em aparições em finais pelo Detroit Red Wings nessa última semana. Ambos haviam disputado a finalíssima em 21 oportunidades. A aparição contra o Pittsburgh Penguins foi a 22.ª da história dos vermelhos. A recente conquista coloca o time de Michigan, nove anos mais jovem que o rival, a duas Copas dos Maple Leafs.
A supremacia estadunidense de Detroit ganhou mais alguns quilômetros de vantagem. Já possuem mais que o dobro de Copas que o segundo colocado, o Boston Bruins (cinco), apesar desse ter disputado sete pós-temporadas a mais que Detroit (56). Outro original, o New York Rangers, vem a seguir, junto ao rival NY Islanders, com quatro Copas cada.
Considerando que Detroit entrou no circuito (?) da NHL após os Bruins e junto aos Rangers e Blackhawks, fica difícil discordar do título de Hockeytown, USA.
Vamos então a um rápido resumo de cada uma das 11 Copas de Detroit.
1935-36: Guiados pelo histórico treinador Jack Adams, os Wings levantaram sua primeira Stanley em sua 10.ª temporada de vida. Destaque para o jogo 1 das semifinais contra o Montreal Maroons, onde foram necessários 176 minutos para que alguém marcasse um gol. Quando já se aproximava das 2:30 da manhã, Mud Bruneteau deu fim à agonia e começou a varrida sobre os canadenses. Na finalíssima bateram os Leafs por 3-1 na melhor de 5, incluindo um acintoso 9-4 no jogo 2. A linha formada por Marty Barry, Larry Aurie e Herbie Lewis, além do também atacante Syd Howe e do goleiro Norm Smith foram os destaques do time.
1936-37: Novamente os melhores da temporada regular, os Wings levaram o bicampeonato. Da equipe ideal daquela edição, quatro eram jogadores de Detroit. O caminho para a final passou pelos Canadiens e só foi decidido na prorrogação do jogo 5. Na disputa da Stanley os rivais foram os Rangers. A série foi vencida também após cinco partidas. Destacável o fato de os Rangers terem que atuar em Detroit nos quatro últimos jogos porque um circo havia ocupado as dependências de sua arena. O grande destaque da conquista foi o goleiro Earl Robertson, que não foi vazado nos dois últimos jogos da série final no Olympia Stadium.
1942-43: Já na era dos Seis Originais, mas ainda com Jack Adams no banco, os Red Wings do central Sid Abel, cujo número 12 é um dos seis imortalizados da franquia, recuperou-se do trauma do ano anterior, quando se tornaram a primeira equipe, e única até hoje, a abrir 3-0 em uma final de Copa Stanley e acabar com as mãos vazias. Nos playoffs os algozes de 1942, os Leafs, caíram em seis embates. Na finalíssima varreram o Boston Bruins por 4-0. Mais uma vez o goleiro do time de Michigan não foi vazado nas duas derradeiras partidas. Dessa feita, Johnny Mowers foi a autor da façanha.
1949-50: A era de ouro dos Red Wings começou aqui. Época em que a Linha de Produção de Ted Lindsay, Sid Abel e Gordie Howe começou a render também em jogos de playoffs. E por falar em pós-temporada, ambas as séries do time foram decididas em prorrogações. A primeira contra os Leafs. Na final, contra os Rangers, Peter Babando anotou o 5.º gol do time quando a partida estava já no 2.º tempo extra do jogo 7. Lindsay, Abel e Howe ocuparam, respectivamente, as três primeiras posições na artilharia, com Maurice Richard vindo a seguir. Red Kelly, outro mito do hóquei, vencia sua primeira copa. A conquista foi a primeira sem Adams no comando. Tommy Ivan era treinador.
