Por: Marcelo Constantino

Dos campeões do Detroit Red Wings em 2008, seis deles já haviam sido campeões pelo time em outras ocasiões: Nicklas Lidstrom, Kris Draper, Kirk Maltby, Thomas Holmstrom, Darren McCarty e Chris Osgood.

Somente Osgood não estava na equipe em 2002, todos os demais levantaram a Copa em 1997, 1998 e 2002. Lidstrom, Draper, Maltby e Holmstrom jamais deixaram o Detroit.

Holmstrom jogou apenas algumas partidas nos playoffs de 1997, no começo. McCarty, embora não seja titular, atuou em várias nesses playoffs de 2008.

Os seis representam uma característica predominante na gestão do Detroit: a valorização de jogadores que se identificam com o time, com a franquia, jogadores que estabelecem uma saudável química dentro e fora do gelo. Como explicar a permanência de um jogador como Maltby, por exemplo, por 11 anos na mesma franquia? Em qual outro time McCarty teria retornado à NHL, e mais, jogado nos playoffs?

Vamos a cada um deles, ordenados pelas linhas em que geralmente atuaram:

Atacantes
Linha 1

Henrik Zetterberg
Jogador cavado lá embaixo no recrutamento de 1999 (210ª escolha), Zetterberg já é tido como um dos mais completos jogadores em atividade na NHL. Ainda que tenha terminado como líder em pontos, gols e +/- nos playoffs, seu Conn Smythe veio sobretudo por sua espetacular atuação defensiva. Foi ainda quem mais chutou a gol, o atacante com mais tempo de jogo dentre todos nas finais e o jogador com mais pontos em desvantagem numérica. Deverá tornar-se o MVP do time quando Lidstrom aposentar-se. Teve atuação primorosa nos playoffs, conquistou sua primeira Copa e levou o troféu de MVP.

Pavel Datsyuk
Ninguém na NHL maneja o taco como ele. Ninguém. Outro jogador cavado lá embaixo no recrutamento de 1998 (171ª escolha), o russo de poucas palavras em inglês mostrou nesses playoffs duas facetas até então pouco conhecidas: sua habilidade em marcar gols fora de casa e, mais impressionante, sua disposição para desferir trancos, sobretudo na zona ofensiva. Em alguns jogos, Dats chegou a liderar o time em trancos! Teve brilhante atuação nesses playoffs e conquistou sua segunda Copa.

Thomas Holmstrom
Atualmente ele é considerado o melhor jogador da NHL para atrapalhar a visão do goleiro. Enquanto Zetta e Dats fazem o trabalho bonito, Holmer faz o trabalho sujo. E faz muito bem. Teve gols legítimos anulados e um gol ilegítimo confirmado. Deu trabalho em todos os jogos. É outro recrutado lá embaixo (157ª escolha de 1994). Bela atuação nos playoffs, conquistando sua quarta Copa.

Linha 2
Johan Franzen

Até contundir-se, era considerado o MVP do time. Cismou de marcar gols em escala industrial contra o Avalanche. No entanto, o "Mula" contundiu-se e ficou de fora do time durante quase toda a série contra o Dallas Stars. O time não sentiu tanto assim a sua ausência, tanto que venceu a Conferência Oeste. Ainda terminou os playoffs como líder em gols (13) entre os jogadores. Marcar 13 gols em 16 jogos nos playoffs é monstruoso. Brilhante, conquistando sua primeira Copa.
Valteri Filppula
Um finlandês estranho num ninho europeu repleto de suecos, Filppula fez algumas de suas melhores partidas nos Red Wings nessas finais. Seu segundo gol no jogo decisivo é daqueles gols que não serão esquecidos, pela importância do momento. O jogo 2 das finais foi o melhor que já vi dele. Jovem, ainda tem muito pela frente. Conquistou sua primeira Copa.

Mikael Samuelsson
Cavado pela gerência, Samuelsson só fez seu nome no Detroit. Ele é meio marcado pela torcida, mas sabe conduzir bem o disco. Numa equipe que preza a posse do disco, ele se encaixa bem. É veloz, mas teima em tentar fazer mais do que sabe, o que eventualmente compromete suas atuações. Foi eficiente de um modo geral, sendo o quinto atacante que mais pontuou no time nos playoffs. Conquistou sua primeira Copa.

