Por: Humberto Fernandes

Na semana em que o Toronto Maple Leafs é derrotado pelo Vancouver Canucks, a torcida tem um ótimo motivo para apreciar com bons olhos a visita dos rivais canadenses: os Canucks de hoje são os Maple Leafs de ontem, o que deixa no ar a esperança de que os Maple Leafs de hoje sejam os Canucks de amanhã.

Por trás do sucesso recente do Vancouver, ainda que a equipe não tenha repetido nos playoffs o mesmo desempenho da temporada regular, estão Brian Burke e Dave Nonis, respectivamente gerente geral e vice-presidente do Toronto. Entre 1998 e 2004, Burke foi o cérebro dos Canucks, fazendo a equipe subir das últimas para as primeiras posições da Conferência Oeste, sendo sucedido por Nonis, que ocupou o cargo até 2008 e manteve o time como um dos mais competitivos da liga. A lista de jogadores fundamentais do time atual, recrutados e adquiridos pela dupla durante uma década, é longa.

Quando chegou a Vancouver, Burke encontrou um time falido e abandonado pela torcida. Em sua primeira temporada, os Canucks conquistaram apenas 58 pontos, bom o bastante para a penúltima posição geral na liga e para a terceira escolha geral do recrutamento.

De olho em dois dos prospectos mais cobiçados, o gerente geral traçou uma estratégia de guerra para garantir que os atacantes seriam seus. Primeiro, Burke trocou o defensor Bryan McCabe e a escolha de primeira rodada de 2000 ou 2001 pela escolha de primeira rodada do Chicago Blackhawks (a quarta geral). Depois, a quarta escolha geral foi trocada juntamente com duas escolhas de terceira rodada de 1999 para o Tampa Bay Lightning pela escolha de primeira rodada (a primeira geral). Em seguida, a primeira escolha geral, mais uma escolha condicional de terceira rodada de 2000, foi trocada para o Atlanta Thrashers pela escolha de primeira rodada (a segunda geral), com a condição de que os Thrashers não escolhessem um dos dois jogadores que interessavam ao Vancouver. Foi assim que os irmãos Daniel e Henrik Sedin se tornaram jogadores dos Canucks.

Duas temporadas mais tarde, os Canucks voltaram aos playoffs após um hiato de quatro anos. O time foi varrido ainda na primeira fase pelo Colorado Avalanche, mas o fato de estar entre os 16 melhores da liga confirmava que o trabalho da gerência estava sendo bem feito. No recrutamento, Burke garimpou o defensor Kevin Bieksa na quinta rodada. No ano seguinte, nova classificação para os playoffs, seguida de nova eliminação na primeira fase, desta vez diante do Detroit Red Wings e depois de vencer dois jogos.

Em 2002-03, os Canucks superaram a marca de cem pontos (com 104) pela primeira vez em dez anos e venceram um confronto de playoffs (4-3 contra o St. Louis Blues) pela primeira vez em oito anos. A equipe foi eliminada na segunda fase pelo Minnesota Wild em sete jogos. Com a 23.ª escolha geral, Burke selecionou Ryan Kesler.

O último ano de Burke à frente dos Canucks foi marcado pelo primeiro título de divisão em 11 anos e pela eliminação ainda na primeira fase dos playoffs contra o Calgary Flames em sete jogos. Ao fim da temporada, o gerente não teve seu contrato renovado. Nonis, então seu braço-direito, assumiu o posto e continuou o bom trabalho, selecionando no recrutamento Cory Schneider e Alexander Edler, em 2004, e Mason Raymond, em 2005.

A principal jogada de Nonis como gerente geral foi realizada pouco antes do começo da temporada 2006-07. Nonis adquiriu Roberto Luongo, já à época um dos melhores goleiros da liga, em troca do atacante Todd Bertuzzi, do defensor Bryan Allen e do goleiro Alex Auld. Até mesmo Luongo se surpreendeu com a troca. Sua chegada pôs fim ao "cemitério de goleiros" de Vancouver (termo inventado por Burke), que durante mais de sete anos viu 18 goleiros fracassarem pela equipe.

O time dos Canucks que derrotou os Maple Leafs no sábado é uma criação da dupla que hoje dirige o Toronto. Enquanto o Vancouver lidera a Divisão Noroeste com folga, sendo um dos favoritos ao título da Copa Stanley, o Toronto se aproxima da lanterna da Conferência Leste, com 11 derrotas nos últimos 12 jogos e um elenco que nem se compara ao do adversário. O maior problema dos Maple Leafs é a anemia ofensiva. O time tem o terceiro pior ataque da liga, com 35 gols marcados em 16 jogos, contrastando com o começo de temporada empolgante, em que venceu seus quatro primeiros jogos marcando 16 gols.

Até o garoto Nazem Kadri, de 20 anos, recrutado por Burke em 2009, foi convocado para o time principal para tentar acelerar o ataque, mas em pouco mais de 18 minutos de jogo contra os Canucks ele não conseguiu mudar o rumo da partida.

Se aproxima o aniversário de dois anos de Burke e Nonis à frente dos Maple Leafs e a equipe permanece como uma das piores da liga. Burke reconhece que não fez um ótimo trabalho no período, mas ainda que não diga isso, ele sabe que o Toronto evoluiu consideravelmente nos últimos 23 meses, afinal não se trata de um gerente de primeira viagem. Sua experiência em Vancouver trabalha a favor.

É por isso que a visita dos Canucks a Toronto trouxe, além da derrota, a esperança de um futuro melhor.

Humberto Fernandes virou acionista da bolsa de valores.

Abelimages/Getty Images
O sucesso atual do Vancouver Canucks é, em grande parte, fruto do trabalho de Brian Burke e Dave Nonis.
(13/11/2010)

AP
O azul é diferente, mas o Toronto Maple Leafs quer ter o mesmo presente dos Canucks.
(13/11/2010)

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Página publicada em 14 de novembro de 2010.