Por: Humberto Fernandes

Bloqueio de primeira, segunda e terceira
Um disco de hóquei, composto de borracha vulcanizada, tem 25 mm de largura, 76 mm de diâmetro e pesa cerca de 170 gramas. Ao ser acertado pelo taco de um jogador, pode atingir velocidades acima de 160 Km/h.

Imagine-se no meio do caminho entre o disco viajando a mais de 160 Km/h e um defensor de 1,96 m e 100 Kg que empregou toda a sua força para chutá-lo em direção ao gol. Não uma, nem duas, mas três vezes.

Foi o que aconteceu com Nicklas Backstrom, atacante do Washington Capitals. Com sua equipe em desvantagem numérica de 4-contra-3, Backstrom se viu diante de Kurtis Foster, do Tampa Bay Lightning.

Após bloquear o primeiro chute, Backstrom tentou isolar o disco, mas seu taco se quebrou. Os Capitals, então, ficaram com dois jogadores e meio no gelo, porque, sem taco, o máximo que o sueco poderia fazer era usar seu corpo como escudo para proteger a meta do goleiro Semyon Varlamov.

Veio o segundo chute, bloqueado por Backstrom com as pernas. Veio o terceiro e, de novo, lá estava ele para interceptar o chute. Na sequência, Varlamov defendeu a tentativa de Steven Stamkos. O público presente no Verizon Center ficou de pé para aplaudir freneticamente o jogador. Três chutes bloqueados, sendo dois sem o taco.

Com 80 pontos na temporada e média superior a um ponto por jogo em sua carreira, Backstrom não precisava sacrificar-se desta maneira, ainda mais no time que é líder de toda a NHL. Mas é disso que são feitos os jogadores de hóquei — ou, pelo menos, uma grande parte deles.

"(Boudreau) me colocou lá e eu quis fazer um bom trabalho," disse Backstrom. "É óbvio que você tem que bloquear chutes se está matando penalidades."

A dedicação do jogador encorajou todo o time, que anulou as três penalidades cometidas e manteve a liderança no jogo, vencido por 5-4.

Apesar de protagonizar o turno do ano, Backstrom não é candidato ao Troféu Selke, concedido ao melhor atacante defensivo da temporada. Seus números são muito modestos para esta categoria — 64 trancos, 51 chutes bloqueados, 43 discos roubados, 50% de faceoffs e apenas 1:05 por jogo em desvantagem numérica.


A segunda vez a gente nunca esquece
Já viu o Stamkos?

Na temporada passada, a sua primeira na NHL, Stamkos decepcionou, contrariando aqueles que o indicavam como o favorito para o Troféu Calder.

Foi apenas no nono jogo daquela temporada que ele marcou o primeiro (e o segundo) gol de sua carreira. Ao fim de 2008, Stamkos aparecia com apenas quatro gols e 14 pontos na artilharia, muito pouco para quem havia sido recrutado com a primeira escolha geral do recrutamento.

Em meados de fevereiro de 2009, Stamkos tornou-se o segundo jogador mais jovem da história da NHL a marcar um hat trick natural, na derrota do Lightning para o Chicago por 5-3. A partir dali, sua sorte mudou. Nos últimos 26 jogos daquela temporada, o central marcou 16 gols, imprimindo o ritmo de quem poderia alcançar os 50 gols em uma campanha inteira.

Já em sua segunda temporada, aos 20 anos recém-completos, Stamkos está a caminho de se tornar o terceiro jogador mais jovem de todos os tempos a marcar 50 gols em uma temporada. Com 41 tentos em 65 jogos, falta muito pouco para que ele entre positivamente para a história.

Uma rápida pesquisa mostra que Stamkos marcou mais gols em seus dois primeiros anos na NHL que jogadores renomados como Sergei Fedorov, Joe Sakic, Rick Nash, Mike Modano, Mats Sundin e Eric Staal. Se alcançar os 50 na temporada, somará 73 em sua carreira, subindo para a 23.ª posição geral nesta lista, ultrapassando Ilya Kovalchuk, Dany Heatley, Marcel Dionne e Steve Yzerman, entre outros. Não é pouco.

Stamkos já está na história do Tampa Bay por estabelecer o recorde de gols em vantagem numérica em uma temporada, com 17. Ainda mais impressionante, ele detém a maior marca da atualidade de pontos em jogos consecutivos, com 16 gols e 31 pontos em 17 jogos, o que também constitui um recorde em sua equipe. O atacante marcou gol nos últimos seis jogos e em nove de dez — atualmente, é como se o placar já começasse com 1-0 a favor do Lightning: gol de Stamkos.

A virada de Stamkos tem o dedo do ex-jogador Gary Roberts, que atuou por 21 temporadas na NHL até se aposentar no ano passado. Durante as férias, Roberts inspecionou o treinamento de Stamkos em Toronto, algo que foi de enorme contribuição para o sucesso do jogador do Tampa Bay.

"Aquilo me ajudou muito," disse Stamkos. "Eu aprendi muito sobre o que deveria melhorar. Há certos aspectos no meu jogo que melhoraram por causa disso, e eu estarei lá novamente no verão trabalhando duro. Isso definitivamente me deu um algo mais para esta temporada."

Roberts, agora com 43 anos, está prestes a trabalhar profissionalmente no ramo de preparação física, com foco nos jogadores de hóquei de 17 e 18 anos de idade. Com um garoto propaganda de 50 gols na temporada, seu negócio será um sucesso.

Humberto Fernandes acompanha a NHL há dez anos.

Jim McIsaac/Getty Images
Nicklas Backstrom protagonizou o turno do ano, ao bloquear consecutivamente três chutes, sendo dois sem o taco.
(04/02/2010)

Jim McIsaac/Getty Images
Neste ano, todo mundo já viu o Stamkos. Várias vezes, até.
(19/01/2010)

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Página publicada em 12 de março de 2010.