1951-52: Os Wings venceram a 4.ª temporada regular seguida, ficando a um ponto apenas de igualar o recorde de 101, estabelecidos por eles mesmos no ano anterior. Nos playoffs varreram Maple Leafs e Canadiens com absurda facilidade. Alex Delvecchio vencia a Copa logo em sua temporada de estréia, e Terry Sawchuk em sua segunda tentativa. Para completar, Howe vencia seu primeiro Troféu Hart e Sawchuk levaria o Vezina. O goleiro também ganhou notoriedade por ter sofrido apenas cinco gols nos oito jogos de pós-temporada naquele ano.
1953-54: Foi decisivo ter feito novamente a melhor campanha na temporada regular. Canadiens e Red Wings alternaram triunfos até chegar ao jogo 7, em Detroit. Com ambas equipes transbordando jogadores presentes no Salão da Fama, como Doug Harvey, Bernie Geoffrion, Maurice Richard e Jean Beliveau, pelos Habs, e os já mencionados dos Red Wings das duas conquistas anteriores, coube a um mortal, Tony Leswick, anotar na prorrogação o gol do título de Detroit.
1954-55: Terceira final em quatro anos entre Wings e Habs. Jimmy Skinner em seu primeiro ano treinando a equipe, pouco alterou o time vencedor do ano anterior. Nos playoffs varrida sobre os Leafs e mais uma vitória após sete jogos contra Montreal. Se Howe foi o artilheiro da pós-temporada, Delvecchio, com dois tentos, foi o destaque do 3-1 no Olympia, que rendeu o último título do time que dominou a NHL naquela década. A equipe ainda chegaria às finais em 1956, 1961, 1963, 1964, 1966 e 1995, mas a seca só seria derrubada 42 anos após a conquista de 1955.
1996-97: Após a eliminação traumática frente aos Sharks (1994), uma varrida sofrida nas finais da Stanley de 1995, nas mãos dos Devils de Jacques Lemaire, a derrota para o Colorado Avalanche após uma temporada regular perfeita em 1996, os Red Wings de Scotty Bowman e Steve Yzerman finalmente chegaram ao ponto máximo em 1997. A aquisição de Brendan Shanahan foi a injeção de adrenalina que faltava a equipe. Nos playoffs o troco contra o Colorado e a varrida, nas finais contra os Flyers foram os pontos máximos. Mike Vernon levou o Conn Smythe. A alegria pelo título após 42 anos foi interrompida dias após a conquista, quando uma acidente automobilístico encerrou a carreira do defensor Vladimir Konstantinov.
1997-98: Sem Vernon, Chris Osgood reassumiu a meta do time. Outra novela, dessa vez envolvendo a renovação de contrato de Sergei Fedorov acabou com final feliz, assim como a temporada do time. Tendo como motivação vencer a Copa e dedicá-la a Konstantinov, os Red Wings ignoraram o favoritismo do Dallas Stars nos playoffs. Nas finais o time varreu o Washington Capitals. Steve Yzerman foi o mais valioso jogador e, após receber a Copa Stanley, a entregou a Vladdy.
2001-02: Após a eliminação bisonha no ano anterior, Detroit montou uma equipe histórica. Dominik Hasek, Luc Robitalle e Brett Hull se juntaram a Shanahan, Yzerman, Fedorov, Chris Chelios, Nickas Lidström, Igor Larionov e Pavel Datsyuk. A temporada regular foi um passeio, mas os playoffs começaram com duas derrotas na Joe Louis Arena para o Vancouver Canucks. Mas um chute do meio do gelo de Lidström, no jogo 3, acabou mudando o rumo da série. Passaram tranqüilamente pelos Blues até encontrarem com o também estrelado Colorado Avalanche nas finais do Oeste. O time de Michigan esteve à beira da eliminação, mas Hasek manteve sua meta invicta nos jogos 6 e 7 — nesse último com um placar de 7-0 que jamais será esquecido pelas partes envolvidas. Detroit perdeu o jogo 1 das finais contra o Carolina Hurricanes, mas venceu os quatro embates seguintes. Foi a última temporada de Bowman como treinador na NHL. Lidström se tornou o primeiro europeu a vencer o troféu Conn Smythe.
2007-08: Apenas clique nos links ao lado.