Por: Marcelo Constantino

Na última terça-feira a Conferência Sul presenciou o confronto entre os dois times que atualmente (supostamente) brigam pela oitava vaga para os playoffs. Detroit Red Wings e Calgary Flames arrastam-se pela temporada, ambos jogando de forma irregular e bem abaixo do esperado, mais parecem brigar para ficar de fora do que entrar para os playoffs. Mas ao menos era de se esperar um jogo brigado. Afinal, se o Detroit vencesse, se distanciaria do então 9º colocado. Se o Calgary vencesse, tomaria a oitava posição do adversário.

O Calgary venceu. Da mesma forma que vários outros venceram os Red Wings nesta temporada: no terceiro período, revertendo a vantagem, virando o jogo. Senão vejamos:

No citado jogo de terça, o Detroit vencia por 2-1 no começo do terceiro período, mas deixou o adversário virar para 3-2 e assegurar a vitória com um gol em rede vazia.

No jogo anterior, no domingo, os Wings abriram uma incrível vantagem de 5-2 sobre o Chicago Blackhawks no segundo período, mas deixaram o adversário encostar no terceiro, encurtando a vantagem para 5-4. Apesar de mais um apagão no terceiro período, daquela vez ficou no “quase”: eles conseguiram segurar a vantagem. Um raro momento.

Antes das Olimpíadas, no dia 6 de fevereiro, o Detroit abriu 3-0 sobre o Los Angeles Kings. Os Kings viraram o jogo e venceram por 4-3.

Em 26 de janeiro o Detroit abriu uma vantagem de 4-2 sobre o Phoenix Coyotes. Mas permitiu que o bravo time adversário empatasse marcando duas vezes nos últimos 90 segundos. Não apenas isso, o Detroit permitiu o trabalho completo: os Coytoes venceram na prorrogação.

Em 23 de janeiro, o Detroit abriu 2-0 contra os Kings. Os Kings viraram e venceram por 3-2.

Dois dias antes, o Detroit chegou a abrir 3-1 contra o Minnesota Wild, mas deixou o adversário empatar. Daquela vez ao menos o time de Michigan conseguiu vencer na disputa de pênaltis — outro momento raro do time nesta temporada.

Esses apagões não são novidade para o Detroit. Nas rodadas iniciais dos playoffs de 2007 e 2008 (sobretudo na série contra o Nashville Predators) o time geralmente apagava no fim, de forma muito parecida que nos jogos citados acima. O que acontece? Não sei. É uma característica (até então adormecida e agora ressurgida?) do time. Vai entender.

Por que o fracasso?
Numa temporada ruim, de longe a pior do Detroit desde 1997, geralmente a imprensa (local e nacional) tem apontado a grande quantidade de contusões que assolou o time ao longo da temporada como a principal razão para o fracasso do time (o fato de o time ainda esta brigando por uma vaga nos playoffs a esta altura sem sequer estar entre os oito primeiros do Oeste, permite classificarmos antecipadamente esta temporada como fracassada, dadas as expectativas e a folha de pagamento do time — até que nos provem o contrário).

É um erro, embora seja uma saída fácil, apontar as contusões como o grande motivo do fracasso. Fossem as contusões, poderíamos dizer que o time foi batalhador ao longo da temporada, apesar dos desfalques. Que as estrelas do time (os três maiores jogadores do time perderam muito poucos jogos nesta temporada) agüentaram o peso do time nas costas durante esse período, trazendo a responsabilidade para si. Que alguns jogos poderiam ser vencidos, caso o time tivesse esse ou aquele importante jogador (Franzen, Kronwall). Que outros jogadores (Ville Leino, Darren Helm, Justin Abdelkader), tendo mais tempo de jogo, produziram mais em função da ausência dos contundidos — era chance que eles queriam.

Nada disso aconteceu. E a atitude do time de hoje, praticamente completo, não difere muito do time desfalcado que atuou por quase toda a temporada.

Os jogadores contundidos retornaram — até mesmo Andréas Lilja, comumente esculhambado em Detroit, passou a ser considerado “desfalque” e, com a volta, “reforço” —, e o panorama mudou muito pouco. O time segue penando para conseguir alguma regularidade. Suas estrelas ofensivas seguem devendo. Pavel Datsyuk até apresenta uma melhora mais sensível de rendimento, mas Henrik Zetterberg vem deixando muito a desejar. Não que esteja exatamente mal, mas em vários jogos o sueco parece ser apenas mais um atacante mediano no elenco.

Outra Geni geralmente escalada para a posição de grande culpado pela má temporada do time chama-se Todd Bertuzzi. Outro engano. Bertuzzi de fato é uma excrescência defensiva para os padrões do Detroit, mas acredito que ele seja mais (pré-)julgado pelo crime que cometeu contra Steve Moore e por um dia já ter sido um dos maiores destaques da liga do que pelo que efetivamente contribui. Se você apagar esse passado do histórico dele, talvez conclua que ele não faz uma má temporada com o time. No máximo ele está na média geral. Que não anda muito boa, claro.

Qual o motivo para o fracasso, então? Também não sei. Provavelmente é um conjunto de fatores que contagia todo o elenco. Porque praticamente ninguém se salva — exceção única e notável para o calouro goleiro Jimmy Howard.

Vai?
O Detroit pode tranqüilamente conseguir a classificação para os playoffs. Pode até surpreender a todos e chegar quente na reta final, eventualmente até abraçando alguma posição acima da oitava colocação. Há tempo de sobra para isso. Há, em tese, qualidade e experiência de sobra no elenco para isso. Mas o time segue nessa lenga-lenga de chove-não-molha de oitava ou nona colocação há semanas. Ou meses. Já esteve pior, é verdade. Mas o panorama mudou muito pouco.

Não sei exatamente como um técnico pode mudar isso — é uma questão de atitude, passa pela psicologia entre treinador-jogador – mas eu começaria por trabalhar para alterar radicalmente essa incrível incapacidade de manter uma vantagem conquistada. Talvez seja a chave ao menos para um fim de temporada digno.

Marcelo Constantino recomenda "Umbigo Sem Fundo", de Dash Shaw.

AP
Jarome Iginla não marcava contra o Detroit Red Wings havia anos. Mas marcou o gol da vitória na última terça-feira, levando o Calgary Flames á oitava colocação da Conferência Oeste e empurrando o Detroit para a nona.
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Página publicada em 11 de março de 2010.