Linha 3
Dan Cleary
Cleary foi outro cavado pela gerência que só foi feliz em Detroit. Ficou um longo tempo contundido durante a temporada e, depois de retornar, não conseguiu recuperar sua produção ofensiva de antes. Ainda assim, foi dos principais jogadores defensivos da equipe nos playoffs, conquistando sua primeira Copa.

Kris Draper
Um dos líderes do time, sempre um dos principais jogadores defensivos, e ainda veloz na transição para o ataque. Draper é Detroit sangue puro. Cometeu uma e outra penalidades inteiramente descabidas, e em momentos cruciais, mas felizmente isso não comprometeu. Foi o maior vencedor de face-offs dos playoffs. Em todos os decisivos, era ele que ia disputar. Conquistou sua quarta Copa.

Dallas Drake
Ele estava para se aposentar, mas topou mais uma tentativa de ao menos chegar às finais da Copa Stanley, atuando, aos 39 anos de idade, pelo time que o recrutou. Conseguiu não apenas chegar à final, mas ser campeão. Teve boas atuações (pontuou mais que Cleary, por exemplo) e ajudou o time nos dois lados do gelo. Conquistou sua primeira Copa e teve a honra de receber o troféu das mãos do capitão Nicklas Lidstrom.

Linha 4
Jiri Hudler

Embora ainda aquém do que um dia projetou, Hudler foi um importante jogador na equipe. Recrutado na segunda rodada de 2002 pelo Detroit, ele é presença certa na segunda linha de VN do time. E o mais importante: foi dos mais regulares pontuadores da equipe nos playoffs, tendo sido o quarto maior pontuador do time (atrás apenas do trio sensacional Zetta, Dats e Franzen). Foi o único jogador com +/- negativo, no entanto. Bela participação, conquistando sua primeira Copa.

Kirk Maltby
Entrou no time durante os playoffs, tendo se recuperado de uma contusão e jogou seu hóquei habitual no pouco tempo de jogo que teve. Conquistou sua quarta Copa.

Darren Helm
O novato entrou no time no lugar de Mark Hartigan e nunca mais saiu. Veloz e combativo, Helm cumpriu bem seu papel, inclusive marcando alguns gols. Conquistou sua primeira Copa.

Outros
Darren McCarty
Seu retorno é uma bela história, que se completa com o título. Afastado do hóquei, quebrado e recuperando-se de mais uma queda pelo álcool, ele voltou a treinar forte para tentar voltar à NHL. Conseguiu praticamente um prêmio de Ken Holland, que apostou nele. Seu primeiro jogo nos Griffins, time menor afiliado ao Detroit, foi um épico: meteu um hat-trick na estréia. Chamado ao time de cima, começou os playoffs jogando na vaga de seu antigo companheiro, Kirk Maltby, contundido. Cumpriu seu papel. Conquistou sua quarta Copa.

Mark Hartigan
Atuou nos quatro primeiros jogos dos playoffs. Não chegou a decepcionar, mas Babcock decidiu trocar mesmo assim. Conquistou sua primeira Copa.

Defensores
Linha 1

Nicklas Lidstrom
Seguramente um dos maiores defensores da história do hóquei sobre o gelo e seguramente um dos jogadores mais importantes da história do Detroit Red Wings. Disparado o jogador mais importante deste time — na verdade ele vem sendo o mais importante desde a virada do século. Mesmo com Steve Yzerman no time.

Pessoalmente nunca vi defensor melhor que Lidstrom. Simplesmente porque ele joga bem toda santa noite, todo santo jogo. Quando um atacante entra na defesa com ele na frente, você fica mais tranqüilo do que se estivesse com dois goleiros no gol. Invariavelmente ele não permite um bom disparo adversário, isso quando não consegue afastar o disco do taco do atacante. E isso sem jamais precisar usar da força física. Lidstrom é um dos maiores achados da história da franquia. Conquistou sua quarta Copa, a primeira como capitão.

Brian Rafalski
Adquirido para suprir a partida de Mathieu Schneider, Rafalski reencontrou seu melhor hóquei com o Detroit. Depois de uma temporada primorosa, foi sempre importante nos playoffs. Marcou gols nos dois últimos jogos. Conquistou sua terceira Copa.

