De repente parece que apareceu uma onda de mudança de proprietário em meia dúzia de franquias da NHL. O caso dos Coyotes nem merece mais citação, já virou um capítulo à parte na história da liga. Um pouco menos recente também é o caso do Dallas Stars, cujo proprietário principal está abertamente tentando vender o time, mas essa semana tornou-se pública a tentativa do grupo de telecomunicações canadense Rogers de comprar a empresa que compreende o Toronto Maple Leafs (incluindo no negócio o Toronto Marlins -- equipe afiliada menor dos Leafs --, o Toronto FC de futebol da MLS e o Toronto Raptors da NBA).
Atualmente o principal proprietário dos Leafs é um fundo de pensão dos professores de Ontário, por mais estranho que isso possa parecer. Além disso, oficialmente eles não estão tentando vender o time, na verdade nenhum dos times que eles têm, além da arena onde os Leafs mandam seus jogos em Toronto, o Air Canada Centre.
O valor estimado do grupo seria em torno de US$ 1 bilhão, e, de acordo com alguns repórteres da mídia de Toronto, o grupo Rogers estaria disposto a pagar US$ 1,3 bilhão para se tornar o dono do grupo esportivo mais rentável da América do Norte. Isso mesmo, você não leu errado. Os Leafs são o time mais lucrativo da NHL apesar não ganhar uma Copa Stanley desde a década de 60!!
Tudo bem, ajuda ser lucrativo quando sua arena permanece cheia e você não gasta muito em salários para ter um time medíocre, como os Leafs têm tido nos últimos anos. Mas não deixa de ser surpreendente o fato de ser o mais lucrativo de todos.
Imaginem então se esse time resolvesse ameaçar ganhar alguma coisa, ou até mesmo chegar novamente a uma final de Copa Stanley! Seria dinheiro até dizer basta que rolaria na principal cidade da província de Ontário.
Inclusive esse é um dos argumentos que utilizam os que defendem a existência de um time de hóquei em Hamilton, afinal de contas um mercado tão rentável e tão fiel ao esporte comportaria tranquilamente um outro time de hóquei, principalmente quando comparamos com Nova York, onde o hóquei não está nem entre os três preferidos pela população local e mesmo assim existem três times na região (Rangers, Islanders e Devils). Se Nova York comporta três times, por que o principal mercado em termos de faturamento e potencial consumidor no planeta não comportaria?
O fato é que o fundo de pensão dos professores de Ontário não está colocando o negócio à venda, mas se uma boa proposta aparecer, eles estão abertos para negociar, afinal de contas, pagando bem, que mal tem?
Agora, o surpreendente mesmo foi ver na mídia do Québec essa semana ventilarem a hipótese da franquia Edmonton Oilers se transferir para Québec. Primeiro porque os Oilers oficialmente não estariam à venda, segundo porque Québec ainda não tem sua nova arena exigida pela NHL para que uma nova franquia na cidade possa ser considerada, e terceiro porque se encaixaria bem demais nos planos da cidade de Québec receber uma franquia de hóquei e ao mesmo tempo dar uma rasteira na província de Alberta.
Os apressados de plantão e defensores das teorias de conspiração imediatamente fizeram a ligação entre uma visita recente dos proprietários e do gerente dos Oilers à direção da NHL em Nova York como sendo uma sondagem sobre a possível aprovação da direção da liga para uma pouco provável venda e realocação da franquia para Québec.
O que existe de verdade na história toda? Muito simples, caro leitor. Os Oilers e a cidade de Edmonton têm planos de construir uma nova arena na cidade para substituir o atual (e defasado) lar dos Oilers por uma arena topo de linha, estado da arte, da mesma maneira que a cidade de Québec tenta a todo custo erigir também uma nova e moderna arena para poder receber uma nova franquia da NHL (que tem sido chamado aqui de “o retorno dos Nordiques para Québec”) e ao mesmo tempo se habilitar a concorrer para sedia uma edição dos jogos olímpicos de inverno em 2022 ou 2026.
Então, oficialmente, o encontro entre os proprietários e a gerência dos Oilers com o prefeito de Québec nada mais seria do que um encontro para troca de informações entre grupos que almejam a mesma coisa e têm encontrado problemas semelhantes.
Um dos problemas para a nova arena dos Oilers é que o projeto inicial da nova arena estima contar com uma parcela de dinheiro proveniente dos contribuintes da cidade de Edmonton e da província de Alberta. Relatos dão conta ainda que eles também estariam à procura de financiamento do governo federal, o que colocaria o projeto de Edmonton na mesma barca furada do projeto de Québec: o governo federal do Canadá tem se recusado sistematicamente a financiar tais projetos, e abrir uma exceção forçosamente abriria um precedente bastante perigoso.
Como parte da mídia costuma ver fumaça onde não há fogo, e às vezes tentar criar o fogo a todo custo, a conexão entre a visita dos Oilers a Bettman em New York, seguida da visita dos Oilers ao prefeito de Québec só poderia significar uma coisa: os Oilers podem virar os Nordiques. Será?
A favor dessa hipótese jogaria uma certa resistência que os Oilers têm encontrado por parte da cidade de Edmonton e alguns “defensores” dos contribuintes que se oporiam a uma participação direta na construção da nova arena, o que teria feito o Grupo Katz (proprietário majoritário dos Oilers) pensar na possibilidade de realocar a franquia caso o seu projeto de uma nova casa não fosse aprovado. Obviamente, a gerência dos Oilers foi bastante rápida em negar toda e qualquer possibilidade de veracidade dos relatos que surgiram durante a semana.
Isso tudo poderia ser evitado se a NHL fosse mais direta em suas respostas às demandas da cidade de Québec, onde virou uma verdadeira obsessão a idéia de ter novamente uma franquia da NHL, seja ela chamada de Nordiques ou qualquer outro nome que seja, contanto que a cidade volte a fazer parte do mapa da liga.
Enfim, só nos resta aguardar para ver se realmente existe pelo menos a fumaça, que dirá então o fogo, nesse assunto.
Alessander Laurentino se deu conta que camarão é mais barato em Montréal do que no Brasil.