O placar mostrava 3-1 para os Red Wings. Eram dois gols de diferença,
faltavam cada vez menos minutos para o fim. Novamente os Penguins pareciam
finalizados, tal qual no jogo 5. Só que agora eram dois gols de diferença,
e não apenas um.
Três minutos para o fim. Disco vai, disco vem, Copa Stanley se aproxima.
Dois minutos para o fim, e aí velhos demônios insistem em reaparecer,
velhos pesadelos insistem na reprise.
Penalidade contra o Detroit, novamente Jiri Hudler. A penalidade parece
boba, ainda mais em fim de jogo. Mas é aquela coisa, na teoria não existe
penalidade pra ser marcada durante o jogo e não perto do fim. No ano
passado Pavel Datsyuk também foi penalizado por algo tido como bobo
no fim de um derradeiro jogo contra o Anaheim Ducks — que levou
ao gol de empate e, posteriormente, à derrota na prorrogação. Hudler
fora penalizado no jogo 5 (e ali não cabe qualquer questionamento),
o que resultou no fatídico gol de Petr Sykora.
Ok, vamos em frente, vantagem numérica para os Pens. Eles já marcaram
um gol, mas esta equipe especial dos Wings é boa. Mal começa e... está
lá, gol rápido de Sergei Gonchar. O fantasma do jogo 5 estava de volta.
Faltava pouco mais de um minuto para o fim e a diferença voltava a apenas
um gol.
Dali em diante foi o desespero. De um lado o desespero de tentar marcar
e reviver dois dias antes. Do outro o desespero de espantar o fantasma
de dois dias antes e fechar logo a série. Duelo de desesperados.
Disco vai, disco vem, Penguins sem goleiro, um minuto para o fim do
jogo.
Eu me lembro de três pontos nesses longos segundos finais: 1) Não houve
qualquer ameaça de gol do Detroit na rede vazia; 2) Num determinado
momento, segundinhos finais, se não me engano Pavel Datsyuk faz um belo
movimento na defesa que tira todo mundo da jogada e consegue aliviar
o disco; e, por fim, 3) Logo a seguir, segundésimos finalíssimos, deparo-me
com dois Penguins entrando mais ou menos livres no ataque, "não é possível
a esta altura do jogo!", o disco vai pro gol, alguém disparou, o barulho
é intenso, me esqueci de respirar, Osgood defende mas não defende, o
disco escapuliu, parece passar ao lado do gol, não era pra acabar?,
quanto tempo ainda falta?, vem um atacante dos Pens e... nesses milésimos
de segundos toda uma vida passa pela cabeça.
Não há mais respiração, o tempo acabou?, ainda tem jogo?, onde está
o disco?, o narrador berra, a torcida inflama, fantasma do jogo 5 de
novo não, de novo não!, cadê o disco?, já imaginou outro empate e outra
prorrogação?, não, isso não!, o disco está no cantinho do gol, Osgood
parece..., peraí, o time está comemorando, os Pens estão combalidos
no gelo...
O Detroit é o campeão da Copa Stanley de 2008!
Ainda levou algum tempo para cair na real, espantar em definitivo todo
e qualquer fantasma ou pesadelo, e vislumbrar:
O Detroit é o campeão da Copa Stanley de 2008!
Na verdade levou mais tempo que esse parágrafo acima. Ainda estático,
pego o telefone pra falar com Humberto Fernandes e só me lembro de perguntar
algo como "o que foi esse último segundo, cara, o que foi esse último
segundo?".
Vejo o replay. É ainda pior do que eu pensava (a definição da transmissão
via sopcast impede a visão perfeita das coisas). O disco já praticamente
passava do gol quando Marian Hossa bateu nele pra dentro.
O bichinho passou por todo o gol, de um lado ao outro, sem entrar. E,
pra piorar, o tempo já havia se esgotado. Já imaginaram se tivesse entrado?
Declarar um campeão depois de revisão de vídeo?
Ok, o Detroit é o campeão da Copa Stanley de 2008, mas o impacto do
"quase", do "quase-pesadelo" revisto, demorava a ir embora.
Chris Osgood mais tarde diria: "Nós sempre temos que fazer ficar mais
interessante", sobre o lance final. Faz isso não, Osgood! Isso mata
corações mais sensíveis.
Enfim, o longo e interminável segundo final terminou. Terminou vários
minutos depois, ali pela apresentação do Conn Smythe, mas terminou.
O Detroit é o campeão da Copa Stanley de 2008!
Marcelo Constantino torce para o Detroit Red Wings e viveu exatamente o relatado acima.