Linha 2
Nicklas Kronwall
Foi a terceira temporada dele, mas os primeiros playoffs. Finalmente livre de contusões, Kronwall desancou a dar ao menos um grande tranco em todos os jogos dos playoffs, até o jogo 3 das finais em Pittsburgh, quando parou com a mania. Importantíssimo especialmente nas finais, liderou todos os defensores em pontos nos playoffs, embora sem marcar gol. Liderou a liga em +/- e o time em assistências. É, de longe, o defensor mais promissor da equipe. Conquistou sua primeira Copa.

Brad Stuart
Adquirido nos minutos finais do dia-limite de trocas, Stuart é outro que reencontrou seu jogo no Detroit. Fora uma vez ou outra que saiu de posição para disparar um grande tranco, ele foi sempre um defensor importante. Seus +15 só não foram superiores aos +16 de Zetta e Kronwall. Conquistou sua primeira Copa.

Linha 3
Brett Lebda
Ele entrou no time logo depois da segunda derrota para o Nashville. O primeiro jogo não foi tão bom, mas Lebda foi melhorando ao longo dos playoffs e assumiu a "primeira posição" da terceira linha de defesa. Defensor mais rápido e que avança ao ataque eventualmente, cumpriu seu papel. Conquistou sua primeira Copa.

Andreas Lilja
Foi barrado por Lebda e depois barrou Chris Chelios. Ótimo matador de penalidades, Lilja está na memória dos torcedores dos Red Wings como o jogador que perdeu o disco que resultou no gol da vitória dos Ducks num jogo dos playoffs passados. Passado isso, ele mostrou seu valor nesses playoffs. Conquistou sua primeira Copa.

Chris Chelios
Chelios foi titular durante boa parte dos playoffs. Um erro que custou um gol ao Dallas Stars no jogo 5 da final de conferência acabou lhe custando a vaga no time titular. Foi o único do time a não pontuar. Aos inacreditáveis 46 anos de idade ainda é um importante jogador no time. Muitos queriam vê-lo no time nas finais, mas Babcock manteve o time que vinha vencendo. Chelios jamais reclamou da barracão, pelo contrário: deu declarações públicas reforçando o conjunto do time. Um jogador de muita classe. Conquistou sua terceira Copa.

Goleiros
Chris Osgood
Uma bela história. Dez anos depois de vencer a Copa como titular, ele vence novamente, e mais uma vez defendendo o Detroit. Barrou Dominik Hasek (goleiro que o empurrou para fora de Detroit, ao ser contratado em 2002) depois do jogo 4 contra o Nashville e nunca mais saiu do time, nem mesmo por um segundo que fosse. Apenas uma vez sofreu mais de 3 gols — no clássico jogo 5 das finais — e obteve três shutouts, dois deles nas finais. Andou exageradamente sendo cogitado para levar o troféu Conn Smythe. Independentemente disso, Ozzie foi grande. Quase sempre muito bem posicionado, sofreu poucos gols e terminou com ótimos números: liderou todos os goleiros em média de gols sofridos (1,55) e 93% de defesas. E tudo isso depois de fazer a melhor temporada de sua carreira. Brilhante. Conquistou sua terceira Copa.

Dominik Hasek
Andou sofrendo apagões nos primeiros jogos contra o Nashville e, quando isso começou a custar vitórias aos Wings, foi sabiamente sacado do time por Babcock. Jamais reclamou (ao menos não em público), permaneceu sorridente e leal, e conquistou sua segunda Copa aos 43 anos de idade.

Marcelo Constantino exalta também o espírito guerreiro dos Penguins, time que jamais se entregou.

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Nicklas Lidstrom, o capitão, o líder, o melhor defensor da história do time.
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Henrik Zetterberg, o MVP do time nos playoffs, e futuro MVP do time quando Lidstrom se aposentar.
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Chris Osgood, finalizando a melhor temporada de sua carreira, chegando a ser cogitado para levar o Conn Smythe.
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Pavel Datsyuk levanta sua segunda Copa: ninguém na NHL sabe manejar o disco melhor que ele.
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Johan Franzen, um monstro goleador nos playoffs: 13 gols em 16 jogos. Incrível.
Keith Srakocic/AP
Darren McCarty, completando uma belíssima história de retorno ao esporte e ao Detroit.
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Página publicada em 8 de junho de 2008.